A epidemiologia do câncer em crianças e adolescentes com Aids no Município de São Paulo: um estudo de base populacional

Introdução: A associação entre a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o câncer tem sido documentada desde os primórdios da epidemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). A introdução da highly active antirretroviral therapy (HAART) alterou, profundamente, o curso da epi...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Tanaka, Luana Fiengo
Other Authors: Latorre, Maria do Rosario Dias de Oliveira
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2017
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6132/tde-18042017-150014/
Description
Summary:Introdução: A associação entre a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o câncer tem sido documentada desde os primórdios da epidemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). A introdução da highly active antirretroviral therapy (HAART) alterou, profundamente, o curso da epidemia da Aids, reduzindo, drasticamente, a incidência de manifestações definidoras da síndrome, incluindo cânceres. No entanto, existem informações limitadas sobre a incidência de câncer em crianças e adolescentes com Aids vivendo em países em desenvolvimento. Objetivo: Descrever a epidemiologia do câncer em crianças e adolescentes com Aids no Município de São Paulo, no período de 1997 a 2012. Métodos: Trata-se de um estudo de base populacional, utilizando as bases de dados do Registro de Câncer de Base Populacional do Município de São Paulo e do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). As crianças e adolescentes (< 20 anos) com Aids e câncer foram identificadas por meio de um processo de linkage probabilístico entre as bases de dados supracitadas. Foram calculadas as taxas de incidência brutas e ajustadas por milhão de habitantes. Para comparar a incidência de câncer na população com Aids e a população geral foi calculada a razão de incidência padronizada (RIP) e respectivos intervalos de confiança de 95 por cento (IC 95 por cento ). A análise de tendência foi feita por meio do cálculo do annual percent change (APC) e IC 95 por cento correspondentes. A análise da sobrevida global de cinco anos após o câncer entre pacientes com Aids e na população geral foi calculada por meio do estimador produto limite de Kaplan-Meier e modelos univariados de riscos proporcionais de Cox. Mapas coropléticos em escalas monocromáticas foram gerados para descrever a distribuição de casos no Município. Resultados: Foram identificados 24 casos de câncer em pacientes com Aids menores de 20 anos, sendo 62,5 por cento cânceres definidores de Aids. Os cânceres mais incidentes foram o linfoma não Hodgkin, incluindo o linfoma de Burkitt (12; 50,0 por cento ), o linfoma de Hodgkin (6; 25,0 por cento ) e o sarcoma de Kaposi (3; 12,5 por cento ). A taxa bruta de incidência foi de 1.461,3 casos/milhão. A análise de tendência revelou redução significativa da incidência para todos os cânceres (APC= -14,5), influenciada pela queda nos cânceres definidores de Aids (APC= -17,0). O risco para câncer se mostrou aumentado (RIP= 3,9), sobretudo para o linfoma não Hodgkin, excluindo linfoma de Burkitt (RIP= 22,5), linfoma de Burkitt (RIP= 29,7) e linfoma de Hodgkin (RIP= 18,7). A probabilidade acumulada de sobrevida aos cinco anos foi de 56,3 por cento em crianças e adolescentes com Aids versus 87,5 por cento na população geral. A hazard ratio para óbito foi 5,2 (IC 95 por cento = 2,0; 13,6). O mapa da distribuição geográfica mostrou concentração dos casos nas áreas de classes sociais mais baixas do Município. Conclusão: Houve redução acentuada da incidência de cânceres definidores de Aids, como provável resultado da introdução da HAART. No entanto, crianças e adolescentes com Aids permanecem sob risco aumentado para o desenvolvimento de câncer quando comparadas à população geral. Para aquelas que desenvolveram câncer, o risco para óbito também se mostrou substancialmente elevado === Introduction: The association between human immunodeficiency virus (HIV) infection and cancer has been documented since the beginning of the epidemic of the acquired immunodeficiency syndrome (AIDS). The introduction of the highly active antiretroviral therapy (HAART) has profoundly altered the course of the AIDS epidemic, drastically reducing the incidence of AIDS-defining manifestations, including cancers. Nevertheless, there is limited information on the incidence of cancer in children and adolescents with AIDS living in developing countries. Objective: To describe the cancer epidemiology in children and adolescents with AIDS in the Municipality of São Paulo from 1997 to 2012. Methods: It is a population-based study, using the databases of the Population-based Cancer Registry of São Paulo and the Notifiable Diseases Information System (SINAN). Children and adolescents (< 20 years) with AIDS and cancer have been identified by means of a probabilistic record linkage process between the aforementioned databases. Crude and age-standardized incidence rates per million inhabitants were calculated. To compare the incidence of cancer in people with AIDS and that of the general population, standardized incidence ratio (SIR) and respective 95 per cent confidence intervals (95 per cent CI) were calculated. We examined trends by calculating the annual percent change (APC) and corresponding 95 per cent CI. The analyses of the overall five-year survival after cancer diagnosis among children and adolescents with AIDS and that of the general population were based on the Kaplan-Meier product limit estimator and univariate Cox proportional hazards models. Choropleth maps on monochromatic scales were generated to describe the distribution of cases across the Municipality. Results: We identified 24 cases of cancer in patients with AIDS aged 20 years and younger, of which, 62.5 per cent were AIDS-defining malignancies. The most incident cancers were non-Hodgkin\'s lymphoma, including Burkitt\'s lymphoma (12; 50.0 per cent ), Hodgkin\'s lymphoma (6; 25.0 per cent ) and Kaposi sarcoma (3; 12.5 per cent ). The age-standardized incidence rate was 1,461.3 cases/million. The trend analyses revealed a significant reduction in the incidence of all cancers (APC= -14.5), driven by the decrease in AIDS-defining cancers (APC= -17.0). The overall risk for cancer was significantly increased (SIR= 3.9), especially for non-Hodgkin lymphoma, excluding Burkitts lymphoma (SIR= 22.5), Burkitt\'s lymphoma (SIR= 29.7) and Hodgkin\'s lymphoma (SIR= 18.7). The overall probability of survival at five years after cancer was 56.3 per cent in children and adolescents with AIDS versus 87.5 per cent in the general population. The hazard ratio for death was 5.2 (95 per cent CI= 2.0, 13.6). The map of the geographical distribution showed a concentration of cases in the low-income areas of the Municipality. Conclusion: There was a marked reduction in the incidence of AIDS-defining cancers, likely to be a result of the introduction of HAART. However, children and adolescents with AIDS remain at increased risk for the development of cancer when compared to the general population. For those who developed cancer, the risk of death was also significantly higher