(Bem) vindo a São Paulo: narrativas de migrantes incluídos marginalmente e a criação de astúcias ao enfrentar a situação de pobreza

Sob a ótica da Psicologia Social, esta pesquisa de mestrado compreende a migração como um fenômeno social, com fatores históricos e políticos a serem analisados. Assim, o estudo de alguns aspectos da formação social do Brasil e as transformações do mercado de trabalho desde o período colonial é cent...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Ferreira, Luiza Fernandes
Other Authors: Sato, Leny
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2013
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-19082013-100218/
Description
Summary:Sob a ótica da Psicologia Social, esta pesquisa de mestrado compreende a migração como um fenômeno social, com fatores históricos e políticos a serem analisados. Assim, o estudo de alguns aspectos da formação social do Brasil e as transformações do mercado de trabalho desde o período colonial é central para se compreender os deslocamentos de parte da população. A busca por sobrevivência e melhores condições de vida levam contingentes populacionais a migrarem, o que, tantas vezes, culmina em mais pobreza, processos de desenraizamento, discriminações e à uma vida também precária na \"cidade grande\". Deste modo, aos migrantes \"pobres\", marginalizados socialmente, desprotegidos pelo Estado e privados de seus direitos, resta a luta pela sobrevivência e a criação de mecanismos de enfrentamento próprios. Partindo destas questões, o presente estudo tem como objetivo: descrever as razões atribuídas por migrantes incluídos marginalmente na cidade de São Paulo ao seu processo de migração e suas impressões acerca da vida nesta cidade; identificar as táticas cotidianas utilizadas por estes migrantes ao enfrentar a situação de pobreza; as redes sociais que procuram neste enfrentamento; e como os equipamentos públicos comparecem nessa busca. A pesquisa foi realizada a partir de narrativas sobre a história de vida de cinco migrantes que vivem em uma região periférica da Zona Sul da cidade de São Paulo. Estas narrativas foram analisadas como testemunhos de sujeitos que contam, além de sua própria história e de outros, aspectos da formação da cidade de São Paulo e da história social do nosso país. Todos os participantes nasceram em zonas rurais do Nordeste, onde viviam em situação de extrema pobreza, com falta de recursos, exploração de trabalho e privação de direitos. A vinda para São Paulo é vista, antes de migrarem, como um progresso, como uma chance de ascensão social por meio do trabalho e de poder conduzir a própria vida sem ser conduzido por ela. Porém, quando chegam, a realidade na nova cidade é outra e a situação de pobreza continua. Não há espaço nas casas, não há espaço para eles. Trabalhos, quando surgem, são, na maioria das vezes, em situação de precariedade, com salários insuficientes para viver na cidade, com dificuldades até de garantir os mínimos da sobrevivência. Há ausência do Estado na garantia mínima de direitos a essas pessoas tanto na \"roça\", quanto na \"cidade grande\". Nas narrativas, muitas vezes, a pobreza aparece como um \"fracasso pessoal\", como um \"defeito\" do indivíduo, neutralizando, assim, os contextos históricos, sociais, políticos e econômicos de construção desta pobreza no Brasil. Sem ter seus direitos assegurados, estes migrantes precisam encontrar maneiras de \"se virar\" na cidade para tentar garantir algumas condições básicas de vida e, quem sabe, alguns destes direitos. Assim, inventam táticas astuciosas para enfrentar a situação de pobreza, sendo uma delas a busca por redes sociais de apoio. Os equipamentos públicos quase não aparecem nestas procuras por redes sociais. As rendas oriundas de alguns programas governamentais, quando existem, são pouco divulgadas, exigindo que enfrentem grandes adversidades para conseguí-las. A visão imbuída de preconceitos sobre o migrante aponta uma passividade, que não foi possível observar no presente estudo: estão em luta constante, em um contexto de privação de condições mínimas de sobrevivência. Como, enfim, trazer estas \"lutas\" para a linguagem dos direitos? Como transformá-las em atos políticos? === From the perspective of Social Psychology, this research comprises the migration as a social phenomenon, with historical and political factors to be analyzed. Thus, the study of some aspects of the social formation of Brazil and the transformations in the labour market since the colonial period is central to understanding the movements of part of the population. The quest for survival and better living conditions lead population quotas to migrate, often culminating in more poverty, processes of roots loss, discrimination and to an also precarious life in the big city. In this way, to the poor, socially marginalized migrants, unprotected by the State and deprived of their rights, remains the struggle for survival and the creation of self defense mechanisms. Based on these questions, the present study has as objective: to describe the reasons assigned for migrants marginally included in the city of São Paulo to their migration process and their impressions of life in this city; to identify the everyday tactics used by these migrants to address the situation of poverty; social networks to which they resort for this fight; and how the public facilities contribute in this quest. The survey was conducted from narratives about the life story of five migrants living in a peripheral region in the South Zone of the São Paulo city. These narratives were analyzed as testimonies of subjects that describe, in addition to its own history and of others, aspects of the formation of the city of São Paulo and the social history of our country. All participants were born in rural areas of the Northeast, where they lived in a situation of extreme poverty, with lack of resources, work exploitation and deprivation of rights. Coming to São Paulo is seen, before migrating, as progress, as a chance to social ascending through their work and the possibility of leading their lives without being driven by it. However, when they arrive, the reality in the new town is another and the situation of poverty continues. There is no space in the houses, there is no room for them. Jobs, whenever they come up, are, for the most part, precarious, with wages insufficient to live in the city, with difficulties to ensure the minimum of survival. There is absence of the State in a minimum of guarantees to the rights of these people both on the farm and in the big city. Quite often, in their narratives, poverty appears as a personal failure, as a defect of the individual, thus neutralizing the historical, social, political and economical contexts of the construction of this poverty in Brazil. Without having their rights assured, these migrants must find ways to get along in the city trying to ensure some basic living conditions and, who knows, some of these rights. Thus, they invent cunning tactics to address the situation of poverty, one being the search for social support networks. The public facilities almost do not appear in their description of their search for social support networks. Revenues from some government programs, when available, are poorly advertised, requiring them to face great adversity to attain those. The vision imbued with prejudices about the migrant indicates a passive atitude, that has not been possible to observe in this study: they are in a constant struggle, in a context of deprivation of minimum conditions for survival. How to bring these \"struggles\" to the language of rights? How to turn them into political acts?