Escrita e autoria: vozes que constituem e atravessam o discurso do sujeito-professor

Pretendemos investigar, filiados à Análise de Discurso de linha francesa, a assunção (ou não) à autoria pelo sujeito - professor no contexto escolar, por meio de textos escritos. Pela Análise de Discurso, entendemos que o sujeito, considerado como posição discursiva, pode ocupar a posição - autor de...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Souza, Juliana Christina Rezende de
Other Authors: Pacifico, Soraya Maria Romano
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2010
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-17062011-100931/
Description
Summary:Pretendemos investigar, filiados à Análise de Discurso de linha francesa, a assunção (ou não) à autoria pelo sujeito - professor no contexto escolar, por meio de textos escritos. Pela Análise de Discurso, entendemos que o sujeito, considerado como posição discursiva, pode ocupar a posição - autor dependendo das condições de produção nas quais formula seus dizeres, costurando o intradiscurso (o fio discursivo) no interdiscurso (relação com outros discursos, o já-dito), historicizando, assim, o que diz. Utilizamos, para compreender o movimento do sujeito em relação à autoria no texto escrito, recortes de um corpus formado por 15 textos dissertativo-argumentativos produzidos por 03 sujeitos - professores que atuam no Ensino Fundamental na cidade de Ribeirão Preto. Para a produção desses textos, os sujeitos foram convidados à leitura de textos fílmicos, literário, científico que foram discutidos em 05 encontros, com o objetivo de fazer circular uma multiplicidade de sentidos sobre educação, tema central das produções dos sujeitos. Para compreendermos, então, o funcionamento do discurso dos sujeitos professores no contexto escolar, retomamos a tipologia discursiva de Orlandi (2006a), observando que o discurso pedagógico tende a ser autoritário, isto é, um discurso no qual o sentido aparece como único, não havendo espaço para que os interlocutores possam discutir (ou disputar) os vários sentidos possíveis a partir de suas interpretações/leituras sobre um texto ou qualquer outro objeto simbólico/discursivo, o que implica na forma como o sujeito exerce seu gesto interpretativo. Entendemos que para ocupar a posição de autor, é preciso trabalhar com a polissemia, com o discurso polêmico, criando condições para que o sujeito possa mobilizar, interpretar, colocar em jogo, os vários sentidos possíveis que as leituras dos diversos textos que circulam na escola podem trazer. Para falarmos de sujeito e autoria, retomamos ainda noções caras à Análise de Discurso, tais como formações ideológicas, formações discursivas e imaginárias, memória discursiva, arquivo, os quais conformam o lugar e as possibilidades de enunciar do sujeito. O autor, nessa perspectiva, deve ser responsável pelo que diz e se colocar na origem ilusória de seu texto, produzindo um efeito de coerência e de continuidade entre seu texto e ele próprio (ORLANDI, 2004; FOUCAULT, 2009a, 2009b). Nossas análises mostram que ao tecer um texto dissertativo-argumentativo, o sujeito-professor tende à reprodução dos sentidos, à paráfrase, o que acreditamos se dar devido a forma como o arquivo, seja como campo de documentos (PÊCHEUX, 1997b) ou como campo enunciativo que sustenta a possibilidade de dizer (FOUCAULT, 2009c) é tratado nas atividades escolares, desde as séries iniciais, tendendo à restrição, por meio da leitura, ao sentido permitido, que deve ser reproduzido nas atividades de linguagem ao longo dos anos escolares, o que interdita o acesso do sujeito, seja na posição de aluno ou de professor, à assumir a autoria. Vemos como possibilidade de criar condições para a assunção à autoria no contexto escolar, o trabalho com a polissemia, com o discurso polêmico, instaurando, assim, a possibilidade de o sujeito questionar os sentidos dados como legítimos por efeito da ideologia e tecer novos sentidos, inscrevendo-os no interdiscurso, historicizando-os. === We intended to investigate, based on the French Discourse Analysis, the assumption (or not) of the authorship by the subject teacher in the school context, through written texts. According to Discourse Analysis, we understand that the subject, taken as discursive position, can occupy the position of author depending on the production conditions in which he formulates his speeches, weaving the intradiscourse (the discursive thread) into the interdiscourse (relationship with other speeches, the alredy-said), historicizing, this way, what is said. We used, to understand the subject\'s movement in relation to the authorship in the written text, cuttings of corpus consisting of 15 dissertational-argumentative texts produced by 03 teacher subjects that work in the Elementary and Middle School in the city of Ribeirão Preto. For the production of those texts, the subjects were invited to read a serious of movie, literary and scientific texts, with where then discussed in five meetings in with the objective was to allow the circulation of a multiplicity of meanings about education, the focal theme of the subject´s productions. To comprehend the working of the teacher subject discourse in the school context, we retook the discursive typology by Orlandi (2006a), observing that the pedagogic discourse tends to be authoritarian, that is, a discourse in which the meaning appears as unique; the speakers don\'t have the opportunity to discuss (or to argue) the several possible meanings based their interpretations/readings of a text or any other symbolic/discursive objective, which implicates in the way as the subject exerts his interpretative gesture. We understand that to occupy an author\'s position, it is necessary to work with the polysemy, with the polemical discourse, creating the conditions for the subject to mobilize, to interpret, to consider, the several possible meanings that the readings of the various texts that circulate at the school can bring. To speak about subject and authorship, we still we also considered some highly regarded notions of the Discourse Analysis, such as ideological formations, discursive and imaginary formations, discursive memory, archive, which conform the place and the possibilities of enunciation of the subject. The author, in that perspective, should be responsible for what he says and puts himself in the illusory origin of his text, producing an effect of coherence and continuity between his text and himself (ORLANDI, 2004; FOUCAULT, 2009a, 2009b). Our analyzes show that when weaving a dissertational-argumentative text, the teacher subject leans towards the reproduction of the meanings, to the paraphrase, what we believe is do to the way the archive, either as a documental field (PÊCHEUX, 1997b) or as enunciative field that sustains the possibility to saying (FOUCAULT, 2009c) is treated in the school activities, since the initial series, leading to the limitation, through the reading, to the allowed meaning, witch should be reproduced in the language activities along the academic years, what obstruct the subject\'s access, regardless of his position, as student or teacher, to assume the authorship. The work with the polysemy, with the polemic discourse, establishing the subject possibility to question the meanings taking as legitimate by effect of the ideology, to weave new meanings, enrolling them in the interdiscourse and historicizing them, opens, in our view, the pathway to create the conditions for the assumption of the authorship in this context.