Summary: | Esta dissertação é o resultado da pesquisa sobre o deslocamento de bolivianos para a cidade de São Paulo a partir de histórias de vida de alguns desses imigrantes. Realizadas para o título de Mestre no Programa de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, as pesquisas foram desenvolvidas entre 2009 e 2012. Baseamo-nos na noção de colonialidade do saber, formulado por Boaventura de Sousa Santos, para compreender como os deslocamentos de populações em direção aos centros do capitalismo, que, com a esperança de integrarem-se no mundo globalizado, revelaram as impossibilidades no Século XXI da expansão dos direitos fundamentais. Por meio da História Oral, registramos histórias de vida nas quais foram expostos valores a respeito do mundo contemporâneo, daqueles que, por serem imigrantes, sentem-se como estrangeiros em terras brasileiras. Estes sujeitos, em suas narrativas, demonstraram as faces perversas da globalização e a fragilidade da racionalidade ocidental, a qual não constrói novas dimensões de saberes necessários neste momento histórico. A análise das entrevistas foi feita tendo como referência autores como Abdelmalek Sayad, para quem os deslocamentos são um fato social total, Silvia Rivera Cusicanqui, defensora da revalorização de saberes alternativos à lógica ocidental dominante, e Axel Honneth, que investiga o processo de sociabilização dos sujeitos e as formas de reconhecimento ou desrespeito que dele derivam. Reproduzidas na íntegra, as histórias de vida revelaram a imigração em toda a sua complexidade, por isso elas foram analisadas sob diversos prismas, entre eles: a subcidadania e a vulnerabilidade dos imigrantes indocumentados resultado do não acesso aos direitos fundamentais; o impacto da experiência da migração nas trajetórias individuais; os efeitos do preconceito e a discriminação na identidade dos grupos que ocupam posições subalternas; e, finalmente, a importação de trabalhadores como um mecanismo de produção de desigualdades. Defendeu-se nesse trabalho a idéia da necessidade da interculturalidade, pois saberes tradicionais são tão necessários como os conhecimentos oriundos das novas formas tecnológicas. Uma ecologia do Sul pode representar um novo modo de reinventar as solidariedades perdidas. === This dissertation is the result of the research about Bolivian migration to São Paulo city, having some of migrants life stories as our starting point. The research, carried out for the Master degree in the History Program of the Philosophy, Linguistics and Human Sciences College of University of São Paulo, was developed from 2009 to 2012. The notion of coloniality of knowledge, formulated by Boaventura de Sousa Santos, is fundamental for the understanding of populations displacements forward the centers of capitalism. These people, in the hope of being part of the globalized world, reveal the impossibilities of the expansion of fundamental rights in the 21st century. Through the Oral History methodology, we registered life stories in which appreciations of contemporary world were exposed by those who feel like foreigners in Brazilian lands, because of their immigrant status. These people demonstrated in their narratives the perverse faces of globalization and the fragility of western rationality, which does not build new dimensions of knowledge that are necessary in this historical moment. The analysis of the interviews was done having as references authors like Abdelmalek Sayad, for whom the displacements are a total social fact, Silvia Rivera Cusicanqui, who defends the revalorization of knowledge that are alternative to the dominant western logic, and Axel Honneth, who investigates the socialization process of persons and the ways of recognition or disrespect that derive from it. Reproduced on the whole, the life stories revealed the migration in all its complexity, and for that they were analyzed under varied perspectives: the sub-citizenship and vulnerability of immigrants undocumented -, result of the denied access to fundamental rights; the impact of migration experience in individual journeys; the effects of prejudice and discrimination in the groups identities that occupy subaltern positions in society; and, finally, the importation of workers as a mechanism that produces inequalities. We argued in this paper that intercultural society is necessary, given that traditional cultures and knowledge are as important as the ones that come from the new technologies. A South Ecology can represent a new way of reinventing the lost solidarities.
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