Summary: | Em uma visão etimológica, o Verbo Denominal (VD) é aquele verbo que surgiu historicamente a partir de uma base nominal. Os dicionários consideram que um verbo é denominal quando sua forma nominal cognata tem uma datação anterior nos registros da língua. Há, dessa forma, duas maneiras de tratar a relação entre nome e verbo: em uma perspectiva sincrônica ou diacrônica. Como há certa mistura no tratamento do fenômeno, faz-se necessária uma distinção entre critérios etimológicos e sincrônicos para a determinação do que é um verbo denominal. No presente trabalho, buscamos encontrar critérios formais e sincrônicos para saber quais verbos diacronicamente considerados como denominais podem também ser assim considerados em uma análise sincrônica de formação das palavras e em quais casos há razões comprovadas para propor o abandono do rótulo denominal. Partimos de uma amostra de 4.548 verbos etimologicamente denominais do português, retirados do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, e a restringimos por critérios de frequência a 95 verbos, que constituíram de fato o objeto de análise do estudo. Submetemos todos os verbos a testes estruturais de formação de sentenças sugeridos por Kyparsky (1987), Hale & Keyser (2002) e Arad (2003), a saber: Alternância Causativo-incoativo (Teste1); Alternância Média (Teste 2); Presença de Expressão Perifrástica (Teste 3); Presença de Objeto Cognato (Teste 4); Presença de Adjunto Cognato (Teste 5); Presença de Adjuntos Hipônimos e Hiperônimos (Teste 6). As sentenças foram submetidas a julgamento de 40 falantes nativos de português brasileiro. Os resultados apontaram para uma heterogeneidade no comportamento da classe geral dos VDs. Em suma, há um grupo para os quais os testes indicam uma etapa nominal (gramaticalidade para testes 3,(4),5 e 6) e um outro grupo para os quais os testes não indicam a presença de uma etapa nominal na formação (agramaticalidade para testes 3,5 e 6). Há verbos que participam e não participam de alternâncias (gramaticalidade e agramaticalidade para testes 1 e 2) e, por fim, há um grupo de verbos em que uma acepção remete a uma etapa nominal e outra acepção remete a ausência de etapa nominal. Após observar alternativas de análise em teorias lexicalistas de regras de formação de palavras (Basílio, 1993) e sintaxe-lexical (Hale & Keyser, 2002), conseguimos diferenciar estruturas com uma etapa nominal (denominais) de estruturas derivadas diretamente da raiz com base nos pressupostos da teoria da Morfologia Distribuída (Halle & Marantz, 1993; Harley & Noyer, 1999), mais especificamente Arad (2003), Marantz (2008) e Harley (2005). Conseguimos representar estruturalmente os diferentes tipos de (supostos) VDs no que se refere ao seu comportamento sintático e sua relação semântica com os (supostos) nomes formadores. Em primeiro lugar, tratamos dois grandes grupos: o primeiro contém os verbos que são formados a partir da categorização de uma raiz por um nome (n) e, em seguida, por um verbo (v) (estruturas denominais sincrônicas) e o segundo por verbos que são formados pela categorização direta de uma raiz () por um verbo (v) (estruturas não-denominais). No primeiro grupo, o dos denominais, observamos diferenças no comportamento sintático e sugerimos para eles diferentes tipos de estruturas: de alternância, de não-alternância e location/locatum. Em seguida, discutimos dois tipos de fenômenos que culminam na formação tanto de verbos denominais quanto de verbos derivados diretamente da raiz para aqueles que parecem, em princípio, tratar-se de um só verbo (verbos com estruturas denominais e estruturas de maneira e Mesmo verbo com comportamentos opostos). Por fim, a maior contribuição teórica deste trabalho está em que avançamos no esclarecimento da diferença entre uma formação sincrônica e diacrônica de palavras, mostrando que nem sempre a explicação histórica é a única possível. === From an etymologycal point of view, the Denominal Verb is the one that derives historically from a nominal base. Dictionaries consider a verb as denominal when its cognate nominal form is older than the verbal one in language records. Thus, there are two ways of treating what is called denominal verb, regarding the relation between the noun and the verb: from a synchronic or from a dyachronic perspective. Since the description of this class is rather misleading, it is necessary to make a distinction between etymological and synchronic criteria in the definition of what a denominal verb is. For these reasons, the aim of this work is i) to find out synchronic and formal criteria to know which denominal verbs, from a diachronic point of view, can also be considered as such under a synchronic analysis of word formation and ii) in which cases can real reasons be found for the abandonment of the label denominal. We started from a sample of 4.548 etymologically denominal verbs in Portuguese, collected from Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, and, due to a frequency criteria, we reduced it to 95 verbs that constitute, in fact, the object of this study. We submmited all the verbs to structural tests of sentence formation suggested by Kyparsky (1987), Hale & Keyser (2002) and Arad (2003), namely: Inchoative- Causative Alternation (Test 1); Middle Alternation (Test 2); Presence of Periphrastic Expression (Test 3); Presence of Cognate Object (Test 4); Presence of Cognate Adjunct (Test 5); Presence of Hiponimous and Hiperonimous Adjunction (Test 6).The sentences were submitted to the judgement of 40 native speakers of Brazilian Portuguese. The results pointed to heterogeneity in the behaviour of the general class of denominal verbs. To sum up, there is a group of verbs to which the tests indicated a nominal stage in the derivation of the verb (grammaticality for tests 3 (4), 5 and 6) and another group of verbs to which the tests did not indicate the presence of that nominal stage (agrammaticality for tests 3, 5 and 6). There are verbs that do and do not participate in alternations (gramaticality and agramaticality for tests 1 and 2) and, finally, there is a group of verbs for which one meaning indicates a nominal stage and the other meaning indicates the absence of such a nominal stage. After observing some analysis under lexicalist theories based on word formation rules (Basílio, 1993) or under lexico-syntactic approaches such as Hale & Keyser (2002), we could offer an analysis under which it is possible to distinguish the so-called denominal verbs in two classes: i) those represented by structures that include a nominal stage in the derivation (denominals), ii) those represented by structures in which the verb is derived directly from roots. This analysis is based on the Distributed Morphology model (Halle & Marantz, 1993; Harley & Noyer, 1999), more specifically, on Arad (2003), Marantz (2008) and Harley (2005). Our first step was to separate the two big groups: the first containing verbs that are derived from the categorization of a root () by a noun (n) and, then, by a verb (v) (synchronic denominal structures), and the second group containing verbs that are derived from the direct categorization of a root () by a verb (v) (non-denominal structures). In the first group, the denominal one, we observed that the sentences containing such verbs presented different syntactic behaviors and we suggested different kinds of structures: alternating, non-alternating and location/locatum. In sequence, we discussed some verbs that led us to suggest that they can be formed either as denominal verbs or as root-derived ones. We could then represent the structure of different types of so-called denominal verbs regarding their syntactic behavior and the relation they establish with the noun formed by the same root. Finally, the major theoretic contribution of this work is that we improved in clarifying the difference between a synchronic and a dyachronic word formation process, showing that the historical explanation is not always the single possibility.
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