Summary: | Voyage au bout de la nuit, do escritor francês Louis-Ferdinand Céline, obteve uma grande repercussão nos círculos literários e junto ao público em 1932, ano de seu lançamento. Por uma linguagem popular e virulenta até então ausente da literatura francesa e pela violência com que seu herói Ferdinand Bardamu denunciava as injustiças da sociedade, o livro de estréia de Céline causou um forte impacto e, até hoje possui um lugar à parte no cenário literário. Um dos fatores responsáveis por esse impacto seria sem dúvida, a inovação perpetrada à língua francesa uma vez que seu autor pretendia renová-la a partir da linguagem oral e popular. O romance apresenta um duplo movimento de protesto: a denúncia virulenta de seu protagonista e o golpe desferido no âmago da língua literária acadêmica. Grande parte de sua repercussão, deveu-se em larga escala a essa escolha lingüística considerada inovadora e revolucionária para os padrões da época. A invenção de Céline de escrever como se fala seria uma espontaneidade aparente, pois, seu estilo nada tem de natural, ao contrário, é artifício, resultado de um longo trabalho. Se a escolha de uma língua criada a partir de tal registro escandalizou os leitores de sua época, hoje em dia, o impacto do romance decorre nem tanto da linguagem e mais da violência com que Bardamu se refere a seus semelhantes. Gostaríamos no presente trabalho de esboçar uma análise das duas forças do texto - o estudo da escritura e do universo criados por Céline. A abordagem de sua viagem nos conduziria à percepção de um mundo criado a partir de uma dimensão onírica, pois uma viagem imaginária é anunciada desde a epígrafe do romance: Nossa viagem, a nossa, é inteiramente imaginária. A viagem ao fim, ao fundo da noite empreendida por Céline teria a acepção do caminho lento e gradual para a morte. O mergulho dentro de tal universo nos remeteria também à porção autobiográfica sugerida na obra celiniana, visto que os itinerários de Bardamu e de Céline seriam convergentes. Enfim, esse estudo nos permitiria refletir sobre o uso de uma língua construída sobre um código oral-popular dispositivo utilizado pelo autor para introduzir na linguagem escrita a emoção do falado. === Journey to the end of the night (Voyage au bout de la nuit), by the French author, Louis- Ferdinand Celine, caused a stir in literary circles and the public at large when it was launched in 1932. Its vitriolic tone and the popular idiom in which it was written were quite unprecedented, as was the vehemence with which Ferdinand Bardamu decried social injustice. This, the first book written by Celine, created a huge impact and until today continues to occupy an important place in the world of literature. The authors intention to breathe new life into the French literary canon by introducing the popular idiom into the written language was, without doubt, one of the factors behind this impact.The form of protest adopted by the novel is two-pronged: alongside the vehement denunciation of an absurd world, was the blow which was aimed at the very heart of academic literary language. There can be no doubt that the vast resonance created by the work is the result of this choice of language, which was considered to be both innovative and revolutionary when judged by the standards of its time.Today, Celines invention of writing the way we speak, has a particular air of spontaneity, which would have been lost, had the author instead resorted to the artifice of a more elaborate style. If the choice of language set off a wave of resounding scandals at the time, nowadays it is not the language, but rather the violent manner in which Bardamu refers to his peers that creates a similar impact upon contemporary readership. The purpose of this study is therefore to examine the two driving forces behind the text: the writing and Celines universe. The manner in which the voyage is approached leads to the perception of a world wrought from a dreamstate dimension, since it is an imaginary voyage which is announced in the foreword of the novel. This journey of ours is entirely imaginary. The journey to the nights end, undertaken by Celine has the sense of a slow and deliberate journey towards death. Once immersed in this universe, we are led to a place where the itineraries of Bardamu and Celine converge, suggesting strong autobiographical associations. Finally, this analysis allows us to reflect on the usage of a language constructed upon the code of a popular idiom, a mechanism used by its creator to introduce the paradox of emotive reasoning expressed in the popular idiom, into the written language.
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