Summary: | A dissertação trata de interfaces do antigo relacionamento entre os seres humanos e a Mata Atlântica na região do Alto Ribeira (Serra do Paranapiacaba) e Vale do Ribeira, hoje áreas remanescentes no estado de São Paulo. Dentro de princípios teórico-metodológicos que visam uma perspectiva interpretativa multidisciplinar, buscamos dialogar com conhecimentos da história, antropologia, ecologia e ciências afins para se referenciar a longuíssima duração de interações e contribuições dos seres humanos para a manutenção e diversificação da vida vegetal no interior das florestas. Primeiramente, alguns dos trabalhos da arqueologia brasileira realizados nos últimos anos, numa abordagem multidisciplinar, sobre as antigas populações dos sambaquis litorâneos e fluviais (no Vale do Ribeira) e suas atividades de manejo e cultivo de espécies (alimentos, medicinas, etc.) desde ±5000 AP, dentro de uma dimensão de interação com a natureza muito diversa do que concebemos no presente. O estudo destes sítios por pesquisadores de diversas áreas também evidenciam \"trânsitos\", indícios de intercâmbio e o assentamento de povos de origens diversas (do planalto, serra, costa e florestas equatoriais) como as populações de origem Jê (desde ±3500 AP) e de origem Tupi (os Guarani, desde ±2000 AP, e desde ±1500, os Tupinambá), povos que incorporaram nas florestas atlânticas espécies vegetais originárias de outros biomas, sendo muitas destas espécies utilizadas até os dias de hoje. Entretanto, no imaginário nacional se sedimentou camadas de apagamento da presença e do legado ambiental das populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e caiçaras nas áreas florestais brasileiras. Assim, o predomínio da tradição colonial persistiu na \"escrita da história do Brasil\" e nas instituições do estado brasileiro também manifesta na proibição das atividades de roça no interior de áreas florestais que se tornaram Unidades de Conservação integral. Situação que contribuiu em \"quebras\" nos processos envolvidos para a manutenção e diversificação de espécies de roça, da interação com espécies silvestres e consequentes perdas nas variedades alimentares e medicinais tradicionais. As proibições promoveram desenraizamentos no relacionamento com a \"natureza\" e conflitos que repercutem na degradação da floresta atlântica, contribuindo na erradicação da memória nativa local. Podemos afirmar que o discurso colonial que se manteve na sociedade brasileira levou à rejeição do saber das populações da floresta promovendo, inclusive, o apagamento da longevidade dos povos ameríndios resistentes no presente === The dissertation deals with the interfaces of the ancient relationship between humans and the Atlantic Forest in the region of Alto Ribeira (Serra do Paranapiacaba) and Vale do Ribeira, nowadays the remaining areas in the state of São Paulo. Within the theoretical and methodological principles that aim at a multidisciplinary perspective, we look into the knowledge of history, anthropology, ecology and related sciences to refer to the very long interactions and contributions of human beings for the maintenance and diversification of plant life within forests. First, some of the works of Brazilian archeology carried out in recent years, in a multidisciplinary approach, on the ancient populations of the coastal and river sambaquis (from the Ribeira Valley) and their management and cultivation of species (food, medicine, etc.) since ± 5000 BP, within a dimension of interaction with nature very different from what we conceive nowadays. The study of these sites by researchers from different areas also reveals \"transits\", signs of interchange and settlement of peoples of diverse origins (from the plateau, mountains, coast and equatorial forests) and populations of Jê origin (from ± 3500 AP) and of Tupi origin (the Guarani, since ± 2000 BP, and since ± 1500 BP, the Tupinambá), people who incorporated in the Atlantic forests vegetal species originating from other biomes, many of these species being used until the present day. However, in the national imagination, memory have been erased of those born in Brazil about the presence and the environmental legacy of the indigenous, quilombola, ribeirinhas and caiçaras populations in the Brazilian forest. Thus, the predominance of the colonial tradition persisted in the \"writing of the history of Brazil\" and in the institutions of the Brazilian state also manifested in the prohibition of agricultural activities within forest areas that became Integral Conservation Units. This situation contributed to \"breaks\" in the processes involved in the maintenance and diversification of crops species, the interaction with wild species and consequent losses in traditional food and medicinal varieties. The prohibitions caused uprooting in the relationship with \"nature\" and conflicts that have repercussions in the degradation of the Atlantic forest, contributing in the eradication of the local native memory. We can affirm that the colonial discourse that remained in the Brazilian society led to the rejection of the population\'s knowledge of the forest promoting, even, the extinction of the longevity of the resistant Amerindian peoples in the present
|