Summary: | O presente trabalho busca explorar como a dimensão do traumático incide na literatura contemporânea, mais especificamente, na literatura de um escritor nova-iorquino, Paul Auster. Supomos que as modalidades de subjetivação de determinado período histórico podem ser investigadas a partir de objetos estéticos culturais particulares, ou, pelo menos, que determinadas obras podem servir como uma espécie de testemunho e de historiografia dos sofrimentos de uma época. Esboçamos possíveis ressonâncias entre o plano geral da cultura e da história e o das qualidades específicas e expressivas de uma obra determinada, o que abre espaço para um diálogo entre esses domínios. Com isso, contudo, não se espera privilegiar o que é externo à obra em detrimento dela, e muito menos explicar a literatura pelo recurso a teorias e sistemas de compreensão prévios. Ao contrário, partimos de uma leitura próxima e imanente às obras para realizar ensaios a partir de três livros de Paul Auster: A invenção da solidão, O livro das ilusões e Noite do oráculo. Tais leituras seguiram uma espécie de ética da hospitalidade enquanto ética da leitura. Seguindo de perto as obras, e instalando-se nelas como num regime de habitação, fomos abrindo pontos de contato e comunicação entre as obras, bem como com outras dimensões da história, principalmente no que concerne a aspectos traumáticos e catastróficos. Os ensaios aventam a hipótese de que os livros de Paul Auster escolhidos demonstram, em seu aspecto mais formal, aspectos importantes do que veio a ser conhecido, na psicanálise, como compulsão à repetição. Além disso, a transmissão de aspectos indigestos e traumáticos transgeracionais, por via de criptas psíquicas, pode ser observada na própria autobiografia de Paul Auster, notadamente, A Invenção da solidão. As vicissitudes e destinos do trauma em sua dimensão transgeracional e individual são articuladas com o plano da cultura e com outros pensadores. Propomos, também, uma modalidade de leitura reparadora, em contraposição a uma leitura paranoica, para responder à complexidade e às ambiguidades das obras selecionadas === The present thesis aims to explore how the dimension of the traumatic concurs in contemporary literature, particularly in the one by New Yorker writer Paul Auster. It is supposed that the forms of subjectivity in a certain historical period can be searched into on the basis of particular cultural aesthetic objects. Or, at least, certain pieces of work can render as some sort of witness, as well as historiography of suffering in a particular era. It has been possible to outline some resonances between the general cultural and historical level ground and the one of expressive and specific qualities in a certain work, which opens space for a dialog between these domains. Nevertheless it is not expected neither to grant a privilege to what is external to the piece of work to its detriment, nor to explain literature from the theories and systems of previous comprehension. To the contrary, a close and immanent reading has been made, in order to make an assay, out of three of Paul Austers books: The invention of solitude, The book of illusions and Oracle Night. Such reading has followed some kind of hospitality ethics whereas reading ethics. Accompanying closely these works, and settling down on them as in a habitation regime, points of communication were opened between them, as well as with other dimensions of history, mainly to what concerns traumatic and catastrophic aspects. The assays suggest the hypothesis that these chosen Austers books demonstrate, in their formal aspect, important features of what has become known in Psychoanalysis as compulsion of repeating. Furthermore, the transmission of transgenerational indigestive and traumatic aspects, through psychic crypts, can be observed in Austers autobiography The invention of solitude. The vicissitudes and destinies of trauma on its transgenerational and individual dimensions are articulated with the cultural level ground and with other authors. It is also proposed a modality of repairing reading, in opposition to a paranoid reading, to respond to the complexity and ambiguity of the selected works
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