A etnomatemática da alma A\' uwe-xavante em suas relações com os mitos.

Esta pesquisa desenvolveu-se a partir de uma indagação acerca do relacionamento entre a etnomatemática, os mitos e os ritos do povo indígena A\'uwe-xavante. Subjacente a essa questão estava o objetivo de contribuir para com a formação de professores que irão atuar num ambiente onde diferentes p...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Costa, Wanderleya Nara Gonçalves
Other Authors: Domite, Maria do Carmo Santos
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2008
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22042008-112324/
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topic Educação indígena
Etnomatemática
Etnomathematics
Formação de professores
Indigenous education
Índios Xavante
Matemática - Estudo e ensino
Mathematics study and teaching
Mitos
Myths
Teacher education
Xavante indigenous/People
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Xavante indigenous/People
Costa, Wanderleya Nara Gonçalves
A etnomatemática da alma A\' uwe-xavante em suas relações com os mitos.
description Esta pesquisa desenvolveu-se a partir de uma indagação acerca do relacionamento entre a etnomatemática, os mitos e os ritos do povo indígena A\'uwe-xavante. Subjacente a essa questão estava o objetivo de contribuir para com a formação de professores que irão atuar num ambiente onde diferentes povos e culturas se relacionam cotidianamente, e onde se torna importante/necessário desnaturalizar práticas discursivas que contribuem para com a manutenção da situação marginal em que se encontram muitos povos indígenas brasileiros. Para abordar o problema optei pela utilização de alguns princípios orientadores sugeridos por Ferreira Santos (2004): a recondução dos limites, a complexidade, a recursividade, a autopoiesis, a razão sensível, a multidisciplinaridade e a neotenia humana. Considero que juntos esses princípios são capazes de problematizar nossos hábitos de pensamento, argumentar em torno do íntimo relacionamento entre pensamento mítico e pensamento lógico-matemático, de contrapor-se à separação cartesiana entre história e mito, de questionar a racionalidade científica como modelo de pensamento e de valorizar a afetividade e a diversidade humana. Por sua vez, a fundamentação teórica deu-se a partir dos estudos de Lévy-Bruhl, Piaget e Vygotsky sobre o relacionamento entre mente, corpo e meio. A discussão prosseguiu em torno da exposição e do contraponto de idéias sobre os Símbolos, advindas da semiótica, da psicologia profunda e da antropologia. Em seguida, como uma complementação aos estudos históricos de Spengler (1973), foram analisadas mitocosmologias gregas, ocidental/cristã e A\'uwe-xavante. Tais análises se deram em torno de categorias surgidas a partir dos próprios mitos, da obra de Spengler e de escritos de Foucault. Algumas dessas categorias são: tempo, números, espaço, símbolo primordial, teogonia e religiosidade, poder, discurso verdadeiro e valores, dentre outros. Foi uma concepção de análise capaz de considerar categorias tão diversas, atrelada ao método e à forma de relato (que explora a metáfora do Labirinto), que tornou possível considerar aspectos sociológicos, antropológicos e narrativos, dentre outros, dos quais emergiram etnomatemáticas, identidades, formas de subjugar, métodos disciplinares, práticas discursivas e não discursivas, referências sagradas e profanas, míticas e históricas. Concluí então que a etnomatemática dos A\'uwe-xavante - que tenho chamado de Etnomatemática Parinai\'a - está inextricavelmente relacionada aos mitos e ritos do povo que a produziu/produz. Esse reconhecimento, bem como do fato de que o ensino de matemática veicula, além de conhecimentos, valores, crenças, mitos, símbolos e representações, que nos marcam e conformam, dilaceram ou fortalecem, levaram-me a sugerir que um maior conhecimento das etnomatemáticas implica o estudo dos mitos fundantes. Sugiro ainda que o professor ou consultor que atue segundo a perspectiva de respeito e valorização das diferentes etnomatemáticas deve ressaltar os mitos subjacentes a elas. Assim, a educação matemática que ocorre junto às populações indígenas estará buscando atuar no sentido de respeitar \"a alma\", a dimensão simbólica da identidade dos diferentes povos. === This research was developed on the basis of a question about the relationship involving etnomathematics, myths and rites of A\'uwe-xavante indigenous people. Subjacent to it, was the aim of contributing to the teachers formation that will actuate in an environment where different people