Que(m) nomeia a deficiência?

Este trabalho estuda os modos de produção discursiva do que se denomina, na atualidade, deficiência. Vale-se da análise institucional do discurso, proposta por Marlene Guirado, como referência teórico-metodológica em todas as etapas da pesquisa, em especial para a análise das entrevistas realizadas....

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Galvão, Lígia Ferreira
Other Authors: Guirado, Marlene
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2011
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-30112011-111315/
Description
Summary:Este trabalho estuda os modos de produção discursiva do que se denomina, na atualidade, deficiência. Vale-se da análise institucional do discurso, proposta por Marlene Guirado, como referência teórico-metodológica em todas as etapas da pesquisa, em especial para a análise das entrevistas realizadas. Estas trazem à cena o discurso de quatro pessoas (re)conhecidas como pessoas com deficiência e de seus familiares; todas as quatro matriculadas na rede municipal de ensino de uma cidade próxima à cidade de São Paulo. O período de realização das entrevistas (2008-2010) coincide com o momento em que as práticas vinculadas ao modelo tradicional de ensino ofertado àqueles alunos (educação especial) passam a ser substituídas por práticas enunciadas como visando outro modelo de ensino, denominado educação inclusiva. Também é analisado o discurso de seis educadores e seis profissionais de outras áreas, todos eles ligados direta ou indiretamente às quatro pessoas com deficiência e em contato direto ou indireto entre si, no cotidiano profissional. Analisadas uma a uma, as entrevistas são agrupadas primeiramente pela sua origem, a saber: pessoas e familiares; educadores e terapeutas. São analisadas as singularidades que se destacam em cada entrevista e as regularidades que se desenham pela repetição de termos e expressões no entrecruzamento desses discursos. Obtêm-se, dessa forma, categorias que não só constituem o campo discursivo específico do conjunto de entrevistas como indicam os gêneros discursivos e os modos particulares de dizer e colocar em circulação um discurso da deficiência. Assim efetivada, a análise permite afirmar que a deficiência, dita como falta, limitação, dificuldade; mostrada como imperfeição, doença, bloqueio, também é associada, pela negação, à capacidade/incapacidade dos sujeitos. A transitividade dos termos enunciados não é complementada senão com termos vagos e gerais, como artigos e pronomes indefinidos. Contrastada, no discurso, com as narrativas de experiências e histórias concretas de vida, em especial na fala das pessoas com deficiência e de seus familiares, a dimensão conceitual e abstrata da categoria deficiência parece não ter destaque na enunciação, dando lugar ao inefável da experiência humana === This is a study of modes of discourse production of the currently so-called disability. The institutional analysis of discourse as proposed by Marlene Guirado was used as a theoretical and methodological reference of the research study in all phases of this study, particularly in the analysis of the interviews. The interviews conveyed the discourses of four individuals known as people with disabilities and their families. The individuals were public school students from a town near the city of São Paulo, southeastern Brazil. The study was conducted during a transition period when the traditional model of special education was replaced with inclusive education. All interviews were carried out between 2008 and 2010. The discourses of six educators and six providers from other areas were also analyzed. They worked directly or indirectly with the individuals in study and maintained direct or indirect relationships between themselves during their daily work. The interviews were analyzed one by one and then grouped by their origin: individuals and their families; educators and therapists. Notable distinctive features and common characteristics of discourses evidenced by word repetition and use of similar expressions were examined. This analysis produced categories that not only marked specific discursive areas but also identified discourse genres and particular ways of expressing and conveying a discourse of disability. This analysis showed that disability articulated as lack, limitation, difficulty, and shown as imperfection, disease, and restraint is associated by denial with the subjects ability/inability. The transitivity of the terms used is complemented only with vague, general words such as articles and indefinite pronouns. The abstract conceptual dimension of the disability category contrasting with narratives of experiences and stories of real life, especially in the discourse of those with disabilities and their families, seems to have no highlight in the enunciation, giving rise to the inexpressible human experience