Estudo psicanalítico sobre a gramática da maldade gratuita

A cultura ocidental contemporânea trouxe para a história do homem novas modalidades de crime e novos tipos de criminosos. A magnitude da destruição do outro alcançou cifras e situações sem precedentes. Embora Freud pensasse que, em princípio, os homens acertassem seus conflitos por meio da violência...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Brulhart-Donoso, Marie Danielle
Other Authors: Silva Junior, Nelson da
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2011
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-19072011-160217/
Description
Summary:A cultura ocidental contemporânea trouxe para a história do homem novas modalidades de crime e novos tipos de criminosos. A magnitude da destruição do outro alcançou cifras e situações sem precedentes. Embora Freud pensasse que, em princípio, os homens acertassem seus conflitos por meio da violência, nosso estudo foca um tipo específico de sofrimento infligido ao outro: aquela destruição da alteridade que traz consigo aspectos da ordem do excesso, onde não se encontra explicação para tal ação, denominada coloquialmente de maldade gratuita. Ao longo do trabalho tornou-se cada vez mais evidente que esse fenômeno não poderia nem ser examinado somente à luz da Psicanálise, nem ser desarticulado de seu contexto social, histórico e político. Abrimos, assim, o diálogo com a Filosofia e a História. Levantamos a hipótese de que o papel destrutivo do(s) algoz(es) pode ser vivido de duas formas diferentes: 1) a que pensa um malfeitor implicado em um cenário propiciador de prazer; 2) a que fala de um opressor que atua com total indiferença. Deixando de lado a violência do plano da cena sexual, focamos nosso estudo em circunstâncias não sexuais, strictu sensu. No campo da Filosofia, a contribuição de Hannah Arendt sobre a questão da banalidade do mal e sua retomada do conceito kantiano de mal radical pareceu-nos importante. Isso nos permitiu questionar a possibilidade da existência do mal fora da psicopatologia, como proposto pelos autores que acompanharam Arendt nesse capítulo. Chegamos à conclusão de que não existe maldade de fato gratuita porque para o opressor há sempre um sentido prévio que o leva a passar ao ato. Do ponto de vista da Psicanálise, no entanto, não há lugar para que pessoas banais no sentido arendtiano do termo - transformem-se em criminosos. Falamos assim da perversidade e do fenômeno da massa para pensar que tipo de moral está por trás dos massacres, tais como o Holocausto, Ruanda e Balkans, entre outros === The contemporary occidental culture brought to mans history new modalities of crimes and new types of criminals. The magnitude of destruction of the other reached unprecedented numbers and situations. Though Freud thought that, in principle, men settle their conflicts through violence, our study focus on a specific type of suffering inflicted to the other: that destruction of otherness that brings with it aspects of the order of the excess, where no explanation is found for such action, denominated colloquially gratuitous evil. Throughout the work it became more and more evident that this phenomenon could not be examined only in the light of Psychoanalysis, nor be disarticulated from its social, historical and political context. We opened thus the dialog with Philosophy and History. We raised the hypothesis that the destructive role of the executioner(s) can be lived in two different ways: 1) the one that sees the oppressor implicated in a scenario that generates pleasure; 2) the one that tells about a murderer who acts with total indifference. Leaving aside the violence of the sexual scene strictu sensu, we focused our study on non-sexual circumstances. In the field of Philosophy, the contribution of Hannah Arendt on the subject of the banality of evil and its return to the Kantian concept of radical evil seemed important to us. This allowed us to question the possibility of existence of evil outside psychopathology, as suggested by the authors who followed Arendt in this chapter. We came to the conclusion that there is no evil in fact gratuitous because for the oppressor there is always a previous sense that leads him/(her) to action. In the Psychoanalysis point of view, nevertheless, there is no place for banal people in the Arendtian sense of the word to transform themselves into criminals. We then speak of perversity and the mass phenomenon to think about what type of moral is behind of the massacres, such as the Holocaust, Rwanda and the Balkans, among others