Sobre uma especificidade do ensino da psicanálise na universidade: a formação de educadores

A certeza da existência de um domínio que garanta o bem fazer, apoiada na lógica do discurso universitário, caracteriza a pretensa Pedagogia Científica da atualidade. A demanda pelas teorias psicológicas (especialmente, as do desenvolvimento), o professor reflexivo (racional e explicativo) e o espaç...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Monteiro, Elisabete Aparecida
Other Authors: Lajonquière, Leandro de
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2005
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-19102012-101340/
Description
Summary:A certeza da existência de um domínio que garanta o bem fazer, apoiada na lógica do discurso universitário, caracteriza a pretensa Pedagogia Científica da atualidade. A demanda pelas teorias psicológicas (especialmente, as do desenvolvimento), o professor reflexivo (racional e explicativo) e o espaço conferido aos recursos tecnológicos vêm servir à lógica que anima o discurso pedagógico. A maneira de a pedagogia compreender a educação, como aplicação dos princípios científicos que permitem o controle da aprendizagem, observa um racionalismo-cientificista, resistente à idéia de não saber inerente à relação do sujeito com o desejo, noção revelada pela psicanálise. A resistência à aceitação dessa impossibilidade por parte daqueles impregnados do discurso pedagógico, bem como de um grupo maior de racionalistas-cientificistas, é explicada no fato de que o desejo sempre se revela après coup, então, reclama a renúncia à ideia clássica de controle e previsão. O problema da Educação passa pela palavra e pelo fato de que o sujeito (falante ou ouvinte) está, por princípio, implicado em todo ato. A verdade da palavra, então, permite compreender a natureza da impossibilidade estrutural que a psicanálise descortina. Ela se relaciona com uma realidade inequívoca: a fala mediada pelo Outro. Portanto, em última instância, é o desejo que fala. Em linhas gerais, os educadores devem extrair, essencialmente, duas contribuições da experiência com a teoria freudiana, sendo que a primeira abre caminho para a segunda: o conhecimento da constituição infantil e sobre si mesmos. No entanto, perseguindo uma relação de causalidade entre os meios pedagógicos utilizados e a previsão dos resultados, a pedagogia mantém-se resistente à noção de que o inconsciente possui um peso maior do que as intenções conscientes do educador. A psicanálise possibilita compreender que sustentar a transmissão significa suportar, subjetivamente, a angústia de uma posição discursiva que 7 exige a renúncia da onipotência narcísica e dos ideais de grandeza e de perfeição. Por isso, em oposição aos métodos (ao padrão), pode-se refletir sobre a questão do estilo na tarefa de cada educador. O discurso pedagógico mantém a instituição educativa suspensa na ilusão. Seria necessário, portanto, renunciar a essa espécie de sustentação e dar lugar à realidade, lembrando Freud, ou, como a psicanálise permite ver, às infinitas faces da verdade. A pesquisa ora apresentada tenciona demonstrar que a especificidade e a legitimidade do ensino da psicanálise a educadores repousa nas condições que vem oferecer para o resgate do sentido atualmente perdido da educação. === The certainty of the existing domain that guarantees the assertion of an action, which could be called a \"well done action\", based on the academical speech coherence, characterizes the pretentious \"Scientific Pedagogy\" of the present time. The demand for psychological theories (specially, the ones concerning to development), the \"reflective teacher\" (rational and explanatory) and the space granted to the technological resources underlie the reason that encourages the pedagogical speech. The way by which pedagogy understands education, as application of scientific beginnings that allow the control of learning, observes a scientific rationalism, resistant to the idea of non-lore, which is inherent to the relation between subject and desire, knowledge revealed by the psychoanalysis. The resistance to the acceptance of this impossibility by those who are impregnated of the pedagogical speech, as well as by a larger group of scientific rationalists, is explained on the fact that the desire is always revealed après coup, claiming the renouncement to the classic idea of control and forecast. The \"problem\" of Education goes through the word and the fact that the individual (speaker or listener) is, in beginning, implied in every action. The \"truth\" of the word, then, allows understanding the nature of the structural impossibility exposed by the psychoanalysis. It is linked to an unmistakable reality: the speech mediated by the other person. Therefore, ultimately, it is the desire that speaks. In general lines, educators should extract, essentially, two contributions of the Freudian theory experience, having the first one make way to the second: the knowledge of children constitution and of themselves. However, pursuing a causality relationship between the practiced pedagogical ways and the forecast of results, pedagogy keeps on resistant to the notion that the educator\'s unconscious weighs more than his conscious intentions. Psychoanalysis allows comprehending that sustaining transmission 9 means to support subjectively, the anguish of a discursive position that demands the renouncement of the narcissistic omnipotence and the ideals of magnitude and perfection. Therefore, in opposition to the methods (to the pattern), the style in each educator\'s task can be thought. The pedagogical speech keeps the educational institution held by illusion. It would be necessary, therefore, to renounce this sort of sustentation and give place to reality, or, as psychoanalysis shows, to the infinite faces of the truth. In this present research it is intended the demonstration that the specificity and the legitimacy of the psychoanalysis teaching to educators lies on the conditions it offers for the rescue of the lost sense in education.