Por que todo mundo odeia o Chris? Uma análise discursiva sobre o imaginário de afro-americanidade na série Everybody hates Chris
Como telespectadores de Black sitcoms norte-americanas, temos observado, nessas séries, uma propensão à abordagem de temáticas que silenciam a luta pela dessegregação racial nos Estados Unidos. Nossa hipótese é que grande parte dos seriados tende a assimilar uma percepção homogeneizante de afro-amer...
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Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
2015
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Como telespectadores de Black sitcoms norte-americanas, temos observado, nessas séries, uma propensão à abordagem de temáticas que silenciam a luta pela dessegregação racial nos Estados Unidos. Nossa hipótese é que grande parte dos seriados tende a assimilar uma percepção homogeneizante de afro-americanidade, firmada em estereótipos e verdades supostamente inquestionáveis acerca de negritude. O negro é sempre visto pela perspectiva de um outro, cuja posição central no discurso produz sentidos de negritude. À luz de tais considerações, objetivamos problematizar os sentidos de afro-americanidade construídos no seriado Everybody hates Chris. Buscamos analisar as formas de funcionamento do discurso que legitimam determinadas posições de sujeito para o negro americano e que consequentemente produzem um imaginário de afro-americanidade que se institui como verdadeiro. Para tanto, esta pesquisa se fundamenta na perspectiva discursiva de Michel Pêcheux (1969, 1975) e de Michel Foucault (1969, 1971, 1979). O corpus de análise é composto por dez episódios de Todo Mundo Odeia o Chris. Discutimos a popularização da televisão nos Estados Unidos, desde os anos 50, momento no qual o gênero sitcom simbolizou a ratificação do protótipo de família americana idealizada. Analisamos como tal concepção de família se estende e perpassa as produções seriais até os dias de hoje, excluindo percepções de negritude que não integram o imaginário de modelo familiar do pós Segunda Guerra Mundial (anos 40 e 50). Abordamos também, o conceito de tradições inventadas, lançando um olhar sobre as formas pelas quais os rituais nelas celebrados compõem meios de excluir o que é nocivo ao que se entende por autenticidade americana. Buscamos observar como se constroem sentidos de afro-americanidade em celebrações que estabelecem a coesão nacional como fundamento, em uma sociedade na qual o negro é um sujeito periférico. Estudamos, por fim, como sentidos de afro-americanidade são incorporados ou contestados, colocando em xeque percepções totalizantes de afro-americanidade. Constatamos que os sentidos de afro-americanidade se constroem na articulação entre diversas categorias (gênero, raça, classe social). O estudo indica que a identidade afro-americana não pressupõe sentidos unívocos, pois se constroi nas diversas posições discursivas ocupadas pelo sujeito. === As spectators of North-American Black sitcoms, we have observed that these series are likely to approach themes that silence the fight for racial desegregation in the United States. Our hypothesis is that a great part of the sitcoms tend to assimilate a homogenizing perception of African-Americaness, reinforced by stereotypes and supposedly unquestionable truths about Blackness. The African-American is always viewed from the perspective of the other, whose central position in discourse produces meanings of Blackness. In the light of such considerations, we aim at problematizing meanings of African-Americaness constructed in the series Everybody hates Chris. Our goal is the analysis of the various ways of functioning of that discourse, in that they legitimize certain subjective positions for the African- American, consequently producing an imaginary of African-Americaness that is presented as truthful. On these grounds, this research is based on the discursive perspective of Michel Pêcheux (1969, 1975) and Michel Foucault (1969, 1971, 1979). The corpus of analysys is composed of ten episodes of Everybody hates Chris. We discuss the popularization of television in the United States since the 1950s, when the sitcom symbolized the ratification of the idealized American family. We analyse how such a conception of family is explored then and is perpetuated up to the present, excluding perceptions of Blackness that do not integrate the family imaginary of the post Second World War (from the 1940s and 1950s). We also discuss the concept of invented traditions, by shedding light on how the celebration of rituals allows for the exclusion of what is harmful to the so called American authenticity. We mainly seek to observe how meanings of African-Americaness are constructed in celebrations that establish national cohesion as the foundation of a society in which the African-American is a peripheral subject. We finally study how meanings of African-Americaness are incorporated or contested, questioning totalizing perceptions of Blackness. Our contention is that the meanings of Blackness are constructed in the articulation of multiple categories (gender, race, social class). The study shows that the African-American identity does not presuppose univocal meanings for it is constructed from the various discursive positions occupied by the subject. |
