Práticas discursivas e modos de subjetivação no ensino médio particular

Este trabalho realiza a análise de práticas discursivas e modos de subjetivação no ensino médio particular, problematizando as finalidades desta etapa educacional. Os estudos de nível médio no Brasil têm sua constituição histórica marcada pela dualidade entre as finalidades profissionalizante e prep...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Gasperin, Ângela Garziera
Other Authors: Stein, Sofia Albornoz
Language:Portuguese
Published: 2014
Subjects:
Online Access:https://repositorio.ucs.br/handle/11338/509
Description
Summary:Este trabalho realiza a análise de práticas discursivas e modos de subjetivação no ensino médio particular, problematizando as finalidades desta etapa educacional. Os estudos de nível médio no Brasil têm sua constituição histórica marcada pela dualidade entre as finalidades profissionalizante e preparatória para o ensino superior. Parte-se do referencial foucaultiano que compreende a produção de subjetivação a partir dos regimes de saber disponíveis em uma sociedade. Assim, as práticas discursivas, ao produzirem objetos de saber, estruturam o campo de ação dos sujeitos, materializando-se em técnicas diversas, entre as quais situam-se os dispositivos pedagógicos. A fim de cumprir o objetivo deste estudo, foram realizadas entrevistas junto a dez professores de uma escola particular, cujos depoimentos foram submetidos à análise textual discursiva proposta por Moraes (2003) e à análise do discurso de orientação foucaultiana, subsidiada pelo trabalho de Willig (2001). A análise dos dados coletados demonstrou que a produção discursiva do ensino médio enfatiza sua finalidade preparatória para o ingresso no ensino superior, o que se concretiza em uma série de práticas pedagógicas. O acesso a um curso superior é tido como a forma de profissionalização dos egressos de ensino médio. Observa-se, igualmente, que a formação cidadã e a preparação para a vida são remetidas à escolha de um trabalho, relacionada, por sua vez, à constituição identitária. As práticas pedagógicas produzidas por este discurso promovem uma relação com o conhecimento pautada pelo consumo deste com vistas à ascensão social. Há pouco espaço, neste sistema de ensino, para o prazer de aprender, já que as aulas são especialmente conduzidas pelos professores e restringem-se à memorização de informações que caem no vestibular. Os sujeitos educacionais não podem lançar questões que lhes mobilizem, pois têm que atender aos requisitos do vestibular. Ao estruturar o campo de ação dos atores educacionais, os discursos que vinculam a escola média ao vestibular limitam o atendimento de outras finalidades educacionais. Acredita-se que o melhor a fazer no ensino médio é capacitar os estudantes para o trabalho. Assim, constituem-se projetos de vida individualizados, que tornam difícil a implicação dos sujeitos em aspectos da vida coletiva. Enfim, o ensino médio na escola particular porta traços elitistas, já que se ocupa especialmente de preparar seus estudantes para o ingresso no ensino superior. Além disso, evidencia-se a ação dos mecanismos disciplinares escolares que produzem individualização e docilização dos corpos, que submetem-se, deste modo, às demandas do sistema produtivo sem opor-lhes questionamentos. Ademais, a psicologização do saber escolar promove o governamento dos indivíduos, na medida em que controla suas condutas de forma muito sutil. Produz-se, diante disso, o questionamento acerca da possibilidade de que os saberes escolares problematizados favoreçam processos de invenção de si em detrimento de promover a moldagem dos sujeitos a preceitos produtivistas, desmobilizando-os politicamente. No entanto, é apenas fazendo mover os discursos produtores do ensino médio que se pode passar a imaginar outras possibilidades de subjetivação. Esta é a contribuição que o presente estudo apresenta, abrindo espaço para novas problematizações sobre cultura juvenil, políticas educacionais e de formação de professores. === Submitted by Marcelo Teixeira (mvteixeira@ucs.br) on 2014-06-02T16:50:05Z No. of bitstreams: 1 Dissertacao Angela Garziera Gasperin.pdf: 1249566 bytes, checksum: 6412ae9b61d79a9d6a305d725d8bf69a (MD5) === Made available in DSpace on 2014-06-02T16:50:05Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Dissertacao Angela Garziera Gasperin.pdf: 1249566 bytes, checksum: 6412ae9b61d79a9d6a305d725d8bf69a (MD5) === This work analyzes discursive practice and modes of subjectification in private high school, questioning the purposes of this stage of education. In Brazil, high school has had, over the years, distinct purposes, either preparing students for entrance examinations or providing them with profissional training. This analysis is done based on Foucault´s theoretical reference that production of subjectivity is made possible by knowledge available in our society. Discursive practice produces objects of knowledge, structuring individuals´ actions through various techniques, among which are pedagogical devices. In order to achieve the aim of this study, interviews were conducted with ten teachers from a private school, whose statements were submitted to textual discourse analysis proposed by Moraes (2003) and foucauldian discourse analysis supported by Willig (2001). This research has shown that the discursive production of high school emphasizes preparation for entrance examinations, which gives form to a series of educational practices. Access to university is seen as the professional project for high school graduates. Civic education and preparation for life in its cultural, political and social aspects are not considered as important as students´ training for entrance examinations. It is possible to infer, from the research findings, that it is largely believed that the formation of identity relies on labor. Pedagogical practice produced by this discourse promotes a relationship with knowledge that matches its consumption with social mobility. There is no room in this school system for the pleasure of learning, for the classes are conducted especially by teachers and are restricted to memorizing information required by entrance examinations. Individuals can not ask their own questions, giving rise to issues that mobilize them, because they have to meet the requirements of exams. By structuring pedagogical practices this way, this discourse prevents other purposes for high school education from arising. It is believed that the best thing to do in high school is to prepare students for their profession. Thus, school knowledge supports individual life projects, which impairs subjects´ involvement in collective life. Private high school has shown elitist traits, since it focuses specifically on preparing students to college. Moreover, it is clear that school disciplinary mechanisms produce individualization and docile bodies, undergoing subjects to the demands of the production system, which are never put into question. Besides, the psychologizing of school knowledge promotes the government of individuals, controlling their behavior in a very subtle way. A question that arises from this study is whether the problematization of school knowledge can promote the process of "self-invention" rather than molding subjects to productivity demands, undermining their political action. However, it is just by putting into question high school discursive production that there is a chance we think of other possibilities of subjectification. Therefore, this study contributes for the problematization on youth culture, education policy and teacher training.