Summary: | Entre as pretensões deste trabalho, situa-se a construção de instrumentos interpretativos com base em confluências dos pensamentos de Nelson Goodman, John Dewey e Ludwig Wittgenstein no âmbito da epistemologia, a fim de ir ao encontro dos méritos destas filosofias para a liberação de modos valiosos de relacionamento com os saberes científicos. Tais modos, até aqui, têm sido majoritariamente negligenciados pela educação em ciências. O uso desses instrumentos permitirá compreender que - como um dos resultados mais característicos que se seguem da montagem da civilização atual - a legitimação pública do empreendimento científico se fez ao preço do estreitamento nos modos de ver a ciência, a ponto de impedir a apreciação do seu rico potencial de significados. A relação do homem comum com a ciência segue, hoje, obediente ao comando de demonstrações ruidosas da técnica, sob a fascinação de objetos e formas de vida que simbolizam seus êxitos de manipulação e reprodução. Alinhadas com esta tendência, as expectativas das sociedades modernas voltam-se mais e mais para uma instrução comprometida com a preparação de indivíduos funcionais, capazes de fazer aplicação objetiva e eficiente de procedimentos para o fim de materializar produtos e serviços com valor de mercadoria. Este processo marca o domínio simbólico com a construção de um particular sistema de símbolos que, ao se consolidar, remove os vestígios da experiência do sítio do conhecimento científico. Com o propósito de restaurar a continuidade entre ciência e experiência, deve-se lançar luz sobre as interações fecundas que os significados singulares efetivados no curso da prática da ciência mantêm com a estrutura sistemática abstrata que emerge como sua forma acabada. Para fechar esse hiato, aposta-se na articulação de uma concepção educacional aberta à apreciação estética dos artefatos simbólicos da ciência. A transição de uma leitura da física dominada por suas conseqüências técnicas para outra que também captura seus modos de funcionamento estético é feita por intermédio da analogia que aqui se demonstra existir entre dois processos, a saber, aquele em que a visão estética de um artefato da física se estabelece nas mediações educativas e o percurso da apreciação das performances de uma obra musical. Desta analogia, irá se configurar uma imagem do ensino de física como arte de performance. === Among the intents of this work lies the construction of interpretive instruments based on confluences of the thoughts of Nelson Goodman, John Dewey and Ludwig Wittgenstein in the domain of epistemology, in order to find the results these philosophies yield concerning the liberation of valuable modes of relationship with the lore of science. Such modes thus far have been mostly neglected by science education. Using these instruments allows seeing that--as one of the most characteristic aftermaths that follow from the mounting of current civilization--the public legitimacy of scientific enterprise has been consummated at the price of a squeezing in the ways of seeing science, to the point of blocking the appreciation of its wealth of potential meanings. Nowadays, the transactions of the ordinary person with science go obedient to the command of loud demonstrations of the technique, under the fascination of objects and ways of life that symbolize its successes in manipulation and reproduction. