A trama de vínculos na história de um representante sindical 

Apresentamos a hipótese de que o modelo democrático representativo, quando aplicado a grupos e organizações, pode cumprir a função psíquica de intermediário entre o desejo dos membros de evitar o estabelecimento de um vínculo tirânico com o líder e, ao mesmo tempo, evitar os conflitos da convivência...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Galery, Augusto Dutra
Other Authors: Fernandes, Maria Inês Assumpção
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2014
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-10042014-151634/
Description
Summary:Apresentamos a hipótese de que o modelo democrático representativo, quando aplicado a grupos e organizações, pode cumprir a função psíquica de intermediário entre o desejo dos membros de evitar o estabelecimento de um vínculo tirânico com o líder e, ao mesmo tempo, evitar os conflitos da convivência. Para abordar o tema, utilizamos o método de entrevista de história de vida, tendo como sujeito de pesquisa um sindicalista que, por 20 anos seguidos, atuou em um sindicato ligado à justiça federal do estado de São Paulo. A presente pesquisa tinha como objetivo refletir sobre o lugar do representante no grupo, em oposição ao lugar de líder. A partir dos dados obtidos, foi possível levantar a hipótese de que, enquanto o líder está investido em seu Eu Narcísico e onipotente, o representante identifica seu Ideal do Eu com os ideais do grupo, podendo postergar a satisfação de seus ideais em troca de ser reconhecido pelo grupo. Assim, o líder, ao receber uma transferência narcísica do grupo, pode pretender retomar o lugar do Pai da horda e, através da violência ou da sedução, exigir para si uma parcela quase total de poder. O representante, por outro lado, assume um lugar de tabu, recebendo uma transferência de poder para exercer funções típicas do papel de intermediário, mas, nesse caso, o grupo mantém o poder de destitui-lo de seu papel e massacrá-lo (mesmo que simbolicamente). No caso estudado, pudemos observar o sindicalista entrevistado exercendo esse papel de representante, a partir de posições que se repetiram ao longo de sua vida. Ocupou, a nosso ver, o papel de intermediário entre as pressões do momento democrático que o país viveu em 1988/1989 e os ideais autocráticos dos partidos de esquerda, que aqui representaram o grupo que buscava um vínculo tirânico em relação à categoria. O entrevistado viu-se enredado em uma trama de vínculos e na repetição de rituais que terminaram em uma crise que levou à sua ruptura com o grupo. Tal ruptura o levou a uma posição de ostracismo e lhe causou um intenso sofrimento, que o levou a uma depressão === We present the hypothesis that the representative democratic model, when applied to groups and organizations, can meet the psychic role of intermediary between the desire of members to avoid the establishment of a tyrannical relationship with the leader and, at the same time, avoid conflicts of coexistence. To address this issue, we used the method of life history interview, and as a research subject, a union trade representative that for 20 straight years, worked in a union linked to the federal courts of the state of São Paulo. This research aimed to reflect on the place of the representative in the group, as opposed to the place of leader. From the data obtained, it was possible to hypothesize that while the leader is invested in his narcissistic and omnipotent ego, the representative identifies his Ideal Ego with the ideals of the group, may postpone the fulfillment of his ideals in exchange for being recognized by the group. Thus, the leader receives a narcissistic transference from the group; he may want to regain the place of the Father of the horde, through violence or seduction, demanding for himself an almost total share of power. The representative , on the other hand, assumes a place of taboo , receiving a transfer of power to perform typical functions of an intermediary role , but in this case , the group has the power to depose him from his paper and slay him (even symbolically) . In our case, we observed the respondent exercising this role, from positions that were repeated throughout his life. He occupied, in our point of view, the role of intermediary between the pressures of democratic moment that the country experienced in 1988/1989 and the autocratic ideals of the Left parties, which represented here the group that seeks a tyrannical link with the category. The respondent found himself entangled in a web of bonds and the repetition of rituals that ended in a crisis that led to his departure from the group. This rupture led him to a position of ostracism and caused him intense suffering, which led to a depression