Summary: | Esta pesquisa tem como objetivo empreender algumas reflexões concernentes às práticas de leitura de textos literários no ensino fundamental, no âmbito de um programa de enriquecimento curricular da SEE -SP, a HORA DA LEITURA. Visamos compreender o por que o professor de Língua Portuguesa sente dificuldade em realizar uma prática de leitura de textos literários sob uma perspectiva mais lúdica e prazerosa. A justificativa para esse trabalho repousa na constatação de que as práticas de leitura delineadas em sala de aula têm sido apontadas como co-responsáveis pelos déficits diagnosticados nos exames de avaliações oficiais, como o SAEB e o PISA, e pelo afastamento da criança da literatura. A escola, instituição privilegiada para o desenvolvimento do gosto pela leitura literária, acaba, paradoxalmente, inviabilizando uma formação leitora compatível com as competências que é preciso desenvolver para fruir satisfatoriamente o texto literário, por meio de práticas descontextualizadas, não-estimulantes, que não buscam a fruição textual. Como fundamentação, discutimos a especificidade do texto literário e a importância da literatura na formação integral do homem e no desenvolvimento de um comportamento leitor (Cândido, 1972, 1995; Coelho, 2000; Eco, 2003). Em função disto, destacamos, também, no âmbito escolar, a necessidade de se abordar o texto literário sob uma perspectiva diferenciada, segundo a qual a ludicidade e o prazer se façam presentes (Geraldi, 2006; Semeghini- Siqueira, 1994, 2006), e o papel do professor-mediador na elaboração de práticas significativas de leitura (Lajolo, 1993; Zilberman, 2003). Da mesma forma, ressaltamos a relevância da constituição adequada de espaços de leitura, como a biblioteca escolar, para um trabalho significativo com a leitura. Para tanto, empreendemos estudos baseados em Macedo (2005), Silva (1993) e Soares (2001). Participaram desta pesquisa 34 professores da HORA DA LEITURA que faziam parte de uma mesma Diretoria de Ensino, e aos quais foram aplicados questionários. Entre esses professores, foi escolhida uma professora, em cuja sala realizamos uma pesquisa de cunho etnográfico, observando de forma sistemática como eram realizadas as práticas de leitura de textos literários na sala de aula e na biblioteca escolar. Os resultados obtidos indicam que a dificuldade do professor de Língua Portuguesa, em implementar uma prática diferenciada advém de uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos à escola, a saber: o educador está habituado a cultivar crenças já arraigadas em nossa sociedade, segundo as quais as crianças não gostam de ler, especialmente os clássicos; limitado por uma formação inicial e contínua deficiente, e, também, por uma vivência insuficiente com a leitura, o professor tem demonstrado, em sua prática pedagógica, as implicações metodológicas das suas concepções, por meio da escolha das obras trabalhadas, do ambiente criado para leitura e da abordagem realizada, que não possibilitam à criança criar uma intimidade maior com os livros e a leitura. Além disso, consideramos que um entrave encontrado no interior das escolas é já endêmico em nosso país: a falta de recursos físicos e humanos, principalmente nos espaços propícios para a leitura, como a biblioteca escolar, dificulta, sobremaneira, um trabalho de cunho lúdico-artístico com o texto literário. Ademais, observamos que o professor enfrenta uma resistência velada dos alunos ao abordar a obra literária, já que os educandos do século XXI, face às grandes transformações sociais, tecnológicas e culturais, têm construído uma nova relação com a leitura e a literatura. Detectamos, ainda, no que se refere à formação continuada dos professores, os complexos caminhos percorridos entre a idealização dos projetos criados pelas políticas públicas e sua efetivação em sala de aula. Em decorrência disto, destacamos a descontinuidade dos cursos de formação continuada e os entraves vivenciados pelos professores em suas escolas, como a falta de espaço e tempo para uma reflexão sobre suas práticas.
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The purpose of this research is to undertake some reflections concerning the reading practice of literary texts in the Brazilian Elementary and Middle School (\"Ensino Fundamental\") within the scope of a curriculum enrichment program of the São Paulo State Secretary of Education (SEE-SP), called \"HORA DA LEITURA\" (TIME FOR READING). Our aim is to understand why the Portuguese Language teacher feels it very difficult to conduct a reading practice of literary texts under a more ludic and pleasant perspective. The justification for this work lies on the discovery that the reading practices performed in classroom have been appointed as co-responsible for deficiencies diagnosed in official assessment tests, such as the National System for Assessment of Basic Education (SAEB) and the Program for International Student Assessment (PISA), and for the child\'s retreat from literature. The school, a privileged institution for developing the taste for literary reading, eventually and paradoxically makes it unviable to acquire reading education compatible with the competencies it is necessary to develop in order to enjoy the literary text satisfactorily, by using out-of-context and non-exciting practices that do not look for the text fruition. To establish our grounds, we discuss the specificity of the literary text and the importance of literature in the complete education of man and in the development of a reading behavior (Cândido, 1972, 1995; Coelho, 2000; Eco, 2003). In connection therewith, we also point out, within the scope of school, the need of addressing the literary text under a differentiated perspective, in which playfulness and pleasure are present (Geraldi, 2006; Semeghini-Siqueira, 1994, 2006), and the teacher-mediator\'s role in preparing significant reading practices (Lajolo, 1993; Zilberman, 2003). In the same way, we point out the relevance of properly organizing reading spaces, such as the school library, for a significant work with reading . For such purpose, we have undertaken studies based on Macedo (2005), Silva (1993) and Soares (2001). This research had the participation of 34 teachers of the TIME FOR READING program who were part of the same Teaching Board, and to whom questionnaires were administered. Among these teachers, a woman teacher was chosen in whose classroom we performed a research of ethnographic nature, observing on systematic basis how the reading practices of literary texts were conducted in classroom and in the school library. The results achieved indicate that the difficulty of the Portuguese Language teacher to implement a differentiated practice results from a series of factors intrinsic and extrinsic to school, to wit: the educator is used to cultivating beliefs already deeply rooted in our society, according to which children do not like reading, particularly the classics and, limited by a deficient initial and continuous education and also by insufficient reading experience, this educator has been showing, in his pedagogical practice, the methodological implications of such concepts, through the works selected for study, the environment created for reading and the approach made, which do not enable the child to create a greater intimacy with the books and the reading. In addition, we consider that an obstacle found inside the schools and already endemic in our country, which is the lack of physical and human resources, primarily in spaces adequate for reading, such as the school library, makes it overly difficult to perform a work of ludic-artistic nature with the literary text. Additionally, we have noticed that the teacher faces a veiled resistance from children when addressing literary work, since students of the 21st Century, in view of the great social, technological and cultural transformations, have been building a new relationship with reading and literature. We have further detected, as regards the teachers\' continuing education, the complex paths taken between the idealization of projects created by public policies and the consummation thereof in classroom. As a result, we highlight the discontinuity of continuous education courses and the obstacles experienced by teachers in their schools, such as the lack of room and time for a reflection on their practices.
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