Summary: | Introdução: A quimiorradioterapia (QRT) concomitante baseada em cisplatina é uma opção de tratamento empregada para os pacientes com carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço (CECCP) localmente avançado e com bom performance status, seja em caráter adjuvante ou definitivo. O ganho de sobrevida com esta modalidade de tratamento é acompanhado de aumento das toxicidades agudas em comparação com a radioterapia isolada. A ocorrência de toxicidades tardias é menos reportada na literatura e incluem xerostomia, disfagia, hipotireoidismo, ototoxicidade, fístula/necrose cutânea, dentre outras. Tais sequelas tardias podem comprometer a qualidade de vida do sobrevivente ao CECCP. Objetivos: Verificar a prevalência de toxicidades tardias em sobreviventes ao CECCP tratados com QRT baseada em cisplatina. Métodos: Estudo transversal, uni-institucional, que incluiu de forma sequencial pacientes acima de 18 anos, tratados para CECCP (sítios primários: nasofaringe, orofaringe, cavidade oral, hipofaringe e laringe) e que haviam recebido QRT adjuvante ou definitiva, baseada em cisplatina. Estes pacientes estavam em seguimento há pelo menos 2 anos, sem evidência de doença. Os pacientes realizaram audiometria, endoscopia digestiva alta (EDA), nasofibrolaringoscopia da deglutição (NFL), exames laboratoriais (toxicidade tireoidiana e renal). Os pacientes incluídos também foram examinados clinicamente e as toxicidades apresentadas foram graduadas de acordo com a escala de toxicidades tardias do RTOG/EORTC. Os sobreviventes foram ainda avaliados quanto à percepção das toxicidades através de um inventário de sintomas e responderam questionários de qualidade de vida. Resultados: De janeiro de 2014 a fevereiro de 2017, 120 pacientes assinaram o TCLE. A idade mediana dos pacientes é 59 anos (21-78), com predomínio do sexo masculino (73%) e da cor branca (58%). Antecedente de tabagismo foi referido por 80% da amostra e de etilismo por 63%. Referente ao sítio primário, a maioria dos pacientes apresenta tumor em orofaringe (42%), seguido por laringe (23%) e cavidade oral (19%). O tempo de seguimento mediano é 42 meses (24-125). Há predomínio de pacientes com doença localmente avançada, tumores T3/T4 em 75% da amostra e N+ em 72%. A dose mediana de cisplatina recebida durante a concomitância foi 300 mg/m² (100-300) e de radioterapia foi 70 Gy (60-70,4). A QRT foi oferecida em caráter adjuvante em 49% da amostra. As toxicidades mais relatadas pelos pacientes foram: xerostomia (83%), alteração na voz (74%), saliva pegajosa (73%) e disfagia (73%). Ao se graduar as toxicidades conforme escala do RTOG/EORTC, verificou-se que a maioria das toxicidades apresentadas eram de graus leves, 1 ou 2. EDA encontrou estenose faríngea em 10% dos pacientes e NFL identificou fibrose em 37% dos sobreviventes. Dos pacientes submetidos a audiometria, 42% apresentaram perda auditiva de possível causa ototóxica. Cerca de 14% dos sobreviventes apresentam clearance de creatinina estimado < 60 mL/min/1,73m². Conclusões: Toxicidades tardias foram frequentemente reportadas pelos sobreviventes ao CECCP após QRT, porém, na maioria das vezes, de intensidade leve (graus 1 ou 2). Após a QRT, um seguimento cuidadoso é essencial para diagnóstico precoce e reabilitação a essas toxicidades, a fim de preservar a funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes === Background: Cisplatin based CRT is the standard therapy for patients with locally advanced HNSCC with good performance status either as adjuvant or as definitive treatment. The survival gain with this treatment modality is accompanied by an increase in acute toxicities in comparison with isolated radiotherapy. The occurrence of LT is less reported in the literature and includes xerostomia, dysphagia, hypothyroidism, ototoxicity, cutaneous fistula / necrosis, among others. Such late sequelae may compromise the survivor\'s quality of life. Endpoints: To verify the prevalence of late toxicities in HNSCC survivors treated with cisplatin based CRT. Methods: A cross-sectional study that sequentially included patients over 18 years of age who were previously treated for HNSCC (primary sites: nasopharynx, oropharynx, oral cavity, hypopharynx and larynx) and who had received either adjuvant or definitive cisplatin based CRT. These patients were in follow-up for at least 2 years, with no evidence of disease. The patients underwent audiometry, upper GI endoscopy, nasopharyngolaryngoscopy (NPL), laboratory tests (thyroid and kidney toxicity). The included patients were also clinically assessed for mucous membrane, skin, subcutaneous tissue, salivary gland, larynx and esophagus LT according to the RTOG/EORTC Late Radiation Morbidity Scoring Schema. All patients answered a questionnaire about their perception of LT through a symptoms inventory and also answered QoL questionnaires. Results: From January 2014 to February 2017, 120 patients signed the informed consent form. The mean age of the patients is 59 years (21-78), predominantly male (73%) and white (58%). Previous smoking habits were reported by 80% of the sample and alcohol consumption by 63%. Most common primary sites were oropharynx (42%), followed by larynx (23%) and oral cavity (19%). The median follow-up time is 42 months (24-125). There was a predominance of locally advanced disease, T3 / T4 tumors in 75% of the sample and N + in 72%. The median cisplatin dose during concomitance was 300 mg/m² (100-300) and the median radiotherapy delivered dose was 70Gy (60-70.4). CRT was delivered as an adjuvant treatment in 49% of the sample. The most frequently selfreported LT were xerostomia (83%), voice disorders (74%), sticky saliva (73%) and dysphagia (73%). Assessing the toxicities according to the RTOG / EORTC scale most of them were mild, grade 1-2. Upper GI endoscopy diagnosed stenosis in 10% of the patients and NPL identified fibrosis in 37% of the survivors. Audiometry identified ototoxic hearing loss in 42% of the sample. About 14% of the survivors present chronic kidney disease (an estimated creatinine clearance < 60 mL/min/1.73m²). Conclusion: High rates of self-reported LT were detected although most of them seem to be mild. After CRT, a close follow-up of HNSCC patients is essential for early diagnosis, treatment of these late sequelae and rehabilitation, in order to preserve QoL and functionality and to avoid lifethreatening conditions and social reclusion
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