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À luz de tais considerações, objetivamos problematizar os sentidos de afro-americanidade construídos no seriado Everybody hates Chris. Buscamos analisar as formas de funcionamento do discurso que legitimam determinadas posições de sujeito para o negro americano e que consequentemente produzem um imaginário de afro-americanidade que se institui como verdadeiro. Para tanto, esta pesquisa se fundamenta na perspectiva discursiva de Michel Pêcheux (1969, 1975) e de Michel Foucault (1969, 1971, 1979). O corpus de análise é composto por dez episódios de Todo Mundo Odeia o Chris. Discutimos a popularização da televisão nos Estados Unidos, desde os anos 50, momento no qual o gênero sitcom simbolizou a ratificação do protótipo de família americana idealizada. Analisamos como tal concepção de família se estende e perpassa as produções seriais até os dias de hoje, excluindo percepções de negritude que não integram o imaginário de modelo familiar do pós Segunda Guerra Mundial (anos 40 e 50). Abordamos também, o conceito de tradições inventadas, lançando um olhar sobre as formas pelas quais os rituais nelas celebrados compõem meios de excluir o que é nocivo ao que se entende por autenticidade americana. Buscamos observar como se constroem sentidos de afro-americanidade em celebrações que estabelecem a coesão nacional como fundamento, em uma sociedade na qual o negro é um sujeito periférico. Estudamos, por fim, como sentidos de afro-americanidade são incorporados ou contestados, colocando em xeque percepções totalizantes de afro-americanidade. Constatamos que os sentidos de afro-americanidade se constroem na articulação entre diversas categorias (gênero, raça, classe social). O estudo indica que a identidade afro-americana não pressupõe sentidos unívocos, pois se constroi nas diversas posições discursivas ocupadas pelo sujeito. As spectators of North-American Black sitcoms, we have observed that these series are likely to approach themes that silence the fight for racial desegregation in the United States. Our hypothesis is that a great part of the sitcoms tend to assimilate a homogenizing perception of African-Americaness, reinforced by stereotypes and supposedly unquestionable truths about Blackness. The African-American is always viewed from the perspective of the other, whose central position in discourse produces meanings of Blackness. In the light of such considerations, we aim at problematizing meanings of African-Americaness constructed in the series Everybody hates Chris. Our goal is the analysis of the various ways of functioning of that discourse, in that they legitimize certain subjective positions for the African- American, consequently producing an imaginary of African-Americaness that is presented as truthful. On these grounds, this research is based on the discursive perspective of Michel Pêcheux (1969, 1975) and Michel Foucault (1969, 1971, 1979). The corpus of analysys is composed of ten episodes of Everybody hates Chris. We discuss the popularization of television in the United States since the 1950s, when the sitcom symbolized the ratification of the idealized American family. We analyse how such a conception of family is explored then and is perpetuated up to the present, excluding perceptions of Blackness that do not integrate the family imaginary of the post Second World War (from the 1940s and 1950s). We also discuss the concept of invented traditions, by shedding light on how the celebration of rituals allows for the exclusion of what is harmful to the so called American authenticity. We mainly seek to observe how meanings of African-Americaness are constructed in celebrations that establish national cohesion as the foundation of a society in which the African-American is a peripheral subject. We finally study how meanings of African-Americaness are incorporated or contested, questioning totalizing perceptions of Blackness. Our contention is that the meanings of Blackness are constructed in the articulation of multiple categories (gender, race, social class). The study shows that the African-American identity does not presuppose univocal meanings for it is constructed from the various discursive positions occupied by the subject. Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP Carmagnani, Anna Maria Grammatico 2015-03-09 Dissertação de Mestrado application/pdf http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-05082015-143333/ pt Liberar o conteúdo para acesso público. |