A experiência michê: um estudo fenomenológico

Na presente Dissertação, buscamos compreender o fenômeno michê e como ele se apresenta no contexto de vida pós-moderno. Com este intento, contextualizamos a pós-modernidade e as expressões da sexualidade, gênero e masculinidades no cenário atual por considerarmos serem discussões fundamentais para s...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Burbulhan, Fernanda
Other Authors: Bruns, Maria Alves de Toledo
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2015
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-05022015-220427/
Description
Summary:Na presente Dissertação, buscamos compreender o fenômeno michê e como ele se apresenta no contexto de vida pós-moderno. Com este intento, contextualizamos a pós-modernidade e as expressões da sexualidade, gênero e masculinidades no cenário atual por considerarmos serem discussões fundamentais para se refletir acerca da prostituição masculina. Apoiadas nesse arcabouço teórico é que nos propusemos a pesquisar o fenômeno michê: seus representantes, suas histórias de vida e a forma como significam sua atuação no universo prostitucional. Apropriamo-nos do referencial metodológico fenomenológico e da perspectiva merleau-pontyana para guiar nossa análise e discussão. Definimos entrevistar dez homens maiores de 18 anos que atuam ou já atuaram como michê. Aplicamos o questionário econômico da ABEP para o perfil socioeconômico de cada um deles e posteriormente realizamos a entrevista de história de vida, norteada por uma única questão: Peço-lhe que me conte sua história de vida, a partir de sua infância até o momento que passou à prática de michê. As entrevistas foram se desdobrando em sentidos e significados próprios de cada colaborador e buscamos acessar a intencionalidade dos relatos, o que é da ordem da experiência vivida pelos colaboradores e não do que pode ser inferido pelo pesquisador. A análise se deu pela identificação de unidades de significado, as quais se configuraram como: 1) Nos horizontes da família; 2) Ingresso no mundo vida da prostituição; 3) Dinâmica dos programas e 4) Perspectivas para o futuro. A partir dessas unidades de significado, nos foi possível conhecer a história de vida de cada um dos colaboradores, o momento em que a prostituição passou a fazer parte de sua vida e o significado dessa práxis para cada um deles. Para a maior parte dos michês colaboradores desta pesquisa, a prostituição carrega motivações e significados subjetivos que vão além da justificativa pela necessidade financeira. Na análise compreensiva dos relatos, duas questões se destacaram: i) nove dos dez michês entrevistados atende à clientela masculina (em sua maior parte homens casados com mulheres) e muitos trazem relatos de práxis homofóbicas; e ii) cinco dos colaboradores relatou experiências de violência sexual na infância ou adolescência (ainda que dois desses não percebam tal experiência como violenta). Informações importantes para os horizontes da presente pesquisa, para a discussão das questões de sexo e gênero, as quais necessitam ser problematizadas desde a infância, inclusive dentro da grade curricular, para que as crianças e adolescentes saibam identificar as situações de abuso e exploração sexual e para que se tornem adultos menos homofóbicos, adultos que possam assumir o seu desejo sexual sem medo de estar desviando das normas implícitas de uma sociedade. === In the present Dissertation, we seek to understand the hustler phenomenon and how it is experienced in post-modern days. For such, we contextualize post-modernity and the expressions of sexuality, gender and masculinities in the present scenario once we consider them to be basic discussions underlying ones reflection upon male prostitution. Supported by the theoretical framework here presented we undertook to investigate the hustler phenomenon, their representatives, their life stories and the meaning they attribute to their practice in the prostitucional universe. We used the phenomenological method and the perspective of Merleau-Ponty to guide our discussion and analysis. We defined to interview ten men over 18 yr. old who have been working or have worked as a hustler. We also applied the ABEP economic questionnaire to find out each one of these mens socioeconomic profile and then carried out the life history interview, triggered by the prompt: Please tell me your life story, since childhood to the moment you started as a hustler. From that point on, the interviews developed into the meanings attributed by each collaborator individually, with our focus on grasping the intentionality underlying their reports, which regards the own collaborators experiences, and not the researchers possible inferences. The analyses were carried out through the identification of four units of meaning: 1) Family Horizons; 2) Entrance into prostitution; 3) The dynamics of programs and 4) Prospects for the future. Based on these units of meanings we could learn about these mens life story, the moment prostitution became a part of their life and the meaning each one of them attributes to that praxis. For most of the hustler collaborators in this study, prostitution bears meanings that go beyond mere financial needs. In our comprehensive analyses of the reports, two issues emerged: i) nine out of the ten hustlers interviewed have a male clientele (in their majority men married to women) with many mentioning homophobic practices; and ii) five of the collaborators reported childhood and/or adolescence sexual abuse (although two of them dont see such experiences as abuse). We feel such information is valuable to the horizons of this research, for the discussion on the sex x gender issues we feel need to be problematized from childhood, included in school curricula, so that children and adolescents are able to identify sexual abuse and exploitation and can, thus, grow to become less homophobic adults who can deal with their sexual desire without the fear of deviating from the implicit norms of society.