Summary: | Introdução: As características do trabalho dos profissionais de enfermagem podem influenciar na presença de fatores de risco cardiovascular e entre aqueles que atuam na assistência a pacientes com câncer, as doenças cardiovasculares representam uma das principais causas de absenteísmo. A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco cardiovascular e o seu desenvolvimento está relacionado ao estresse crônico. A carga alostática tem sido utilizada para avaliar indiretamente o estresse crônico, a partir do funcionamento dos sistemas cardiovascular, imunológico, metabólico e neuroendócrino e, predizer morbidade e mortalidade em alguns segmentos populacionais. No entanto, até o momento, não foi realizado estudo em âmbito nacional no Brasil, avaliando a relação da carga alostática com variáveis biopsicoemocionais. Objetivos: Avaliar o risco cardiovascular e prevalência de fatores de risco, com destaque para a hipertensão arterial, e a carga alostática em profissionais de enfermagem que atuam na assistência oncológica. Método: Participaram do estudo 231 profissionais de enfermagem [63,6% técnicos/auxiliares de enfermagem; 82,7% mulheres; idade de 39,6 (DP=8,3) anos] selecionados por amostragem aleatória simples. A medida casual da pressão arterial foi realizada com aparelho automático validado e a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) com aparelho oscilométrico validado, durante 24 horas. Foram realizadas medidas antropométricas e avaliação de bioimpedância. A hipertensão foi considerada na vigência de pelo menos um dos critérios: medida casual 140/90 mmHg, hipertensão arterial referida ou uso de anti-hipertensivos. As variáveis psicoemocionais foram mensuradas através de instrumentos: a) Burnout, Maslach Burnout Inventory; b) transtornos mentais comuns, Self Reporting Questionnaire (SRQ 20); c) estresse no desempenho das atividades de trabalho, Escala de Estresse no Trabalho (ETT); e d) sono, Pittsburg Sleep Quality Index (PSQI). Foi realizada coleta de sangue dos participantes, com 12 horas de jejum para exames de: glicemia, colesterol total e frações, triglicérides, hemoglobina glicada, cortisol plasmático, fibrinogênio, proteína C-reativa ultrassensível e creatinina. A estratificação de risco cardiovascular foi realizada por meio do Escore de Risco Global (ERG) e Risco pelo Tempo de vida (ETV) e, o estresse crônico por meio do Índice de Carga Alostática (ICA), obtido através de Biomarcadores do Estresse. As variáveis que apresentaram associações estatisticamente significativas na análise univariada foram submetidas à análise multivariada por meio da regressão de Poisson com variância Robusta, estimando-se razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança de 95%. Valores de p0,05 foram considerados significantes. O estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CAAE:13329513.3.0000.5392) das instituições envolvidas. Resultados: A prevalência de hipertensão arterial referida foi 25,5% e, a identificada, 35,1%. As prevalências de níveis pressóricos alterados pela MAPA foram: 24 horas-30,0%, vigília-26,0% e sono-40,4%. Os fatores de risco cardiovascular referidos foram: sedentarismo-65,4%, dislipidemia-28,1%, etilismo-10,1%, diabetes mellitus-6,5%, tabagismo-6,1%. Verificou-se ainda, que os participantes apresentaram: sobrepeso ou obesidade (69,7%), circunferência da cintura aumentada (70,1%), gordura corporal alta/muito alta (81,0%), músculo esquelético baixo (50,2%), idade corporal acima da real (73,2%), proteína C reativa alterada (80,1%), HDL-colesterol limítrofe/baixo (62,4%), colesterol total limítrofe/alto (42,4%), fibrinogênio elevado (19,1%), cortisol elevado (49,4%) e 2,2% com cortisol diminuído, com hemoglobina glicada alterada (25,4%), creatinina > 1,3 mg/dL (0,4%) e 0,9% com doença renal crônica. A síndrome metabólica esteve presente em 25,1%. A hipertensão do avental branco ocorreu em 8,2%, a hipertensão mascarada em 19,8%, descenso do sono atenuado ou ausente sistólico (52,5%) e (30,5%) diastólico. Quanto às características relacionadas ao trabalho observou-se que 46,7% tinham 2-3 vínculos empregatícios, trabalhavam em média 51,9 (DP=15,0) h/semana, 53,2% eram plantonistas diurnos, 59,7% trabalhavam em turnos e 40,0% tinham formação com residência ou especialização. Em relação às variáveis psicoemocionais, a maioria dos profissionais apresentou estresse moderado/alto (66,6%), transtornos mentais comuns (57,6%) e má qualidade do sono (78,8%). A prevalência de burnout foi de 39,0% e a maioria apresentou alto nível nas três subescalas (exaustão emocional=55,0%; despersonalização=64,1% e