Summary: | Esta tese tem como objeto a formação histórica da obra de João Guimarães Rosa. Com foco nas narrativas de seu livro de estreia, Sagarana, de 1946, o texto trabalha com a seguinte hipótese: no livro, para além da experimentação de técnicas literárias que marcam a obra de Rosa como um todo, há nele a preocupação com um objeto histórico que é o sertão. A tese passa pela caracterização deste objeto, formado, a nosso ver, a partir das tensões políticas da Primeira República. O acompanhamento do objeto em Rosa também pressupõe uma inserção do autor na tradição da literatura brasileira pós-1930, em que a autonomia do objeto-sertão passa ao proscênio da representação. Chega-se assim à segunda hipótese do texto: esta autonomia e a importância do sertão para a literatura de 1930 a 1964 ligam-se às próprias dinâmicas que impulsionaram o país à industrialização. As novas necessidades emergidas do capitalismo industrial em gestação põem em primeiro plano o destino das populações pobres no sertão, das quais dependem sem reservas. A terceira hipótese trabalhada na tese é, portanto, a de que o tratamento sério do objeto-sertão em Rosa oferece um desafio às teorias formativas: tanto a forma rosiana como as teorias sociais que se preocuparam com a formação do país teriam se alimentado do mesmo empuxo integrativo sob a indústria; mas o objeto-sertão funcionaria como outro à utopia que atribuiu a essas dinâmicas a capacidade de construir uma cidadania efetiva no país. A tese demonstra como a atenção de Rosa a este objeto muito específico as revoluções da matéria social do sertão tem como consequência, em sua apreensão formal, o atravessamento da utopia formativa, revelando o ponto de impossibilidade de uma construção burguesa. === This dissertation focuses on the historical formation of the work of João Guimarães Rosa. With the emphasis on his debut book, Sagarana, from 1946, this text works with the following hypothesis: beyond technical and literary experimentation, present throughout Rosas body of work, there is in Sagarana a commitment to a historical object, the sertão. This dissertation accompanies the characterization of the object, born from the social tensions of the Brazilian First Republic. By following this object in Rosas work, we assume his insertion in the post-1930s tradition, in which the autonomy of the object-sertão comes to the forefront of literary representation. We thus arrive at our second hypothesis: this autonomy and its importance to literature from 1930 to 1964 find an explanation in the very dynamics that propelled the country towards industrialization. The new needs that arose with the emerging process of industrialization highlight the fate of poor populations of the sertão, on which they depend without reservations. The third hypothesis presenting itself in this work is therefore that the serious commitment to the object-sertão offers a challenge to the formation theories brought about the same period: the rosian form, as much as the social theories concerned with the formation of the country, would have benefited themselves from the same momentum granted by the integrative efforts of the industry. But the object-sertão would pose as an other to these theories utopian projections, which impregnated these dynamics with the hope that the industrial processes would bring about an effective sense of citizenship to the country. This dissertation demonstrates how Rosas attention to this very specific object the revolutions on the sertãos social matter -, when formalized, bursts through the formative utopia, thus revealing the point of impossibility of a bourgeois construction in Brazil.
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