Avaliação dos efeitos da exposição crônica ocupacional ao mercúrio metálico na função e parênquima da glândula tireoidiana
INTRODUÇÃO: Os efeitos deletérios do mercúrio (Hg) no sistema nervoso central, em diferentes formas químicas, têm sido descritos em diversos estudos, entretanto, a ação tóxica sobre a tireoide ainda é pouco compreendida. Experimentos em animais, expostos ao Hg, em diversas formas, mostraram evidênci...
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Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Environmental exposure Exposição ambiental Intoxicação por mercúrio Mercúrio Mercury Mercury poisoning Selênio Selenium Thyroxine Tiroxina Ultrasonics Ultrassom Correia, Marcia de Mello Avaliação dos efeitos da exposição crônica ocupacional ao mercúrio metálico na função e parênquima da glândula tireoidiana |
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INTRODUÇÃO: Os efeitos deletérios do mercúrio (Hg) no sistema nervoso central, em diferentes formas químicas, têm sido descritos em diversos estudos, entretanto, a ação tóxica sobre a tireoide ainda é pouco compreendida. Experimentos em animais, expostos ao Hg, em diversas formas, mostraram evidências de alterações do parênquima e dos hormônios tireoidianos. A elevada deposição do metal na tireoide e a alta afinidade pelo selênio das desiodases podem ser fatores relevantes para a explicação dos seus efeitos tóxicos. OBJETIVOS: avaliar se a exposição crônica ocupacional ao Hg metálico pode estar associada a alterações da função hormonal tireoidiana, bem como do parênquima da glândula, mesmo depois de cessar a exposição. MÉTODOS: Realizado estudo seccional em 55 expostos ao Hg e 55 controles, do sexo masculino, pareados por idade. Analisadas as concentrações dos hormônios: T3 total e livre (T3T e T3L), T4 livre (T4L) e TSH por eletroquimioluminescência, T3 Reverso (T3R) por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas em tandem, selênio (no sangue) e Hg na urina (HgU) por espectrofotometria de absorção atômica, iodo urinário por detecção indireta pela Reação de Sandell - Kolthoff, anticorpos anti-tireoperoxidase por ensaio imunoquimioluminométrico. A Ultrassonografia (US) Modo B e Dúplex-doppler da tireoide avaliou as dimensões, ecogenicidade, ecotextura, vascularização e nódulos. Os nódulos com aspecto suspeito de malignidade foram submetidos à punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e a análise citológica seguiu a classificação de Bethesda. A análise das variáveis contínuas utilizou os testes t ou U de Mann-Whitney e o Qui-quadrado para associação das variáveis categóricas. A correlação de Spearman utilizada para avaliar a relação entre as variáveis de exposição e as concentrações hormonais. O modelo de regressão logística univariada e múltipla foram empregados para análise do risco. O nível de significância dos testes foi Alfa = 0,05. RESULTADOS: a média de idade dos expostos ao Hg foi 55,2 anos (±6,6 anos) e dos controles 53,4 anos (±6,8 anos). Não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade dos grupos (p=0,158). A média das concentrações de Hg urinário, durante o período laboral, foi significativamente mais elevada em expostos (51,9 Microg/L versus 1,79 Micrpg/L; p < 0,01). A média de duração do período laboral foi de 14,5 anos (dp=±7,26). A média das concentrações de TSH foi mais elevada em expostos (3,31 MicroIU/ml versus 2,31MicroIU/ml), com diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,030). As concentrações de TSH excederam o limite de normalidade (4,20 MicroIU/ml) em 13 indivíduos expostos (27,3%) e em quatro controles (7,3%), com associação estatisticamente significativa entre a elevação de TSH e a exposição ao mercúrio (p =0,018). No modelo de regressão logística, a exposição ao mercúrio mostrou uma razão de chances estatisticamente significativa para elevação das concentrações de TSH (OR=4,86; p=0,038). Não houve diferença estatisticamente significativa da relação T4L:T3L entre os indivíduos expostos e o grupo controle (p=0,791). As médias das concentrações dos hormônios T3, T3L e T4L não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p > 0,05). A comparação de médias das concentrações de T3 Reverso mostrou um valor de p próximo do nível de significância do teste (p = 0,06). As proporções de alterações da ecogenicidade foram maiores em expostos (27,3% versus 9,1 %; p=0,026), com associação estatisticamente significativa à exposição ao Hg. Não foi observada associação, estatisticamente significativa, entre a exposição ao Hg e o padrão heterogêneo de ecotextura, ou o aumento de vascularização do parênquima (p > 0,05). A presença de nódulos foi similar entre os grupos. O exame citológico identificou a presença de carcinoma papilífero de tireoide em três indivíduos expostos e um controle. O anatomopatológico confirmou a presença de carcinoma papilífero em quatro indivíduos e identificou o carcinoma folicular em um dos controles. CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo mostraram a presença de elevação das concentrações de TSH, e alterações do parênquima tireoidiano, mais frequentes entre os trabalhadores expostos ao Hg, mesmo depois de cessar a atividade laboral, indicando a importância do monitoramento da tireoide === INTRODUCTION: The deleterious effects