Summary: | Este trabalho surgiu de minha experiência pessoal em sala de aula usando ficção científica para lecionar física, astronomia e outros tópicos de ciência. Por aproximadamente quatro anos eu desenvolvi diversas atividades de sala de aula com filmes, romances e contos de ficção científica, empregando-os não apenas para discutir os produtos da ciência - conceitos, leis e fenômenos - mas também os mecanismos da produção do conhecimento científico e a relação entre o trabalho da ciência e o contexto social. A partir destas experiências práticas, investiguei e estudei a respeito da própria ficção científica, como um gênero literário e cinematográfico e empreendi também uma pesquisa sobre as experiências atuais envolvendo a ficção científica em sala de aula. Estes estudos auxiliaram-me a desenvolver instrumentos teóricos de análise para lidar com a ficção científica a partir do ponto de vista do professor de ciência. Tais instrumentos são o conteúdo principal do presente trabalho. Eles foram desenvolvidos a partir da constatação de que as abordagens mais comuns para a ficção científica em aulas de ciências eram baseadas em duas estratégias um tanto ingênuas: a identificação dos erros (ou acertos) conceituais de ciência nas obras de ficção científica ou a discussão dos diversos níveis de distorção em relação a ciência e aos cientistas \"reais\" nelas apresentadas. Assumindo a ficção científica como uma construção empreendida sobre um discurso social a respeito da ciência foi possível tratar tais \"erros\" e \"distorções\" de um outro ponto de vista. Ao invés de distorções, podemos pensar em determinadas posições ideológicas sobre a ciência que podemos identificar tanto na esfera social como nas obras de ficção científica. Na maioria das vezes, tais posições podem ser descritas em termos de polaridades onde cada pólo representa crenças ou descrenças em relação aos papéis da ciência em nossas vidas. Eu nomeei tal análise por pólos temáticos. Em substituição à dicotomia erro/acerto, procurei um critério de análise que pudesse descrever os elementos de uma história de ficção científica (nomeados aqui como elementos contrafactuais) não em termos de uma valoração estrita de sua precisão científica, mas como construtos ficcionais projetados para produzir efeitos literários específicos no leitor. Em tal abordagem, a precisão científica é vista como estando sujeita à lógica do discurso literário e à intencionalidade do autor. Após desenvolver estas ferramentas de análise, retomei minhas experiências anteriores de sala de aula tanto para colocar a análise teórica em um contexto concreto sobre o qual eu poderia falar com segurança quanto - ao mesmo tempo - para apresentar aspectos adicionais não dados do uso da ficção científica em sala de aula. Muitas das atividades de sala de aula descritas se deram antes de eu iniciar este trabalho, assim elas não foram nem uma validação empírica da teoria nem um processo sistemático de coleta de dados. Seus papéis neste trabalho foram os de ilustrar e desenvolver alguns detalhes da análise teórica e mostrar como esta análise pode ser realizada para levar a atividades concretas de sala de aula. Adicionalmente, aspectos específicos dos três gêneros (filmes, romances e contos) de ficção científica usados forma discutidos em função de sua adaptação ao contexto de sala de aula. === This work arose from my personal classroom experience in using science fiction to teaching Physics, Astronomy and other Science topics. For about four years I developed several classroom activities with science fiction films, novels and short stories and I used them to discuss not only the products of science - concepts, laws and phenomena - but also the mechanisms of scientific knowledge production and the relationship between science work and social context. From these practical experiences, I investigated and studied about science fiction itself, as a literary and cinema genre and I undertook also a research about present days classroom experiences involving science fiction. These studies helped me to develop theoretical analysis instruments to deal with science fiction from the Science teacher point of view. Such instruments are the present work\'s main content. They were developed from the realization that most common approaches to science fiction in Science classes were based in two somewhat naive strategies: identifying science conceptual errors (or hits) in science fiction works or discussing the several levels of distortions about \"real\" Science and scientists science fiction presented in its stories. Assuming science fiction as a fictional construction built over a social discourse about science was possible to treat such \"errors\" and \"distortions\" for another point of view. Instead of distortions we can think about certain ideological positions about Science we can identify both in social sphere and in science fiction works. Most of times, such positions can be described in terms of polarities where each one of poles represents beliefs or disbeliefs related to the roles of Science in our lives. I named such analysis as thematic poles. In substitution to the hit/error dichotomy, I was looking for analysis criteria that could describe the elements of a science fiction story (named here as counterfactual elements) not in terms of a strict valuation of their scientific accuracy, but as fictional constructs intended for producing specific literary effects in the reader. In such approach, scientific accuracy is seen as being subjected to the literary discourse logics and to author\'s intentionality. After developing these analysis tools, I retrieved my previous classroom experiences both to turn theoretical analysis into a concrete context I could surely speak about and - at same time - to present additional aspects of classroom use of science fiction not given in the theoretical development. Most of described classroom activities occurred before I start this work, so they were neither an empiric validation of the theory nor a systematic data collection process. Their roles in this work were illustrate and develop some details of theoretical analysis and show how this analysis could be performed to lead to concrete classroom activities. Additionally, specific aspects of the three used science fiction genres (movies, novels and short stories) were discussed in view of their adaptation to the classroom context.
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