Summary: | Esta dissertação tem por objetivo analisar como professores iniciantes de francês como língua estrangeira se apropriam de um artefato, os jogos, transformando-o em instrumento para sua ação (RABARDEL, 1995). Escolhemos tratar dos jogos pois, apesar de ser uma prática amplamente difundida e tema recorrente de formações, poucos são os estudos que problematizam o uso dos jogos para a aprendizagem de língua estrangeira e muito menos os que o fazem do ponto de vista do professor que os utiliza. O mesmo silêncio quanto ao uso de jogos para o ensino pode ser constatado na leitura de diretrizes que orientam o trabalho do professor de francês, como o Cadre Européen Commun de Référence pour les Langues (CECRL). Tal constatação nos leva a crer que a escolha da utilização de jogos em sala de aula seja guiada por certo empirismo e que a melhor maneira de compreender o uso que deles fazem os professores é através da análise de situações reais de ensino do ponto de vista de seus protagonistas. Com o auxílio de um instrumento de intervenção formativa, a autoconfrontação (CLOT, 1999; 2001), os professores participantes desta pesquisa foram convidados a falar sobre imagens de suas aulas em que utilizavam jogos. Nosso corpus de pesquisa consiste nos textos de autoconfrontações realizadas com dois professores iniciantes e será analisado segundo os pressupostos teórico-metodológicos do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2004; BULEA, 2010). Assim como diversos trabalhos produzidos no Brasil (LOUSADA, 2006, 2011, MAZZILLO, 2006; BUENO, 2007, MACHADO, 2007; MACHADO et al., 2011), temos também como referência os estudos da Clínica da Atividade (CLOT, 1999; 2001) e da Ergonomia da Atividade (AMIGUES, 2003, 2004; SAUJAT, 2004; MOUTON et al., 2011; FELIX et al., 2008). Com base vigotskiana (VIGOTSKI, 1997), essas diferentes linhas teóricas fornecem subsídios para compreender, através da análise da linguagem, os dilemas encontrados por jovens professores durante o uso de jogos para o ensino e, mais amplamente, seu processo de apropriação de gestos do métier. Os resultados de nossas análises indicam que a utilização de um jogo demanda do professor o desenvolvimento de uma série de habilidades que dizem respeito não apenas à transposição de uma atividade de lazer para o contexto de ensino-aprendizagem, mas também a outras dimensões do trabalho docente, como o planejamento da atividade, a gestão da heterogeneidade do grupo, a repartição da atenção e a apropriação de outros artefatos pelo professor. Nesse sentido, o uso da autoconfrontação nos ajudou a desenvolver um outro olhar sobre a atividade docente, considerando-a como atividade que também ocorre no plano psicológico e, no caso do professor iniciante, como um agir em construção. === This paper aims to examine how beginning teachers of French as a foreign language appropriate themselves of an artifact, games, tansforming it into an instrument for their action (RABARDEL, 1995). We chose to deal with games because, despite being a widespread practice and recurring theme of workshops, there are few studies that problematize the use of games in foreign language courses, and much less those that do so from the point of view of the teacher who uses them. The same silence regarding the use of games for teaching can be found in guidelines uderlying the work of teachers of French, as the Cadre Européen Commun de Référence pour les Langues (CECRL). This leads us to believe that the choice of using games in the classroom is guided by certain empiricism, and that the best way to understand how teachers use games is through the analysis of actual teaching situations from the point of view of their protagonists. With the aid of an instrument of intervention, the selfconfrontation (CLOT, 1999, 2001), teachers participating in this research were asked to talk about videos taken from classes in which they used games. Our research corpus consists of the texts drawn from the self-confrontations conducted with two beginning teachers, and will be analyzed according to the theoretical and methodological assumptions of Socio-Discursive Interactionism (BRONCKART, 1999, 2004; BULEA, 2010). We are also based on studies of Clinic of Activity (CLOT, 1999, 2001) and Ergonomics of Activity (AMIGUES, 2003, 2004; SAUJAT, 2004; MOUTON et al., 2011; FELIX et al., 2008), as well as many works produced in Brazil (LOUSADA, 2006, 2011, MAZZILLO, 2006; BUENO, 2007, MACHADO, 2007; MACHADO et al., 2011). With a Vygotskian (VYGOTSKY, 1997) base, these different theoretical lines help us understand, through the analysis of language, the dilemmas faced by beginning teachers during the use of games in the classroom and, more broadly, during the appropriation process of the gestures of their métier. The results of our analyzes indicate that the use of a game requires the teacher to develop a set of skills that relate not only to the transposition of a leisure activity into the context of teaching and learning, but also to other dimensions of teaching, such as activity planning, management of the heterogeneity in the group, allocation of attention and appropriation of other artifacts by the teacher. In this sense, the use of self-confrontation helped us develop a different view of the teaching activity, considering it also as a psychological activity and, in the case of beginning teachers, as the construction of a way of acting.
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