Summary: | O rearranjo da anatomia gastrointestinal é atualmente o foco de estudos para a remissão e cura do diabetes mellitus tipo 2. Há evidências a favor da melhora desta comorbidade após a gastrectomia em pacientes não obesos, entretanto sem análise de longo prazo. O intestino grosso, como integrante do aparelho digestório e potencialmente produtor de incretinas, ainda não foi estudado em relação à influência de sua retirada (colectomia) no desfecho do diabetes. Nestas circunstâncias, faz-se necessário um estudo em longo prazo destas duas cirurgias na homeostase glicídica. Objetivos: Analisar a resposta em longo prazo do diabetes e pré-diabetes pré-existentes após gastrectomia, bem como, colectomia por câncer. Métodos: Foram analisados pacientes adultos submetidos à gastrectomia subtotal e total (Y de Roux) por câncer gástrico e colectomia (direita ou retossigmoidectomia) por câncer de colo e reto há mais de 3 anos e sem sinais de doença em atividade. Incluíram-se controles nas duas situações de pós-operatório tardio com homeostase glicídica normal, a fim de averiguar também sua evolução em longo prazo. Agregou-se ainda um grupo controle pré-operatório atual constituído de doentes diabéticos com câncer gástrico, candidatos à gastrectomia curativa, pois alguns exames analisados no pós-operatório não haviam sido coletados no período pré-operatório. Os pacientes foram divididos de acordo com a presença e curso clínico do diabetes. O grupo diabético foi subdividido em Refratários (permaneceram diabéticos) e Responsivos (remissão parcial ou completa). O grupo controle foi dividido em Estáveis (permaneceram sem diabetes) e Neodiabetes (ficaram diabéticos ou pré-diabéticos). Também foram avaliados de acordo com o tipo de cirurgia. Foram coletados exames de albumina, transferrina, ferritina, ferro sérico, hemoglobina, leucócitos, colesterol total, LDL, VLDL e HDL, triglicérides, insulina, hemoglobina A1C, Peptídeo C, IGF-1, Leptina, proteína C reativa, fibrinogênio, tempo de protrombina, dímero D, complemento C3 e C4, ácido fólico e vitamina B12. Peso, altura e perímetro abdominal e do quadril também foram analisados. Resultados: Os seguimentos atingiram 86,8 ± 25,1 meses nos gastrectomizados e 79,2 ±27,4 nos colectomizados. Os pacientes gastrectomizados beneficiaram-se com remissão do diabetes em 41,2% dos casos e os colectomizados em 32,4%. No grupo controle de gastrectomizados surgiram em longo prazo 63,2% de neodiabéticos e no de colectomizados 30,8%. Nos pacientes diabéticos responsivos com câncer gástrico houve paralelismo entre queda da glicemia e do IMC, algo que não se sucedeu nos acometidos de câncer colorretal. Em nenhuma das duas populações refratárias pode-se atribuir um papel para a variação do IMC no desfecho do diabetes. Nos pacientes neodiabéticos nenhuma contribuição do IMC foi despistada em quaisquer dos grupos estudados. Os pacientes diabéticos gastrectomizados e colectomizados não revelaram diferenças significativas nos valores de glicemia e prevalência de diabetes quando separados por tipo de cirurgia. Conclusão: Nos pacientes gastrectomizados, comprovou-se remissão do diabetes a longo prazo ainda que em proporções menores que as documentadas usualmente, com obesos tratados por cirurgia bariátrica. A perda de peso demonstrou influência positiva na resposta do diabetes. A exclusão duodenal pode ser outro fator envolvido na melhora do diabetes ao lado deste moderado emagrecimento. Já a remoção do fundo gástrico não demonstrou influência na evolução destes pacientes. Não há indícios de que a gastrectomia protegeu contra o aparecimento de novos casos de diabetes e pré-diabetes, pois estes se manifestaram em elevadas proporções. Os pacientes colectomizados diabéticos apresentaram taxa ligeiramente menor de responsivos quando comparados com o grupo bariátrico, sem diferenças significativas. A variação do peso e o local de ressecção não se relacionaram com o desfecho do diabetes. As conversões de pacientes normoglicêmicos para diabetes, ao final do tempo de seguimento, foram mais baixas que nos gastrectomizados. São necessários mais estudos para elucidar os mecanismos envolvidos na história natural da homeostase