Summary: | Este trabelho tem o intuito de investigar os sentidos da produção discursiva por meio do qual a educação infantil (re)produz o lugar institucional da criança-problema. Para tanto, discute inicialmente o percurso histórico das práticas educativas em torno da criança de zero a seis anos, destacando a adoção de um modelo escolarizante e seus efeitos no cotidiano de seus agentes e clientela. Constituído por concepções que privilegiam o desenvolvimento cognitivo da criança, esse modelo produz efeitos paradoxais nas relações diariamente vividas em creches e pré-escolas. Um desses efeitos é a imagem da criança que não se enquadra aos valores, padrões e modelos esperados. A partir da perspectiva institucionalista proposta por Aquino no que se refere à análise das práticas escolares, este trabalho nutriu-se do pressuposto teórico-metodológico de que, no discurso dos protagonistas da ação educativa sobre a criança pequena, materializam-se as representações acerca da criança que não corresponde ao que dela se espera, em geral tomada como problema. O material discursivo examinado foi obtido por meio de observações do cotidiano de uma creche e uma EMEI da rede pública do município de São Paulo, bem como de entrevistas com educadoras de ambas as instituições. As análises indicaram que, em consonância com o discurso pedagógico contemporâneo, fundado nos preceitos científicos, as práticas concretas da educação infantil controlam e classificam sua clientela, estabelecendo modelos de ação que têm como objetivo desenvolver a criança. Entretanto, para além de tal propósito, tais práticas sinalizam um caráter nitidamente normativo da ação pedagógica aí desenvolvida e indicam que a subjetividade que nelas se produz é crivada pela norma desenvolvimentista, ou seja, criança que se comporta e se desenvolve conforme características e expectativas previamente definidas. Em relações assim instituídas, parece não se conceber outra forma de se relacionar com a diversidade da clientela que não seja a do ajustamento ao padrão. Como consequência, a criança que se distancia da norma, seja por excesso, seja por falta, acaba sendo interpretada como desigual, anômala ou disfuncional. Contudo, por meio das histórias de alguns personagens desviantes, foi possível constatar como certas crianças, ainda bem pequenas, criam estratégias sutis de resistência à normatização, desenhando singularidades na forma como nela se inserem. Mesmo tendo sua subjetividade ditada pela norma, tais crianças mostraram que esperam ser vistas não com um olhar que as aponte como desvio, mas que as reconheça como alteridade e diferença. === This dissertation aims to investigate the meaning of the discourse production through which child education (re)produces the institutional place of the problem-child. For this purpose, it initially discusses the historical course of educational practices over the zero-to-six-yearold child, emphasizing of a school oriented pattern and its effects on its agents and clientele`s everyday life. The pattern formed by conceptions which privilege cognitive development of the child, produces paradoxical effects on everyday relationships experienced in day-carecenters and kindergartens. One of these effects is the image of a child who doesnt fall under expected values, standards and patterns. From the institutional perspective proposed by Aquino concerning school practices analyses, this paper is based on the theoreticmethodological presupposition that, in the protagonist educational action discourse over the young child, there presentations around the child who doesnt correspond to what is expected from him/her, normally taken as problem-child, materialize. The examined discourse material was obtained Through observations in the everyday life of a public day-care-center and an EMEI (a public kindergarten) both in the city of São Paulo, as well as through interviews with educators from both institutions. Analyses indicated that, is consonance to contemporary pedagogical discourse, founded in scientific precepts, child education concrete practices control and classify their clientele, establishing patterns of action, which aim to develop the child. Nevertheless, beyond action and indicate that the subjectivity which is produced in them is riddled by the development oriented norm, that is, the child that behaves and develops him/herself according to previously defined characteristics and expectations. In instituted as such, it seems unconceivable to have other forms of relationships with the clientele diversity than the adjustment to the pattern. As a result, the child that distances her/himself from the norm either by excess or by deprivation will eventually be interpreted as unequal, anomalous or nonfunctional. Nevertheless, through stories of some deviated characters, it was possible to verify how certain children, still very young, create subtle strategies of resistance against the norms, drawing singularity in the way they insert themselves in it. Even having their singularity norm dictated, such children showed they expect to be seen not with a look that points them as a deviation, but that recognizes them as alterability and difference.
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