Summary: | Este trabalho investiga o debate estabelecido entre a psicanálise lacaniana e os estudos feministas e de gênero a respeito da diferença dos sexos, assim como os desdobramentos que a teoria da sexuação de Lacan pode trazer para esse tema. Examinamos a obra de autoras do feminismo francês indispensáveis para a pesquisa desta interface, no caso os de Irigaray, Cixous, Montrelay, Kristeva e Wittig tais trabalhos, notadamente edificantes do movimento da escrita feminina, verificamos terem repercutido decisivamente tanto em Lacan quanto nos estudos de gênero contemporâneos. Investigamos a obra de Robert Stoller, a introdução do termo gender nesse contexto e o desenvolvimento de sua teoria do núcleo de identidade de gênero, a ser debatida por Lacan no seminário XVIII e que constatamos ter sido determinante para o estabelecimento de sua noção de semblante. Detectamos que o lacanismo incorporado em solo norte- americano foi aquele que se voltou para o estruturalismo de Lévi-Strauss e as relações de parentesco, evidente nas obras de Rubin e Butler. Comprovamos que as críticas a Lacan giraram principalmente em torno das noções correlatas ao registro simbólico e seu suposto caráter apolítico e ahistórico, o que obrigou defensores da psicanálise a se pronunciar. Sob a hipótese de que a sexuação lacaniana poderia trazer novos ares para esta discussão, concluímos que tratar do falo enquanto função, da teoria dos gozos e de derivações dos aforismos Não há relação sexual e A mulher não existe, a partir de recursos da lógica, da teoria dos números e dos conjuntos, acabaram por revigorar o entendimento lacaniano da diferença dos sexos, que se esquiva das prescrições heteronormativas e da binaridade dos gêneros === This thesis looks into the debate established between lacanian psychoanalysis and feminist and gender studies on the difference between the sexes, as well as the developments that Lacan\'s theory of sexuation can bring to this theme. We examine the fundamental french feministss works that deal with this interface, in the case Irigaray´s, Cixouss, Montrelays, Kristevas and Wittigs. Those works, especially edifying of the feminine writing movement, have had a decisive impact on both Lacan and in contemporary gender studies. We examined the work of Robert Stoller, the introduction of the term gender in this context, and the development of his \"core gender identity\" theory, to be criticized by Lacan in the seminar XVIII, and which we have found to be determinant in establishing the lacanian notion of semblant. We verified that the lacanian strand incorporated in United States of America was the one that turned to Levi-Strauss\'s structuralism and kinship relations, as we see in the works of Rubin and Butler. We realized that the criticisms to Lacan were about his notions established through the symbolic register and its supposed apolitical and ahistorical character, which compelled proponents of psychoanalysis to react. Under the hypothesis that the lacanian sexuation could move this discussion forward, we concluded that dealing with the phallus as a function, the theory of jouissance and derivations of the aphorisms \"There is no sexual relation\" and \"The woman does not exist\", from logic field, number theory and set theory resources, finally invigorated the lacanian understanding of difference between the sexes, which escapes heteronormative prescriptions and gender binarity
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