Carolina Maria de Jesus e a paixão pela escrita: um estudo sociolinguístico de Quarto de Despejo

Esta dissertação tem dois objetivos básicos: primeiro, investigar se há marcas de oralidade na linguagem narrativa e das personagens do livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977); segundo, examinar como essas manifestações se processam linguisticamente no...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Melo, Pedro da Silva de
Other Authors: Urbano, Hudinilson
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2014
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-27062014-104330/
Description
Summary:Esta dissertação tem dois objetivos básicos: primeiro, investigar se há marcas de oralidade na linguagem narrativa e das personagens do livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977); segundo, examinar como essas manifestações se processam linguisticamente no texto no plano lexical. Suscitam-se, portanto, duas perguntas: Primeira: Há em Quarto de despejo manifestações linguísticas da oralidade? Segunda: Em caso afirmativo, em que níveis essa oralidade se processa linguisticamente? Para responder a essas perguntas, temos a hipótese de que a língua falada foi aproveitada de maneira mais ou menos inconsciente pela autora de Quarto de despejo e que, entre vários níveis linguísticos, a oralidade se manifesta de maneira notável em nível lexical, por meio de um vocabulário de uso popular. Estudar-se-á como o léxico da linguagem narrativa e das personagens apresenta efeitos de língua falada, tornando o texto dinâmico e expressivo. Este trabalho está teoricamente fundamentado em pressupostos da Sociolinguística e da Estilística. A metodologia de trabalho envolveu várias leituras da obra, anotações de vocabulário e análises à luz da teoria proposta. Estabelecem-se relações entre fala e escrita, compreendidas não como uma dicotomia, mas como polos de um continuum tipológico. Nesse continuum, um gênero da escrita pode apresentar características da fala e vice-versa. Ressalte-se que, tendo em vista esse referencial teórico, a narrativa de Quarto de despejo não é considerada um texto oral, mas um texto escrito em cuja enunciação se evidencia a presença da oralidade graças a um leque de vocábulos expressivos. === This thesis has two basic goals: first, to investigate whether there are marks of orality in the narrative language and lines from the characters from the book \"Child of the dark: The diary of Carolina Maria de Jesus\", by Carolina Maria de Jesus (1914-1977); secondly, to examine how these manifestations are processed linguistically into the text on the lexical sphere. Two questions, therefore, are raised: First: are there linguistic manifestations of orality in Child of the dark? Second: if so, at what levels is this orality processed linguistically? To answer those questions, we hypothesized that the spoken language was used more or less unconsciously by the author of Child of the dark, and that between several linguistic levels, orality manifests itself in a remarkable manner in the lexical level, by use of a colloquial vocabulary. We shall study how the lexicon of the narrative language and of the characters has effects of the spoken language, making the text dynamic and expressive. This paper is theoretically grounded in assumptions of Sociolinguistic and Stylistic. The work methodology involved several readings of the book, vocabulary annotations and analysis in the light of the proposed theory. Relationships between speech and writing are set, understood not as a dichotomy but as poles of a typological continuum. In this continuum, a genre of writing can display characteristics of speech and vice versa. It is emphasized that, in view of that theoretical framework, the narrative of Child of the dark is not regarded as an oral text, but as a written text where enunciation highlights the presence of orality using a variety of expressive vocabularies.