glicídica, tanto após gastrectomia quanto cirurgia colorretal === The rearrangement of gastrointestinal anatomy is currently the focus of research for the cure and remission of type 2 diabetes mellitus. There is evidence suggesting that this comorbidity improves after cancer gastrectomy in non-obese patients, however no long-term analysis is available. The large intestine, as part of the digestive system and potentially producing incretins, has not been studied with regard to the influence of surgical removal (colectomy) on the outcome of diabetes. In these circumstances, a study focusing the long-term outcome of glucose homeostasis after these two surgeries was deemed appropriate. Objectives: Analysis of the long-term response of preexisting diabetes and pre-diabetes after gastrectomy and colectomy for cancer. Population: Adult patients who underwent subtotal and total (Roux-en Y) gastrectomy for gastric cancer, as well as colorectal operation (right hemicolectomy or anterior resection) for colon and rectum cancer, with at least 3 years of follow up and no signs of active disease. Controls with normal glucose homeostasis were included in both contexts, in order to investigate long term evolution also in euglycemic subjects. A current preoperative control group was added consisting of diabetic patients with gastric cancer, aiming to provide information not available in the retrospective analysis of the preoperative period. Patients were divided according to the presence and clinical course of diabetes. The diabetes group was divided into Refractory (remained diabetic) and Responsive cases (partial or complete remission). The control group was similarly divided into Stable (remained without diabetes) and New onset diabetes/NOD (became diabetic or pre-diabetic). Surgical modality was also considered in the stratification (subtotal versus total gastrectomy and right colectomy versus anterior resection). Biochemical tests included albumin, transferrin, ferritin, serum iron, hemoglobin, white blood cell count, total cholesterol, LDL, VLDL, and HDL, triglycerides, insulin, hemoglobin A1C, C-peptide, IGF-1, leptin, C-reactive protein, fibrinogen, prothrombin time, D-dimer, complement C3 and C4, folic acid and vitamin B12. Weight, height and waist/hip ratio were also documented. Results: The follow-up reached 86.8 ± 25.1 months in patients submitted to gastrectomy and 79.2 ± 27.4 in colorectal surgery. Gastrectomized patients benefited from diabetes remission in 41.2% of cases and 32.4% after large bowel operation. NOD was detected in 63.2% and 30.8% of nondiabetic subjects, respectively. Among responsive diabetic patients with gastric cancer direct relation between fall in blood glucose and BMI was demonstrated, but not with colorectal cancer. In both refractory populations BMI failed to correlated with outcome of diabetes. In NOD patients no contribution of BMI was shown in any group either. Prevalence of diabetes was not different when stratified according to type of surgery. Conclusion: In gastrectomized patients, long term remission of diabetes was confirmed, even though is smaller proportions than those reported after bariatric surgery. Weight loss showed a positive influence in the responsive diabetes population submitted to gastrectomy. There are reasons to believe that duodenal exclusion was involved as well in diabetes amelioration, besides moderate weight loss. The removal of the gastric fundus was not relevant for the evolution of these patients. No evidence in favor of gastrectomy protection against the onset of new diabetes and pre-diabetes was detected. On the contrary, these were registered in high proportions. Colorectal diabetic patients had slightly lower rate of response when compared to the gastrectomy group, without significance. Weight shift and location of the resection were unrelated to the outcome of diabetes. NOD cases at the end of follow-up period were less frequent than after gastric surgery. Further studies are needed to elucidate the mechanisms involved in the natural history of glucose homeostasis, after both gastric and colorectal surgery
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