and cultures are involved daily and where it becomes important/necessary denaturalize discursive practices that contribute to the maintenance of marginal situation where many Brazilian indigenous people are immersed. To approach to the problem I made the choice of using some guiding principles suggested by Ferreira Santos (2004): the return to boundaries and limits, complexity, recurrence, autopoiesis, sensible reason, multidisciplinarity and human neotenia. I think that all these principles allow to question our thinking habits, to make problematic our habits, argue the intimate relationship between mythic thinking and logical-mathematical thinking, in opposition to the Cartesian separation between history and myth , as well as questioning mathematical rationalization as a model of thinking and of valuating human affectivity and diversity. On its turn, theoretical foundations are located on the study of Lévy-Bruhl, Piaget, and Vygotsky about the relationship among mind, body and environment. The discussion went on to debate the exposition and counterpoint of ideas about symbols, derived from Semiotics, from Psychology and Anthropology. Further, as a complementation to the historical studies of Spengler, some Greek cosmological myths, as also occidental/Christian and A\'uwe-xavante ones. This analysis is developed around some categories appearing from myths themselves, from the works of Spengler and writings of Foucault. Some of the categories are: time, numbers, space, primal symbols, theogony and religion, power, true discourse and values, as others. It constitutes a conception of analysis able to consider many diverse categories, connected to the method and to the form of the report (that explores the metaphor of Labyrinth), that allows having in mind sociological, anthropological and narrative aspects, among others, from which emerged etnomathematics, identities, ways of submitting, disciplinary methods, discursive and non-discursive practices, sacred and profane referees , as well mythical and historical ones. I have concluded then that the etnomathematics of A\'uwe-xavante - which has been called by myself as Etnomathematics Parinai\'a - is inextricably related to the myths and rites of the people that produces it. This acknowledge , as well the fact that the teaching that Mathematics brings, beyond knowledge, values, beliefs, myths, symbols and representations, that conform and assign us, dilacerate or strengthen, conducted me to suggest that a wider knowledge of Etnomathematics implies the study of the grounding myths. I suggest besides that the teacher or consultant acting by respect to the perspective and valuation of the different etnomathematics must highlight the subjacent miths.
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Costa, Wanderleya Nara Gonçalves
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Subjacente a essa questão estava o objetivo de contribuir para com a formação de professores que irão atuar num ambiente onde diferentes povos e culturas se relacionam cotidianamente, e onde se torna importante/necessário desnaturalizar práticas discursivas que contribuem para com a manutenção da situação marginal em que se encontram muitos povos indígenas brasileiros. Para abordar o problema optei pela utilização de alguns princípios orientadores sugeridos por Ferreira Santos (2004): a recondução dos limites, a complexidade, a recursividade, a autopoiesis, a razão sensível, a multidisciplinaridade e a neotenia humana. Considero que juntos esses princípios são capazes de problematizar nossos hábitos de pensamento, argumentar em torno do íntimo relacionamento entre pensamento mítico e pensamento lógico-matemático, de contrapor-se à separação cartesiana entre história e mito, de questionar a racionalidade científica como modelo de pensamento e de valorizar a afetividade e a diversidade humana. Por sua vez, a fundamentação teórica deu-se a partir dos estudos de Lévy-Bruhl, Piaget e Vygotsky sobre o relacionamento entre mente, corpo e meio. A discussão prosseguiu em torno da exposição e do contraponto de idéias sobre os Símbolos, advindas da semiótica, da psicologia profunda e da antropologia. Em seguida, como uma complementação aos estudos históricos de Spengler (1973), foram analisadas mitocosmologias gregas, ocidental/cristã e A\'uwe-xavante. Tais análises se deram em torno de categorias surgidas a partir dos próprios mitos, da obra de Spengler e de escritos de Foucault. Algumas dessas categorias são: tempo, números, espaço, símbolo primordial, teogonia e religiosidade, poder, discurso