Lacuna e enunciação no ensino de Física: quando a Física é mágica

Quando pensamos o ensino e aprendizagem de Física a partir de interações discursivas (BAKHTIN, 1995) e começamos a nos preocupar com a maneira pela qual os alunos se apropriam dos signos e linguagens da ciência, algumas perguntas precisam ser elaboradas: Que imagens de mundo, que representações da r...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Ortega, Jose Luis Nami Adum
Other Authors: Mattos, Cristiano Rodrigues de
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2012
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/81/81131/tde-13092012-153916/
Description
Summary:Quando pensamos o ensino e aprendizagem de Física a partir de interações discursivas (BAKHTIN, 1995) e começamos a nos preocupar com a maneira pela qual os alunos se apropriam dos signos e linguagens da ciência, algumas perguntas precisam ser elaboradas: Que imagens de mundo, que representações da realidade o aluno começa a formar quando toma contato com as palavras da ciência? Elas estão de acordo com aquela que o professor pretende estruturar? O professor tem consciência da diferença que há entre sua visão e a dos alunos? Sabemos que não são idênticas (MORTIMER, 2000), que há lacunas entre elas, e isso nos leva a outra série de perguntas: Quais lacunas de entendimento podem ser identificadas no processo dialógico entre professores e estudantes no ensino de Física? Que situações produzem essas lacunas? Como essas lacunas impossibilitam a construção de sentido? O professor percebe os tipos de lacuna que cria? O professor consegue eliminar ou criar lacunas necessárias para amparar o aluno no processo de construção negociada de conhecimento? A criação negociada de significados faz parte de um recente programa de investigação cujos elementos ainda são pouco conhecidos: a interferência dialógica dos professores na construção de significados, os diferentes tipos de discurso e seu papel na aprendizagem, as transformações no valor que os estudantes atribuem ao conhecimento, nos processos de interação etc. Dado que o conhecimento não é simplesmente o acesso às informações do mundo exterior, armazenadas na memória, e dado que pressupõe interações e negociações sucessivas de significados entre os sujeitos em relação, num dado contexto cultural, é na estruturação dessas negociações de significado que se situa a origem das lacunas. Nessas negociações, não basta que a informação seja recebida pelos sujeitos, mas é preciso negociar sua hierarquia, seus critérios de classificação, sua relação com os objetos do mundo e seus conteúdos de valor (RODRIGUES; MATTOS, 2007). Assim, propomos pensar o ensino-aprendizagem de Física na dinâmica de produção e apropriação de um gênero que articula diversas formas discursivas pelas quais os sujeitos transitam nas relações comunicativas. A tomada de consciência das formas discursivas, dados os contextos culturais em que se inserem, demarca momentos importantes da apropriação de gêneros que evidenciam o estabelecimento de domínios consensuais e a compreensão dos signos em jogo. Em nossa abordagem linguística, procuramos estabelecer critérios de classificação para os níveis de interação discursiva, e caracterizar os estados de incompreensão e erro por meio de uma analogia com a ilusão na Arte Mágica. Com essa analogia, pretendemos explorar a intencionalidade do discurso educativo e os efeitos que produz nos seus interlocutores. Finalmente, por meio da análise qualitativa de registros escritos, levantamos elementos que nos permitiram analisar e classificar o que chamamos de discurso lacunar no processo de ensino-aprendizado de Física. === When we think about teaching and learning Physics from discursive interactions (Bakhtin, 1995) and begin to concern ourselves with the way in which students take ownership of scientific signs and languages, some questions need to be posed: What are the images of world, representations of reality students create when they come into contact with the words of science? Do they agree with what the teacher wants to structure? Is the teacher aware of the difference between his vision and the students? We know that they are not identical (MORTIMER, 2000), that there are gaps between them and this leads us to another series of questions: What gaps can be identified in the dialogue process between teachers and students in teaching Physics? What situations produce such gaps? How can these gaps impede the construction of meaning? Does the teacher realize the types of gap that are created by him? Can he manage the gaps to support students in the process of negotiated construction of knowledge? The negotiated creation of shared meanings is part of a recent research program whose elements are still poorly known: the interference of teachers in the dialogic construction of meaning, the different types of discourses and the role they play in learning, the different values students attribute to scientific knowledge in the interaction processes and so on. If we assume that knowledge is not simply access to information from the outside world, stored in memory, and if we assume knowledge requires successive interactions and meaning negotiations among individuals in a given cultural context, then we understand that the origin of the gaps lies in structuring of these negotiations. In these negotiations, the fact that individuals receive information is not a sufficient condition to understanding; we need to negotiate its hierarchy, its classification criteria, its relationship with other objects of the world and its contents of value (RODRIGUES; MATTOS, 2007). Thus, we propose thinking about the teaching and learning of Physics in the dynamics in producing and appropriating oneself of a genre which combines several discursive forms, by means of which individuals establish communicative relations. The awareness of discursive forms, given the cultural contexts in which they operate, marks important moments of the appropriation of genres that demonstrate the establishment of areas of consensus and understanding signs at stake. In our linguistic approach we seek to establish classification criteria for levels of discursive interaction, and to characterize the states of misunderstanding and error by creating an analogy with the illusion in the magic art. With this analogy we intend to explore the intentionality of the educational discourse and the effects it produces on the interlocutors. Lastly, we will carry out a qualitative analysis of written records, and raise elements that enable us to analyze and classify what we call gaps in the process of teaching and learning Physics.