Carnifágia malvarosa: as violações na Suma Poética de Jorge de Lima

Os signos do paradoxo e da contradicção são intrínsecos ao poema Invenção de Orfeu (1952) de Jorge de Lima (1893-1953), desde sua intermitente teorização sobre o ato criativo, situado entre o engenhoso e o místico, entre o órfico e o sirênico, entre natura naturata e natura naturans, até a inconstan...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Ribeiro, Daniel Glaydson
Other Authors: Fonseca, Maria Augusta Bernardes
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2016
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-11082016-151600/
Description
Summary:Os signos do paradoxo e da contradicção são intrínsecos ao poema Invenção de Orfeu (1952) de Jorge de Lima (1893-1953), desde sua intermitente teorização sobre o ato criativo, situado entre o engenhoso e o místico, entre o órfico e o sirênico, entre natura naturata e natura naturans, até a inconstante modulação dessa teoria pela crítica, que chega a convergir, não obstante as polêmicas, na consideração da obra como um difícil volume de altos e baixos, em sentido estritamente qualitativo. Esta tese intenta demonstrar como, em seu inteiro teor, a Invenção de Orfeu está calcada em uma manipulação soberana e mesmo tirana das formas, que redesenha a ars inveniendi barroca a fim de expor a errância e a violação que habitam o interior da Técnica. Dito no sentido teológico latente à Suma Poética limiana, ela demonstra como a essência corruptível que se atribui apenas à matéria, seja ela a linguagem, o sujeito ou a História, emana, desde o início, da própria Forma. Propõe-se aqui uma arqueologia dos três estratos de significado da Invenção de Orfeu, o metalinguístico, o autobiográfico e o histórico, assim como um modo de compreender a patente dialética entre o épico e o lírico através de sua síntese dramática, na trama das vozes actantes que configuram os subpoemas ou no drama sexual e antropofágico que se desenrola entre Musa, rapsodo e Guias (ou comparsas). Tem ainda importância central neste trabalho o conjunto epigráfico da Invenção, que funciona como um mapa estratégico-composicional, articulando em si o dilema da traição e da continuidade entre a literatura sagrada e a profana. O capítulo I coloca em pauta a obra marginal do autor e as epígrafes bíblicas; e analisa as intersecções entre camadas de significado, matrizes e gêneros. O capítulo II detém-se sobre a epígrafe de Guillaume Apollinaire e percorre as relações entre parábola e estranhamento, entre incesto e palimpsesto, desde Ancila Negra até o engenheiro noturno. E o capítulo III enfoca o conturbado trânsito da questão indígena na obra de Jorge de Lima, até sua inflexão final. Em Apêndice, organiza-se material de arquivo, sobretudo poemas segregados do compósito. === Signs of paradox and contradiction are intrinsic to the Invention of Orpheus (1952), Jorge de Limas (1893-1953) major poem, firstly because its theoretical conception of the creative act as a tension between the witty and the mystical, the orphical and the sirenical, natura naturata and natura naturans; secondly based on the inconstant reception by critics, who in spite of their different positions, agree in considering the poem as a difficult and irregular ensemble in terms of its aesthetical quality. This thesis argues that the Invention of Orpheus, in its whole, is grounded on a sovereign and even tyrannical manipulation of forms, reworking the baroque ars inveniendi in order to expose how astrayness and violation inhabits the core of Technique. In terms that are consistent with the theological dimension proper to de Limas Summa Poetica, it demonstrates how the corruptible essence, generally associated only to material, be it the language, the subject or the History, ultimately derives from the Form itself, since the beginning. This thesis presents an archaeology that considers three levels of meaning in Invention of Orpheus, the metalinguistic, the autobiographical and the historical, as well as a mode of understanding the dialectic of the epical and the lyrical through its dramatic synthesis, as in the acting voices that give form to subpoems, or in the sexual and anthropophagic drama between the Muse, the raphsode and the guides (or accomplices). The epigraphic ensemble of Invention is considered crucial to this study, functioning as a strategical and compositional map that articulates in itself the dilemma of betrayal and continuity between sacred and profane literature. The first chapter discusses de Limas marginal works and the biblical epigraphs, analyzing the intersections between levels of meaning, matrices and genres. Chapter II focuses on an epigraph by Guillaume Apollinaire, and analyses the relation between parable and enstrangement, between incest and palimpsest, from Ancila Negra (Black Servant/Support) to the nocturnal engineer. Chapter III focuses on the problematic development of the indigenous conflict in Jorge de Limas work. The Appendix organizes archive materials, especially poems excluded from the composite.