Dragões: gênero, corpo, trabalho e violência na formação da identidade entre travestis de baixa renda

O presente estudo se iniciou a partir de uma intervenção de cerca de quatro anos, na área da promoção de saúde, voltada a um grupo de travestis de baixa renda, que realizava encontros em uma instituição pública na região central de São Paulo. O método de pesquisa utilizado foi o da observação partic...

Full description

Bibliographic Details
Main Author: Garcia, Marcos Roberto Vieira
Other Authors: Lehman, Yvette Piha
Format: Others
Language:pt
Published: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP 2007
Subjects:
Online Access:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-04032010-115652/
Description
Summary:O presente estudo se iniciou a partir de uma intervenção de cerca de quatro anos, na área da promoção de saúde, voltada a um grupo de travestis de baixa renda, que realizava encontros em uma instituição pública na região central de São Paulo. O método de pesquisa utilizado foi o da observação participante ativa, priorizando-se o caráter interativo e dialógico na obtenção dos dados. Buscou-se investigar a constituição da identidade social entre as referidas travestis, pela descrição e análise de quatro eixos fundamentais para o entendimento de seu universo - gênero, corpo, trabalho e violência - na perspectiva de transcender o privilégio dado à categoria gênero nos estudos existentes sobre travestis. Procurou-se submeter cada um destes eixos a uma análise social ampliada e referida à realidade brasileira. A partir de uma abordagem critica à categoria \"identidade\", foi proposto o entendimento desta, em relação ao grupo estudado, como uma \"colcha de retalhos\" (\"patchwork\"), formada a partir da assimilação de fragmentos de diferentes identidade sociais presentes em nossa sociedade. Considerou-se que as principais identidades incorporadas pelas travestis estudadas foram as da \"mulher submissa\", da \"puta\" e da \"mulher super-sedutora\", no campo da feminilidade e as do \"viado\", do \"malandro\" e do \"bandido\", no campo da masculinidade. A \"identidade travesti\" resultante mostrou não apenas a ambigüidade masculino/feminina, mas também contradições e tensões entre as próprias identidades femininas - e masculinas - incorporadas. === This study had its origin in a four-year health promotion work, directed to low-income travestis, within a public health institution in the central area of São Paulo, Brazil. The research method comprised active participant observation , with interactive, and dialogical data collection. The social identity formation among these travestis was investigated by description and analysis of four axis; gender, body, work, and violence, each of them fundamental for the understanding of their universe, attempting to transcend the status given to gender category in other studies with this population. Each one of these axis were submitted to a wider social analysis and referred to the current situation in Brazil. The identity category was subjected to a critical analysis and was proposed, in the referred group, the understanding of identity as a patchwork, built by the assimilation of different identity fragments that are common in Brazilian society. The major identities incorporated by the studied travestis were, in the field of feminility, the submissive woman, the puta (whore), and the seductress. In the field of masculinity the viado (queer), the malandro (rogue), and the bandido (bandit). The resultant travesti identity showed not only a masculine and/or feminine ambiguity, but also contradictions amongst the incorporated feminine identities, in the same way as the masculine ones.