of mercury (Hg) on the central nervous system, in different chemical forms, have been described in several studies, however, the toxic action on the thyroid is still little understood. Experiments in animals exposed to mercury (Hg), in different states, showed parenchymal and thyroid hormones alterations. The accumulation of metal on thyroid and high affinity for selenium of deiodinases can be a relevant factor for the explanation of his toxic effects. OBJECTIVE: Evaluate the occupational exposure of metallic Hg and its association with the hormones and thyroid parenchyma alterations, even after the labor exposure was discontinued. METHODS: A sectional study in 55 exposed and 55 control males, paired by age was conducted. Serum dosages of total triiodothyronine (T3), free T3 (TT3 and FT3), free T4 (FT4) and TSH were obtained by electrochemical luminescence, the reverse T3 (RT3) by chromatography, selenium (blood), urinary Hg (U-Hg) by atomic absorption spectrophotometry, anti-thyroid peroxidase antibody by immunochemiluminometric assay, urinary iodine by Sandell-Kolthoff reaction. The thyroid parenchyma was evaluated by B-mode ultrasonography with Doppler. The nodules with suspicious aspect of malignancy were submitted to aspiration puncture with a thin needle. The t-test, or Mann-Whitney, chi-square and Spearman correlation were performed. For the risk analysis a univariate and multivariate logistic regression model was used (Alfa = 0.05). RESULTS: The mean age of the exposed to Hg was 55.2 years (SD± 6.6 years) and controls was 53.4 years (SD± 6.8 years). The U-Hg average was significantly higher in exposed (51.9 Microg/L versus 1.79 Microg/L; p=0.000). The longer work duration was 14.5 years (SD ±7.26 years). TSH concentrations exceeded the normality limit (4.20 MicroIU/ml) in 13 exposed individuals (27.3%) and four controls (7.3%), with a statistical significant association between the increase in serum TSH and exposure to mercury (p = 0.018). In the logistic regression model, the exposure to mercury (yes or no) showed a predictive value to the increase of TSH concentrations (OR=4.86; p=0.038). There was no statistical significant difference in the T4L:T3L ratio between the exposed individuals and the control group (p=0.791). The mean concentrations of the hormones T3, T3L and T4L showed no statistically significant difference between the groups (p > 0.05). The comparison of means of the Reverse T3 concentrations showed a p value borderline (p = 0.06). The proportions of the echogenicity alterations were higher at the exposed group (27.3% versus 9.1 %; p=0.026). There was no statistical significant association between the exposure to Hg and the thyroid echotexture pattern or parenchyma increased vascularization (p > 0.05). It was observed a papillary carcinoma in three exposed and one control individual and a follicular in one control. CONCLUSIONS: The results of this study showed the higher serum TSH concentration and prevalence of parenchyma alteration in the Hg exposed group, after cessation of exposure, and indicate the importance of the thyroid monitoring |
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A elevada deposição do metal na tireoide e a alta afinidade pelo selênio das desiodases podem ser fatores relevantes para a explicação dos seus efeitos tóxicos. OBJETIVOS: avaliar se a exposição crônica ocupacional ao Hg metálico pode estar associada a alterações da função hormonal tireoidiana, bem como do parênquima da glândula, mesmo depois de cessar a exposição. MÉTODOS: Realizado estudo seccional em 55 expostos ao Hg e 55 controles, do sexo masculino, pareados por idade. Analisadas as concentrações dos hormônios: T3 total e livre (T3T e T3L), T4 livre (T4L) e TSH por eletroquimioluminescência, T3 Reverso (T3R) por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas em tandem, selênio (no sangue) e Hg na urina (HgU) por espectrofotometria de absorção atômica, iodo urinário por detecção indireta pela Reação de Sandell - Kolthoff, anticorpos anti-tireoperoxidase por ensaio imunoquimioluminométrico. A Ultrassonografia (US) Modo B e Dúplex-doppler da tireoide avaliou as dimensões, ecogenicidade, ecotextura, vascularização e nódulos. Os nódulos com aspecto suspeito de malignidade foram submetidos à punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e a análise citológica seguiu a classificação de Bethesda. A análise das variáveis contínuas utilizou os testes t ou U de Mann-Whitney e o Qui-quadrado para associação das variáveis categóricas. A correlação de Spearman utilizada para avaliar a relação entre as variáveis de exposição e as concentrações hormonais. O modelo de regressão logística univariada e múltipla foram empregados para análise do risco. O nível de significância dos testes foi Alfa = 0,05. RESULTADOS: a média de idade dos expostos ao Hg foi 55,2 anos (±6,6 anos) e dos controles 53,4 anos (±6,8 anos). Não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade dos grupos (p=0,158). A média das concentrações de Hg urinário, durante o período laboral, foi significativamente mais elevada em expostos (51,9 Microg/L versus 1,79 Micrpg/L; p < 0,01). A média de duração do período laboral foi de 14,5 anos (dp=±7,26). A média das concentrações de TSH foi mais elevada em expostos (3,31 