verdadeiro e valores, dentre outros. Foi uma concepção de análise capaz de considerar categorias tão diversas, atrelada ao método e à forma de relato (que explora a metáfora do Labirinto), que tornou possível considerar aspectos sociológicos, antropológicos e narrativos, dentre outros, dos quais emergiram etnomatemáticas, identidades, formas de subjugar, métodos disciplinares, práticas discursivas e não discursivas, referências sagradas e profanas, míticas e históricas. Concluí então que a etnomatemática dos A\'uwe-xavante - que tenho chamado de Etnomatemática Parinai\'a - está inextricavelmente relacionada aos mitos e ritos do povo que a produziu/produz. Esse reconhecimento, bem como do fato de que o ensino de matemática veicula, além de conhecimentos, valores, crenças, mitos, símbolos e representações, que nos marcam e conformam, dilaceram ou fortalecem, levaram-me a sugerir que um maior conhecimento das etnomatemáticas implica o estudo dos mitos fundantes. Sugiro ainda que o professor ou consultor que atue segundo a perspectiva de respeito e valorização das diferentes etnomatemáticas deve ressaltar os mitos subjacentes a elas. Assim, a educação matemática que ocorre junto às populações indígenas estará buscando atuar no sentido de respeitar \"a alma\", a dimensão simbólica da identidade dos diferentes povos. This research was developed on the basis of a question about the relationship involving etnomathematics, myths and rites of A\'uwe-xavante indigenous people. Subjacent to it, was the aim of contributing to the teachers formation that will actuate in an environment where different people and cultures are involved daily and where it becomes important/necessary denaturalize discursive practices that contribute to the maintenance of marginal situation where many Brazilian indigenous people are immersed. To approach to the problem I made the choice of using some guiding principles suggested by Ferreira Santos (2004): the return to boundaries and limits, complexity, recurrence, autopoiesis, sensible reason, multidisciplinarity and human neotenia. I think that all these principles allow to question our thinking habits, to make problematic our habits, argue the intimate relationship between mythic thinking and logical-mathematical thinking, in opposition to the Cartesian separation between history and myth , as well as questioning mathematical rationalization as a model of thinking and of valuating human affectivity and diversity. On its turn, theoretical foundations are located on the study of Lévy-Bruhl, Piaget, and Vygotsky about the relationship among mind, body and environment. The discussion went on to debate the exposition and counterpoint of ideas about symbols, derived from Semiotics, from Psychology and Anthropology. Further, as a complementation to the historical studies of Spengler, some Greek cosmological myths, as also occidental/Christian and A\'uwe-xavante ones. This analysis is developed around some categories appearing from myths themselves, from the works of Spengler and writings of Foucault. Some of the categories are: time, numbers, space, primal symbols, theogony and religion, power, true discourse and values, as others. It constitutes a conception of analysis able to consider many diverse categories, connected to the method and to the form of the report (that explores the metaphor of Labyrinth), that allows having in mind sociological, anthropological and narrative aspects, among others, from which emerged etnomathematics, identities, ways of submitting, disciplinary methods, discursive and non-discursive practices, sacred and profane referees , as well mythical and historical ones. I have concluded then that the etnomathematics of A\'uwe-xavante - which has been called by myself as Etnomathematics Parinai\'a - is inextricably related to the myths and rites of the people that produces it. This acknowledge , as well the fact that the teaching that Mathematics brings, beyond knowledge, values, beliefs, myths, symbols and representations, that conform and assign us, dilacerate or strengthen, conducted me to suggest that a wider knowledge of Etnomathematics implies the study of the grounding myths. I suggest besides that the teacher or consultant acting by respect to the perspective and valuation of the different etnomathematics must highlight the subjacent miths. Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP Domite, Maria do Carmo Santos 2008-04-04 Tese de Doutorado application/pdf http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22042008-112324/ pt Liberar o conteúdo para acesso público.