baixa realização profissional=73,2%). A prevalência de carga alostática elevada foi de 58,0%, e 28,2% apresentaram risco cardiovascular intermediário/alto pelo ERG e 3,0% alto risco cardiovascular pelo ETV. As variáveis associadas, independentemente, ao risco cardiovascular foram (RP: razão de prevalência; IC95%: intervalo de confiança): maior número de filhos (1,19;1,02-1,40); formação com residência, especialização ou mestrado (0,38; 0,24-0,58); maior idade corporal (1,02;1,002-1,030); fibrinogênio elevado (2,07; 1,19-3,60); hipertensão arterial referida (0,34; 0,23-0,53); concordar em parte que o controle existente no trabalho irrita (0,51; 0,32-0,82) e que a falta de informações sobre as tarefas no trabalho incomoda (1,76; 1,09-2,87). As variáveis associadas à carga alostática elevada foram: concentração diminuída durante o plantão raramente/nunca (1,36; 1,05-1,76); hipertensão do avental branco (1,82; 1,39-2,38); comer alimentos doces entre 1 e 4 dias por semana (1,48; 1,13-1,93) e entre 5 a 7 dias por semana (1,53; 1,16-2,02); e, pressão arterial sistólica média da MAPA do período de 24 horas (1,01; 1,003-1,021). As variáveis associadas independentemente à hipertensão arterial foram: idade 50 anos (2,41; 1,15-5,07); maior idade corporal (1,02; 1,01-1,03); hábito de medir a pressão arterial regularmente (0,68; 0,50-0,93); e fazer tratamento de saúde (1,48; 1,09-2,01). As variáveis associadas independentemente aos níveis pressóricos alterados na MAPA de 24 horas foram: idade 50 anos (3,66; 1,16-11,60); idade corporal a idade real (0,46; 0,27-0,81); e hipertensão arterial referida (0,53; 0,34-0,80). Para a MAPA de vigília foram: tempo de formação profissional entre 10 a 14 anos (2,95; 1,06-8,20) e entre 15 a 24 anos (RP=3,16; 1,14-8,76); maior idade corporal (1,02; 1,001-1,032); e hipertensão arterial referida (0,45; 0,28-0,74). Para a MAPA do período de sono foram: sexo masculino (1,62; 1,18-2,24); idade 50 anos (2,50;1,13-5,60); trabalhar como plantonista diurno (2,38; 1,04-5,45) ou como plantonista noturno (2,47; 1,07-5,70); uso anterior ou atual de antidepressivos (1,43;1,05-1,94); sobrepeso/obesidade (2,45; 1,42-4,23); síndrome metabólica (1,64; 1,21-2,22) e hipertensão arterial identificada (1,53; 1,13-2,09). Conclusões: A prevalência de hipertensão foi elevada, a maioria dos profissionais de enfermagem apresentou sobrecarga alostática e aproximadamente um terço risco cardiovascular intermediário/alto, sugerindo que o processo de trabalho possa estar relacionado a esses achados. === Introduction: Work characteristics of nursing professionals can influence the presence of cardiovascular risk factors and among those working in the care of patients with cancer, cardiovascular diseases are a major cause of absenteeism. The arterial hypertension is the major risk factor for this type of diseases and its development is related to chronic stress. The allostatic load allows assessing indirectly the chronic stress based on the cardiovascular, immune, metabolic and neuroendocrine systems and predicts morbidity and mortality in few population segments. However, until now, we did not find Brazilian studies evaluating the relationship of allostatic load with bio-psycho-emotional variables. Objectives: To assess the cardiovascular risk and the prevalence of risk factors, with emphasis on hypertension and allostatic load of a nursing team working in oncology setting. Method: The study included 231 nursing professionals [63.6% nursing aides/36.4% nurses; 82.7% women; mean age 39.6 (SD=8.3) years] selected by simple random sampling. We applied a validated automatic device to measure the casual blood pressure and an oscillometric device validated during 24 hours to assess the Ambulatory Blood Pressure Monitoring (ABPM). Anthropometric measurements and bioimpedance evaluation were also done. Hypertensive individuals were those who met at least one of next criteria: casual measurement 140 / 90 mmHg, referred hypertension or use of antihypertensive drugs. Psycho-emotional variables were measured by means of the instruments: a) Burnout, Maslach Burnout Inventory; b) Common mental disorders, Self Reporting Questionnaire (SRQ 20); c) Stress in the performance of work activities, Scale of Stress at Work (ETT) and d) sleep, Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI). Blood collection was carried out with participants under 12-hour fasting for: blood glucose, total cholesterol and triglyceride levels, glycated hemoglobin fractions, plasma cortisol, Fibrinogen, C-reactive protein ultrasensitive and creatinine. The cardiovascular