MicroIU/ml versus 2,31MicroIU/ml), com diferença estatisticamente significante entre os grupos (p=0,030). As concentrações de TSH excederam o limite de normalidade (4,20 MicroIU/ml) em 13 indivíduos expostos (27,3%) e em quatro controles (7,3%), com associação estatisticamente significativa entre a elevação de TSH e a exposição ao mercúrio (p =0,018). No modelo de regressão logística, a exposição ao mercúrio mostrou uma razão de chances estatisticamente significativa para elevação das concentrações de TSH (OR=4,86; p=0,038). Não houve diferença estatisticamente significativa da relação T4L:T3L entre os indivíduos expostos e o grupo controle (p=0,791). As médias das concentrações dos hormônios T3, T3L e T4L não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p > 0,05). A comparação de médias das concentrações de T3 Reverso mostrou um valor de p próximo do nível de significância do teste (p = 0,06). As proporções de alterações da ecogenicidade foram maiores em expostos (27,3% versus 9,1 %; p=0,026), com associação estatisticamente significativa à exposição ao Hg. Não foi observada associação, estatisticamente significativa, entre a exposição ao Hg e o padrão heterogêneo de ecotextura, ou o aumento de vascularização do parênquima (p > 0,05). A presença de nódulos foi similar entre os grupos. O exame citológico identificou a presença de carcinoma papilífero de tireoide em três indivíduos expostos e um controle. O anatomopatológico confirmou a presença de carcinoma papilífero em quatro indivíduos e identificou o carcinoma folicular em um dos controles. CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo mostraram a presença de elevação das concentrações de TSH, e alterações do parênquima tireoidiano, mais frequentes entre os trabalhadores expostos ao Hg, mesmo depois de cessar a atividade laboral, indicando a importância do monitoramento da tireoide INTRODUCTION: The deleterious effects of mercury (Hg) on the central nervous system, in different chemical forms, have been described in several studies, however, the toxic action on the thyroid is still little understood. Experiments in animals exposed to mercury (Hg), in different states, showed parenchymal and thyroid hormones alterations. The accumulation of metal on thyroid and high affinity for selenium of deiodinases can be a relevant factor for the explanation of his toxic effects. OBJECTIVE: Evaluate the occupational exposure of metallic Hg and its association with the hormones and thyroid parenchyma alterations, even after the labor exposure was discontinued. METHODS: A sectional study in 55 exposed and 55 control males, paired by age was conducted. Serum dosages of total triiodothyronine (T3), free T3 (TT3 and FT3), free T4 (FT4) and TSH were obtained by electrochemical luminescence, the reverse T3 (RT3) by chromatography, selenium (blood), urinary Hg (U-Hg) by atomic absorption spectrophotometry, anti-thyroid peroxidase antibody by immunochemiluminometric assay, urinary iodine by Sandell-Kolthoff reaction. The thyroid parenchyma was evaluated by B-mode ultrasonography with Doppler. The nodules with suspicious aspect of malignancy were submitted to aspiration puncture with a thin needle. The t-test, or Mann-Whitney, chi-square and Spearman correlation were performed. For the risk analysis a univariate and multivariate logistic regression model was used (Alfa = 0.05). RESULTS: The mean age of the exposed to Hg was 55.2 years (SD± 6.6 years) and controls was 53.4 years (SD± 6.8 years). The U-Hg average was significantly higher in exposed (51.9 Microg/L versus 1.79 Microg/L; p=0.000). The longer work duration was 14.5 years (SD ±7.26 years). TSH concentrations exceeded the normality limit (4.20 MicroIU/ml) in 13 exposed individuals (27.3%) and four controls (7.3%), with a statistical significant association between the increase in serum TSH and exposure to mercury (p = 0.018). In the logistic regression model, the exposure to mercury (yes or no) showed a predictive value to the increase of TSH concentrations (OR=4.86; p=0.038). There was no statistical significant difference in the T4L:T3L ratio between the exposed individuals and the control group (p=0.791). The mean concentrations of the hormones T3, T3L and T4L showed no statistically significant difference between the groups (p > 0.05). The comparison of means of the Reverse T3 concentrations showed a p value borderline (p = 0.06). The proportions of the echogenicity alterations were higher at the exposed group (27.3% versus 9.1 %; p=0.026). There was no statistical significant association between the exposure to Hg and the thyroid echotexture pattern or parenchyma increased vascularization (p > 0.05). It was observed a papillary carcinoma in three exposed and one control individual and a follicular in one control. CONCLUSIONS: The results of this study showed the higher serum TSH concentration and prevalence of parenchyma alteration in the Hg exposed group, after cessation of exposure, and indicate the importance of the thyroid monitoring Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP Marui, Suemi Pereira, Luiz Alberto Amador 2019-06-28 Tese de Doutorado application/pdf http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5144/tde-04092019-162051/ pt Liberar o conteúdo para acesso público. |