Summary: | O estudo analisou a sustentabilidade da estratégia DOTS na visão de coordenadores de Programa de Controle Tuberculose (PCT) em sete municípios do interior do estado de São Paulo, prioritários para o controle da Tuberculose (TB). O quadro teórico está sustentado nas dimensões operacional, organizacional e política da gerência e sua articulação no contexto atual das políticas e serviços de saúde. A partir de uma abordagem quantitativa, de estudo epidemiológico descritivo por meio de levantamento de fontes secundárias, foram analisados os indicadores epidemiológicos do PCT: cura, abandono e óbito de casos novos com baciloscopia de escarro positiva, cobertura de Tratamento Supervisionado (DOT/TS) e de detecção de casos. Também optou-se pela abordagem qualitativa, análise de conteúdo-modalidade temática que utilizou como fonte a entrevista semi-estruturada com coordenadores de PCT. A Unidade Temática central foi a sustentabilidade da estratégia DOTS como um desafio para coordenadores de PCT, contendo dois sub-temas: A organização da estratégia DOTS diante da necessidade de captar/otimizar recursos e definir estratégias e A operacionalização das ações de controle da TB: raciocínio estratégico e negociação como ferramentas gerenciais. Os resultados quantitativos mostraram um coeficiente angular positivo para cura, mas a maioria não atingiu a meta de 85%; declínio no percentual de abandono, ainda aquém do esperado. A cobertura de DOT/TS apresentou aumento em todos os municípios, contudo, apenas um atingiu 95%. Nenhum município atingiu a meta de 70% de detecção de casos. Os temas que emergiram neste estudo apontaram nós críticos na captação e manutenção de incentivos financeiros; recursos humanos (RH) insuficientes e despreparados; rotatividade de pessoal; desconhecimento do destino da verba da TB e falta de autonomia para gerenciar os recursos; dificuldades de comunicação e integração com gestores; falta de priorização da doença na agenda política; priorização de agravos com repercussão política e necessidade de parcerias. Sobre a operacionalização do DOTS, o estudo apontou a cooperação de pessoas de fora do serviço como ferramenta gerencial estratégica, quando estimula a coresponsabilização da família e da comunidade como cuidadores ou multiplicadores. A avaliação, pautada em indicadores epidemiológicos, é utilizada prioritariamente para alcançar recursos, ao invés de subsidiar o planejamento. A gerência do PCT parece ser uma gerência burocrática, fundamentada no planejamento normativo. Acredita-se que a efetividade das ações gerenciais para sustentar a estratégia DOTS dependa de atores com conhecimento técnico, habilidades políticas e organizacionais, além de raciocínio estratégico para estimular e envolver todos os atores que lidam com a TB. Habilidades estas que, dificilmente são adquiridas na formação profissional. Conclui-se que os coordenadores trabalham em meio a pressões de cima e de baixo, ocupando dupla posição de transmissão, no plano hierárquico e das relações. Neste sentido, a sustentabilidade da estratégia DOTS representa desafios importantes para estes atores que utilizam poucos instrumentos gerenciais, têm pouca autonomia no processo decisório, lidam com recursos escassos e, muitas vezes, sem preparo para esta função, reforçando a necessidade de investimento na formação e capacitação contínua tanto para estes atores como para aqueles que lidam com a TB === This study analyzed the sustainability of the DOTS (Directly Observed Treatment Strategy). It shows the point of view of the TCP (Tubercolosis Control Program) coordinators of seven priority municipalities in the Sao Paulo State. The theorical framework is based on operational, organizational and political levels of the management and on its articulation in the current context of health policies and services. We carried out an epidemiological-descriptive study, using secondary sources, and through a quantitative approach. The following epidemiological TCP indicators were analyzed: cure, abandonment and death of new cases with positive sputum bacilloscopy, Supervised Treatment (DOTS/ST) and case detection coverage. We also chose to apply a qualitative approach, through a semi-structured interview with TCP Coordinators, and with the application of content analysis in the thematic modality. The main thematic unity is the sustainability of the DOTS strategy as a challenge to the TBP coordinators. It contains two sub-themes: The organization of the DOTS strategy faced with the need for resource captation/optimization and for clearly outlined strategies, and The operationalization of TB control actions: strategic thinking and the negociation as key management skills. Quantititive results show a positive angular coefficient for cure. Nonetheless, the majority did not achieve the 85% goal and the decline in the abandonment rate is still lower than expected. The ST coverage rose in all municipalities. However, only one municipality achieved coverage of 95%. None of the municipalities achieved the goal of 70% case detection rate. The themes analyzed in this study pointed to critical knots in the collection and maintenance of financial incentives; insuficient and unprepared Human Resources (HR); staff turnover; lack of knowledge concerning the destination of the TB funds, as well as lack of autonomy to manage resources; difficulties in the communication and in the integration with other managers; failure in making the disease a priority on the political agenda; priorization of aggravations with political repercussion and the need for partnerships. Concerning the DOTS operationalization, the study pointed to the cooperation of people outside the job as an important strategic management tool. It encourages family and community to take co-responsibility as caretakers and multipliers. The evaluation, which is based on epidemiological indicators, is especially used to achieve resources, instead of subsidizing the planning process. TCP management seems to be exceedingly bureaucratic and based on normative planning. We believe that the effectiveness of management actions to support the DOTS strategy needs characters with technical knowledge, political and organizational skills and strategic thinking. These skilss are important in order to encourage and get involved all those who deal with TB. These skills are hardly achieved in the professional training. We conclude that the coordinators work under pressure from the top and from the bottom of the hierarchy, and occupy a double transmission position: in the hierarchic level and in the relationship level. Thus, the sustainability of the DOTS strategy represents an important challenge for these characters, who use few management tools, have little authonomy in the decisionmaking process, have to work with scarce resources and are usually unprepared for the position they occupy. These findings highlight the need for more investments in continuing education and capacitation not only for coordinators but also for all those who have to deal with TB
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