Summary: | O coletivo de crianças em situação de vulnerabilidade é o grupo social mais exposto a constrangimentos que dificultam a tarefa de conhecer e pertencer à cidade onde moram. Nesse atual contexto e com orientação da perspectiva sociológica da infância, o objetivo dessa pesquisa foi conhecer e compreender as percepções de crianças vivendo condições complexas de vulnerabilidade, residentes na periferia, acerca de seu território na cidade de São Paulo, assim como conhecer as relações por elas estabelecidas com esses espaços. Tratou-se de uma pesquisa participativa de caráter colaborativo que utilizou o recurso metodológico do fotovoz. Foram realizados sete encontros com um grupo de cinco crianças entre 08 e 10 anos de idade em acompanhamento em um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSij) devido às situações complexas de vida e vulnerabilidade, mas sem transtornos mentais severos. Foi proposta a circulação coletiva pelos espaços de sentido no território para que as crianças registrassem em fotografia suas percepções cotidianas do espaço no qual vivem. Ademais, foi realizada uma exposição fotográfica aberta à comunidade a partir das seleções individuais de fotografias e discussões coletivas sobre a experiência, assim como encontros individuais de devolutiva com as crianças. O material verbal e imagético passou por análise temática em diálogo com diário de campo da pesquisadora. Os resultados contemplaram os retratos de cada criança participante, o processo de construção coletiva da pesquisa, o material fotográfico produzido pelas crianças a partir dos seus olhares e a exposição fotográfica intitulada \"Nosso Mundo\". Os registros fotográficos abordaram as seguintes categorias temáticas: (1) Corpo: experimentando a si mesmo e constituindo um grupo, (2) CAPSij: revisitando pela fotografia um espaço conhecido, (3) O território como lugar de desejo e consumo, (4) Percursos cotidianos e histórias de vida no território físico e existencial e (5) As sutilezas em meio ao concreto da cidade: território e natureza. Em diálogo com a literatura, foram apresentadas as reflexões teóricas sobre a circulação das crianças colaboradoras nos seus espaços de pertencimento, organizada em três argumentos principais: (1) Territórios existenciais: o corpo, lugares de vida e a circulação na cidade, (2) Produção de culturas da infância: as lógicas de consumo e a descoberta da natureza e (3) O fotovoz como recurso metodológico: protagonismo e processos de identificação social. Cada participante do estudo pode contribuir de maneira importante para o debate e análise do objeto de pesquisa e, consequentemente, para o processo de reconstrução da compreensão da infância na sociedade. O fotovoz permitiu os registros das experiências significativas da vida das crianças, a partir de suas perspectivas. A pesquisa revelou que as crianças têm um olhar crítico e complexo sobre seus espaços de circulação e pelas relações com esses estabelecidas. Um olhar permeado por suas singularidades de vida, atendo ao belo e à delicadeza da natureza em meio ao concreto cinza da cidade, dialogando constantemente com as culturas de massa e os valores sociais hegemônicos === The group of children in vulnerable condition is the social group most exposed to constraints that make it difficult to know and belong to the city where they live. In this current context and guided by the sociological perspective of childhood, the objective of this research was to know and understand the perceptions of children living in complex conditions of vulnerability, living in the periphery, about their territory in the city of São Paulo, as well as to know the relations they establish with these spaces. It was a participatory research of collaborative character that used the methodological resource of the photovoice. Seven meetings were held with a group of five children between 08 and 10 years of age, without severe mental disorders, being followed up at a Child and Adolescent Psychosocial Care Center (CAPSij) due to the complex life situations and vulnerability to which they are subjected. It was proposed the collective circulation through spaces of meaning in the territory so that the children recorded in photography their daily perceptions of the space in which they live. In addition, a photographic exhibition was held open to the community from the individual selections of photographs and collective discussions about the experience, as well as individual feedback meetings with the children. The verbal and imaginary material underwent a thematic analysis in dialogue with the researcher\'s field diary. The results included the portraits of each participating child, the collective construction process of the research, the photographic material produced by the children from their views and the photographic exhibition titled \"Our World\". The photographic records addressed the following thematic categories: (1) Body: experimenting with oneself and forming a group, (2) CAPSij: revisiting a known space through photography, (3) Territory as place of desire and consumption, everyday paths and life histories at a physical and existential territory and (5) The subtleties amidst the concrete of the city: territory and nature. In a dialogue with the literature, theoretical reflections on the circulation of the collaborating children in their spaces of belonging were presented, organized in three ideas: (1) Existential territories: the body, places of life and circulation in the city, (2) Production of childhood cultures: the logics of consumption and the discovery of nature and (3) The photovoice as a methodological resource: protagonism and processes of social identification. Each participant in the study was able to contribute in an important way to the debate and analysis of the object of research and, consequently, to the process of reconstructing the understanding of childhood in society. The photovoice allowed the records of the significant experiences of children\'s lives, from their perspectives. The research revealed that children have a critical and complex view at their spaces of circulation and their relationships with the established ones. A view permeated by their singularities of life, attending to the beautiful and the subtlety of nature amid the gray concrete of the city, constantly dialoguing with mass cultures and hegemonic social values
|