Summary: | Em seu uso original, a suspensão corporal era parte de rituais realizados em culturas milenares na índia e onde hoje são os Estados Unidos. Essa prática envolve a suspensão de uma pessoa por ganchos cravados em sua pele. A partir dos anos 1960, ela foi reapropriada e tem sido realizada especialmente em centros urbanos, geralmente, por pessoas que possuem modificações corporais - piercings, tatuagens, escarificações, implantes, brandings etc. Neste trabalho, pretendemos compreender os sentidos em torno dessa retomada, suas diferentes funções na vida dos praticantes contemporâneos e o que ela diz de nossa cultura. Com base em uma leitura inspirada em Winnicott, contrapomos a análise de relatos com o desenvolvimento infantil e sugerimos que essas práticas permitem avivar o sentimento de si como parte de um processo que possibilita novas formas de estar no mundo. Ao final, discutimos como a suspensão praticada atualmente só pode ser compreendida em sua inserção na cultura pós-moderna, seja por utilizar elementos extremamente contemporâneos - como a busca por uma performance esteticamente fascinante -, seja por tentar solucionar alguns impasses atuais - como o lugar destinado ao corpo em uma sociedade bastante mediada por imagens. Enfim, compreendemos que as mudanças culturais, de alguma forma, alteram o modo de experimentação do corpo. Contudo, há algo na experiência de suspensão corporal que não pode ser dito, um mistério compartilhado apenas por quem a viveu na própria carne. Como forma de circundar esse mistério, nós procuramos não apenas descrever e conceitualizar a suspensão, mas explorar a experiência de pesquisa do tema como via de acesso à prática propriamente dita. === Body suspension, in its origins, was part of rituals carried out in ancient societies like India and Native American cultures. This practice involves the suspension of the person by means of pierced hooks in the skin. It has been going under a rebirth since the sixties, especially in urban centers, and mostly by people whom already possess some kind of body modifications - piercing, tattooing, scarifications, implants, brandings, etc. The present study dedicates itself to understand the meanings around this rebirth and the different functions it may have in the life of contemporary practitioners, as well as to inquire if it has something to say about our own culture. Based on Winnicott\'s approach, we match the analysis of stories with the infantile development and suggest that these practices allow awakening the feeling of the self as part of a process that makes possible new forms to be in the world. Finally, we argue that the contemporary practice of suspension can be understood only in its insertion in the postmodern culture, either for using extremely contemporary elements - such as the search for a fascinating aesthetic performance - either for trying to solve some current setbacks - such as the place destined to the body in a society strongly mediated by images. At the end, we understand that cultural changes somehow modify the way we experiment our bodies. However, there\'s something left unsaid in the experience of body suspension, something of a mystery shared only by these whom experienced it in their own flesh. We tried to circle around this mystery by means of describing the suspension in its very concept, but also by means of exploring the research experience as a gateway to the practice itself.
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