Summary: | Os Evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João constituem o cerne do Novo Testamento bíblico e correspondem aos textos fundadores do mito cristão. Utilizando-se de estratégias de manipulação, convidam o leitor a crer na fé que apresentam, cujo centro de referência é a figura de Jesus. Ao narrarem suas ações e discursos, mobilizam o leitor a acreditar em seu teor e no conjunto de valores por eles transmitidos, os quais são tratados pela semântica discursiva como eufóricos, em detrimento dos valores a que são contrários e, por isto, disfóricos. Dentre estes, estão as estruturas constituídas de poder, tanto o religioso quanto o político, enquanto se constituem meios para tolher a liberdade humana e impedir a convivência pacífica e integral dos seres humanos entre si e com seu Criador. O leitor, uma vez inserido no universo de crenças proposto, é direcionado a realizar um programa narrativo a exemplo do programa realizado nos textos por Jesus: uma série de ações que culminam na conjunção da vida eterna como objeto de valor. A vida eterna é alcançada por Jesus, de acordo com os textos, após oferecer-se em sacrifício pela expiação dos pecados da Humanidade. Da mesma forma, ao leitor é proposto um sacrifício, não idêntico ao de Jesus, mas identificado como o abandono de valores prejudiciais à própria Humanidade, como a injustiça, a soberba e o orgulho. Tendo cumprido esta ação, da mesma forma lhe é dada a ressurreição e, com ela, a vida eterna. A ressurreição e a vida eterna correspondem, por sua vez, à realização, nos textos, em níveis mais profundos, do fazer emissivo e da continuidade da continuidade, equivale à síntese dialética, após a série de transformações por que passa o sujeito. O mito cristão, portanto, constantemente promove a mobilização do sujeito, levando-o a uma constante reavaliação do seu modo de vida e à transformação para que se adéquem aos valores propostos nos Evangelhos. Os cristãos católicos, ortodoxos e anglicanos, por sua vez, bem como alguns outros grupos, podem experimentar a ressurreição no sacramento da Eucaristia, o qual se apresenta como um microcosmo das narrativas dos Evangelhos. Esta vivência sacramental visa, ao lado da leitura das Escrituras, colocar os cristãos em contínua reflexão sobre suas ações para que possam verificar, ainda durante a realização de seu programa narrativo, a sanção que lhes seria dada pelo destinador figurativizado pela divindade. Este trabalho visa, portanto, analisar os textos dos Evangelhos canônicos acerca da paixão, morte e ressurreição de Jesus, conforme a tradução da Bíblia de Jerusalém (2002) numa perspectiva da Teoria Semiótica Greimasiana, como proposta no Dicionário de Semiótica (GREIMAS e COURTÉS, 2008) e seus posteriores desenvolvimentos realizados por Fontanille e Zilberberg (2001), Panier (2010) e Zilberberg (2006a, 2006b, 2011). As reflexões acerca do mito são dadas principalmente por Campbell (2002, 2008b), Eliade (2010) e Lévi-Strauss (1976, 1985). Por sua vez, as reflexões teológicas e exegéticas dos textos tem como base, principalmente, Boff (2012a, 2012b), Grün (2009, 2011a, 2011b, 2012a e 2012b) e Leloup (2000, 2007). === The canon of the New Testament, by Matthew, Mark, Luke and John, constitutes the core of the biblical New Testament, and corresponds to the founding texts of the Christian myth. Utilizing manipulation strategies, these texts invite the reader to believe in the faith they present, whose referential center is the figure of Jesus. By narrating their actions and speeches, the texts mobilizes the reader to believe in their contents and in the set of values communicated by them, values that are treated as euphoric by the discursive semantics, to the detriment of opposite values which are, therefore, dysphoric. Among these values, there are the established power structures both religious and political , while they represent means to hamper human freedom and hinder thorough and peaceful coexistence of human beings with each other and their Creator. Once inserted in the presented universe of beliefs, the reader is directed to perform a narrative program, similar to that performed by Jesus in the texts: a series of actions that culminate in the conjunction of eternal life as a valuable object. Eternal life is reached by Jesus, according to the texts, after His self-sacrifice for the absolution of humanitys sins. Equally, a sacrifice is proposed to the reader; this sacrifice is not identical to Jesus, but it is identified as the abandonment of values that are harmful to humanity itself, as injustice, presumption and pride. Having completed this action, in the same form, the reader is given resurrection and, with it, eternal life. In the texts, resurrection and eternal life thus correspond to the accomplishment, in deeper levels, of emissive doing and of continuity of continuity, and equals to dialectic syntax, after a series of transformations which the subject suffers. The Christian myth, therefore, constantly promotes the mobilization of the subject, leading him/her to a constant revaluation of his/her lifestyle and to the transformation to meet the values proposed in the Gospels. The Catholic Christians, both Orthodox and Anglican, as well as some other groups, may experience resurrection in the sacramental rite of Eucharist, which presents itself as a microcosm of Gospels narratives. This sacramental experience, paired with the reading of the Gospels, aims at putting Christians into continuous reflection in order to verify, while still performing their narrative program, the sanction that would be given to them by the destinator represented by the deity. This research therefore aims to analyze the texts of the canonical Gospels on the passion, death and resurrection of Jesus, as the translation of the Jerusalem Bible (2002) perspective Greimasian Semiotics Theory, as proposed in Semiotics Dictionary (Greimas and Courtes, 2008) and its subsequent developments made by Fontanille and Zilberberg (2001), Panier (2010) and Zilberberg (2006a , 2006b, 2011). The reflections on the myth are mainly given by Campbell (2002, 2008b) , Eliade (2010) and Lévi- Strauss (1976, 1985). In turn, the theological and exegetical reflections of texts is based mainly Boff (2012a, 2012b ), Grün (2009, 2011a, 2011b, 2012a and 2012b) and Leloup (2000, 2007).
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