Summary: | Como gesto de resistência ao colonialismo e em relação às assimetrias impostas pelos centros homogênicos, em face do poder político das metrópoles europeias, escritores de margens periféricas assumiram um papel protagonista na luta pela libertação de seus países. Os sistemas literários que floresceram ao longo desse período de luta anticolonialista também estreitaram relações entre esses escritores, cujas ideias circularam pelas metrópoles e pelos territórios colonizados. No caso dos territórios africanos colonizados por Portugal, se em 1975 alcançaram a independência após mais de uma década de conflito armado, o mesmo não ocorreu com as ilhas antilhanas sob a dominação francesa exceto o Haiti, cuja independência se deu no século XIX. Desse modo, considerando essa diferença histórica, convocamos neste trabalho textos de reflexão do escritor martinicano Patrick Chamoiseau e o do moçambicano Mia Couto, cujos desempenhos como intelectuais, na cena global da informação, os colocam em destaque na busca por respostas capazes de discutir as tensões político-culturais próprias da contemporaneidade. Assim, propomos, pelo método comparativo e por critérios metodológicos dialéticos, analisar os ensaios Lintraitable beauté du monde adresse à Barack Obama (2009), uma coautoria de Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant, e E se Obama fosse africano? (2009c), de Mia Couto, procurando destacar as estratégias de revisão epistemológica de conceitos eurocêntricos, bem como as de inserção do pensamento de margem na cena política global. Em um segundo movimento analítico, propomos confrontar três linhas de força que se apresentam nos romances Texaco (1993b), de Patrick Chamoiseau, e Jesusalém (2009b), de Mia Couto, quais sejam, as representações da memória, do feminino e do espaço. Entendemos tais representações como importantes elementos do campo de articulação de forças políticas direcionado à construção de projetos identitários na Martinica e em Moçambique, em relação com o sistema planetário. === As a gesture of resistance to colonialism and in relation to the asymmetries imposed by hegemonic power centers, facing the political power of the European metropolis peripheral writers played a significant role in the struggle for the liberation of their countries. Throughout this period of anti-colonialist struggle, booming literary systems also resulted in strengthening the relations between their authors whose ideas circulated in the European metropolis as well as in the colonized territories. Concerning the African territories colonized by Portugal, if they conquered their independence in 1975 after more than a decade of armed struggle, the same did not happen to the Antillean islands under French domination- with the exception of Haiti, which conquered its independence in the nineteenth century. Thus, considering this historical difference, we highlight in this work written reflections of the writer Patrick Chamoiseau from Martinique and Mia Couto from Mozambique whose performances as intellectuals in the global arena information stands out in searching answers that could be able to discuss the political and cultural tensions that are characteristic of our contemporary world . Thereby, through comparative analysis and dialectical approach, our aim in this work is to analyze two essays: Lintraitable beauté du monde adresse à Barack Obama (2009), co-authored by Patrick Chamoiseau and Édouard Glissant; and E se Obama fosse africano (2009a), by Mia Couto. At doing so, we also make an effort to foreground strategies to review Eurocentric epistemology and the marginal thoughts in the political global scene. In a second analytical deployment, this work attempts to identify and confront three guiding principles in the novels of the two writers Texaco (1993) by Patrick Chamoiseau and Jesusalém (2009b) by Mia Couto: the representations of memory, of the feminine and the space. We regard those representations as important elements of the field of the forces of political articulations aiming the construction of identity projects in Martinique and Mozambique in relation to the planetary system.
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