risk stratification was performed through the Global Risk Score and Risk for Lifetime; and the chronic stress through allostatic load index, obtained for stress biomarkers. The variables showed statistically significant associations in the univariate analysis that were subjected to multivariate analysis by Poisson regression with robust variance, with prevalence ratio estimative and 95% confidence interval. The Committees on Research Ethics of the participant institutions approved this study (CAAE: 13329513.3.0000.5392). Results: 25.5%, of the sample referred hypertension, but we identified 35.1% with this disease. The prevalence of blood pressure changed according ABPM: 24 hours-30.0%, daytime-26.0% and nighttime-40.4%. The prevalence of cardiovascular risk factors was: physical inactivity-65.4%, dyslipidemia-28.1%, alcohol consumption-10.1%, diabetes mellitus-6.5% and smoking-6.1%. We also verified: overweight or obesity (69.7%), increased waist circumference (70.1%), body fat high/very high (81.0%), low skeletal muscle (50.2%), body age above the real age (73.2%), changed c-reactive protein levels (80.1%), and borderline/low HDL cholesterol (62.4%) and borderline/high total cholesterol (42.4%). Additionally, 19.1% of nursing team showed high Fibrinogen levels, 49.4% high cortisol, 2.2% decreased cortisol, 25.4% high levels of changed glycated hemoglobin, 0.4% creatinine above 1.3 mg/dL and 0.9% chronic kidney disease. The metabolic syndrome (25.1%), the white coat hypertension (8.2%), the masked hypertension (19.8%), and the attenuated or absent sleep decline systolic (52.5%) and diastolic (30.5%) were also diagnosed. Regarding the work-related characteristics, 46.7% of the population had 2-3 employments - working 51.9 (SD = 15.0) h / week in average- 53.2% were daytime workers, 59.7% worked on shifts and 40.0% had residency or specialization degrees. About the psycho-emotional variables, most professionals presented moderate/high stress (66.6%), mental disorders (57.6%) and poor sleep quality (78.8%). The prevalence of burnout was 39.0% and the levels in the MBI subscales were high: emotional exhaustion = 55.0%, depersonalization= 64.1%, and low professional accomplishment= 73.2%. Allostatic load was high (58.0%), the cardiovascular risk was intermediate / high for ERG (28.2%) and high for ETV (3.0%). The variables associated with cardiovascular risk included (PR: prevalence ratio, 95% CI: confidence interval): more children (1.19; 1.02 to 1.40); accomplishment of residency, specialization or masters degrees (0.38; 0.24 to 0.58); high body age (1.02; 1.002 to 1.030); high fibrinogen (2.07; 1.19 to 3.60); reported hypertension (0.34; 0.23 to 0.53); agree in part that \"the existing control at work irritates\" (0.51; 0.32 to 0.82) and that \"the lack of information about the tasks at work bothers\" (1.76; 1.09 to 2,87). The variables associated high allostatic load were: concentration decreased during the call often/sometimes (1.36; 1.05 to 1.76); white coat hypertension (1.82; 1.39-2.38); intake of sweet food between 1 and 4 days per week (1.48; 1.13 to1.93) and 5 to 7 days a week (1.53, 1.16 to 2.02); and and systolic mean in 24-hour ABPM (1.01; 1.003-1.021). The variables associated with hypertension were: age 50 years (2.41; 1.15 to 5.07); age (1,02; 1,01 to 1,03); habit to measure blood pressure regularly (0,68; 0,50 to 0,93); and health treatment (1.48; 2.01 to 1.09). The variables associated with the changed pressure levels in 24-hour ABPM were: age 50 years (3.66; 1.16-11.60); body age below the actual age (0.46; 0.27-0.81); and reported hypertension (0.53; 0.34-0.80). The variables independently associated with pressure levels changed in the daytime ABPM were: training time from 10 to 14 years (2.95; 1.06 - 8.20) and between 15 to 24 years (3.16; 1.14-8.76); higher body age (1.02; 1.001 - 1.032); and reported hypertension (0.45; 0.28-0.74). The variables associated with the changed pressure levels in the nighttime ABPM were: male (1.62; 1.18-2.24); age 50 years (2.50; 1.13-5.60); the work as daily (2.38; 1.04-5.45) or night duty (2.47; 1.07 - 5.70); previous or current use of antidepressants (1.43; 1.05-1.94); overweight / obesity (2.45; 1.42-4.23); metabolic syndrome (1.64; 1.21-2.22) and identified arterial hypertension (1.53; 1.13-2.09). Conclusions: The hypertension prevalence was high, most professionals presented high allostatic load and about one third had intermediate / high cardiovascular risk. It suggests that the work setting may be related to these findings.
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