Aprendizado motor em crianças de 5 e 6 anos: comparação entre prática física e prática mental

O aprendizado motor pode ser considerado um processo sensório-cognitivomotor, que envolve a formação de representações neurais da tarefa, chamadas de modelos internos. Essa forma de entender o aprendizado motor permite que processos como o aprendizado por meio da prática mental, ou seja, sem a final...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Melo, Mara Cristina Santos
Other Authors: Piemonte, Maria Elisa Pimentel
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2010
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47135/tde-22062010-143021/
Description
Summary:O aprendizado motor pode ser considerado um processo sensório-cognitivomotor, que envolve a formação de representações neurais da tarefa, chamadas de modelos internos. Essa forma de entender o aprendizado motor permite que processos como o aprendizado por meio da prática mental, ou seja, sem a finalização do movimento pelos efetores e a realimentação sensorial conseqüente a isso, possam ser compreendidos. A prática mental mostra-se uma forma de treinamento tão eficiente quanto a prática física em adultos, porém com vantagens quanto à generalização, visto que favorece a formação de modelos internos mais flexíveis. Entre os 5 e 6 anos de idade, a despeito das imaturidades de funções cognitivas, como memória de trabalho e atenção, as crianças já são capazes de imaginar tarefas motoras dinâmicas, embora não haja evidências na literatura sobre a capacidade de aprendizado por meio da imaginação nem a comparação com o treino físico. Desta forma, o objetivo deste estudo foi comparar a capacidade de aprender, reter e generalizar uma nova habilidade motora de oposição seqüencial de dedos por meio do treino físico e mental, em crianças de 5 e 6 anos. Para tal, foi comparado o desempenho motor em uma tarefa de oposição seqüencial de dedos, em 3 diferentes condições: com treinamento físico da tarefa, com treinamento mental e sem treinamento. O grupo de prática física (PF) era composto por dezesseis crianças com média de idade de 6,5±0,2 anos, sendo doze meninas e quatro meninos; o grupo de prática mental (PM) composto por 12 crianças com média de idade de 5,7±0,5 anos, dentre elas 7 meninos e 5 meninas e o grupo sem prática (SP), por 12 crianças de 5,6±0,4 anos, das quais 8 eram meninos e 4 meninas, todos destros. Os grupos de PF e PM foram submetidos a uma sessão de treino com 2400 repetições, sendo avaliados, assim como o grupo SP, antes, depois, 4, 7, 14 e 28 dias após o treinamento. Os resultados mostram que independente da forma de treino, as crianças foram capazes de melhorar o seu desempenho em termos de velocidade ao longo do treinamento, sendo que o grupo PM foi mais rápido para concluir cada bloco de treino em comparação com o grupo PF. Quanto à aquisição, embora de forma mais lenta, as crianças do grupo PM atingiram o mesmo desempenho que o grupo PF ao final das reavaliações, enquanto que o grupo SP permaneceu com o desempenho semelhante ao da primeira avaliação e significativamente inferior aos grupos PF e PM. Já para a generalização, os grupos PF e PM apresentaram melhora do desempenho da seqüência reversa (SR) mais lenta em comparação à seqüência treinada (ST), porém ao final dos 28 dias de experimento o grupo PM manteve esta melhora, enquanto o grupo PF perdeu desempenho. O grupo SP não apresentou diferenças significativas no comportamento de nenhuma das 2 seqüências testadas. Com base nesses resultados, pode-se concluir que crianças de 5 e 6 anos vii são capazes de aprender, reter e generalizar uma nova habilidade motora envolvendo movimentos seqüenciais de oposição de dedos por meio da prática mental, sem diferenças em comparação com a prática física, porém com vantagens quanto à generalização. === Motor skill learning (MSL) is a sensory-cognitive-motor process that involves the formation of neural representations of a task, known as internal models. This way of understanding the MSL allows processes such as motor learning through mental practice, which is, without end-movements from muscles and the subsequential sensorial feedback to those movements, to being understood. Mental practice is shown as a form of training as efficient as the physical practice in adults, however with advantage on generalization since it favors the formation of more flexible internal models. Between 5 and 6 years of age, in spite of immature cognitive functions such as working memory and attention, children are already capable to imagine dynamic motor tasks, although there is no evidence in literature regarding motor learning through imagination neither a comparison with physical training. Therefore, the objective of this study is to compare the ability of learning, retaining and generalizing a fresh motor ability of sequential opposition of fingers by physical and mental practice in children of 5 and 6 years. To do so, motor performance in a task of sequential opposition of fingers was compared in 3 different conditions: by (1) physical training of the task, (2) mental training and (3) no training at all. The physical practice group (PF) was composed by sixteen children with an average of 6,5±0,2 years, with twelve girls and four boys; the mental practice group (PM) was composed by 12 children with an average of 5,7±0,5 years, amongst them 7 boys and 5 girls and finally the notraining group (SP), composed with 12 children of 5,6±0,4 years, 8 boys and 4 girls, all dexterous. The PF and PM groups were submitted to one session of training with 2400 repetitions; they were evaluated, as well as group SP, before the training and 4, 7, 14 and 28 days after the training. The results have shown that regardless the form of training the children were capable to improve their speed performance throughout the training, with PM group concluding each block of training faster when compared to group PF. Regarding acquisition, although being slower, the children of PM group have reached the same performance as PF group in the end of the reevaluations, whereas SP group remained with the same performance as the one on the first evaluation and thus significantly inferior performance compared to PF and PM groups. As for generalization, groups PF and PM presented improvement in performance of the reversal finger opposition sequence (SR), both slower in comparison to the trained finger opposition sequence (ST), however in the end of 28 days of experiment the PM group kept this improvement while PF group lost performance. SP group did not present significant performance differences in neither of the 2 tested sequences. Based on these results, we conclude that children of 5 and 6 years are capable to learn, to retain and to generalize a new motor ability involving sequential movements of ix opposition of fingers through mental practice, without differences in comparison with physical practice, however with advantages in generalization.