Summary: | Esse trabalho discute a performance ritual e musical durante a Festa da Boa Morte e Glória realizada anualmente na segunda quinzena de agosto na cidade de Cachoeira, Recôncavo da Bahia. Elaborada através de elementos simbólicos, culturais, religiosos e de resistência política e social, a Festa da Boa Morte compreende performances musicais dentro de uma complexa performance ritual que é ao mesmo tempo coletiva e absolutamente restritiva. A Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte é um coletivo de mulheres idosas, todas religiosas enquanto praticantes do candomblé e do catolicismo popular. Como grupo a Irmandade é considerada elite na luta e resistência do negro contra o sofrimento e a escravidão no Brasil. As irmãs foram e são mulheres diferenciadas em vários sentidos: aos olhos da sociedade colonial eram chamadas de negras do partido alto; miticamente transgressoras da ordem masculina são consideradas iamis e organizadas em sacerdócio religioso unindo diferentes nações são donas do axé ou eleyes. As irmãs antigas compraram as alforrias de outros sacerdotes e sacerdotisas africanos, se comprometeram em garantir funerais dignos a si mesmas e aos seus, e mantém uma festa associada aos seus antepassados femininos (eguns) e aos seus orixás durante rituais católicos públicos e do candomblé (secretos). Segundo as irmãs, elas cumprem uma promessa feita pelas mais antigas: se todos os escravos fossem libertos elas cultuariam Maria na vida e na morte. Personagens narrando e encenando repetidamente performances, as irmãs desenvolvem seqüências rituais e musicais que vão da anunciação da morte ao velório de Nossa Senhora no primeiro dia da Festa. No segundo dia é realizado o enterro, e, no terceiro, demonstram sua crença na vida após a morte através da glorificação e assunção de Maria aos céus. Esses são os três principais momentos do ritual público, aos quais se seguem outros três dias de samba de roda que se fundem aos rituais secretos, já em desenvolvimento antes da Festa. O encerramento é marcado pela entrega de um presente às águas, para os orixás femininos Nanã, Iemanjá e Oxum. === This work discusses the musical and ritual performance during the Sisterhood of Good Death Celebration, which occurs in the second half of August in the city of Cachoeira, Recôncavo Area of Bahia. Involving symbolic, cultural, religious, social and political elements, the Sisterhood of Good Death Celebration engages musical performances inside a complex ritual performance that is at the same time collective and absolutely restrictive. The Sisterhood of Good Death is a collective of elderly women, all of them religious while devoted to candomblé and popular Catholicism. As a group, the Sisterhood is considered the elite in the stuggle of black people against oppression and slavery in Brazil. The Sisters were and still are distinguished women in many different ways: during the colonial period, they were called black women from the partido alto; mythically transgressing the dominant masculinity, they are considered iamis and organized in a religious ministry that congregates different candomblé nations. They are also the ones who possess the axé (eleyes). In the past, the sisters bought the manumission of other priests and priestesses, and commited to guaranteeing dignified funerals to themselves and to their people. The Celebration is associated with their female antecessors (eguns) and to their orixás during public catholic rituals and secret candomblé ceremonies. According to the sisters, they are living up to a promise made by their antecessors: If all the slaves were freed, they would all worship Mary in life and in death. Characters narrating and staging repeated performances, the sisters develop ritual and musical sequences which go from the annunciation of the death of the Virgin Mary to her vigil on the first day; on the second she is buried and on the third the Sisters demonstrate their belief in life after death through the glorification and elevation of Mary. These are the three most important moments of the public ritual, followed by three days of samba de roda . The samba takes place parallel to the development of the secret rituals started before the Celebration. On the last day of feast, the sisters deliver a gift to the waters, destinated to the female orixás Nanã, Iemanjá and Oxum.
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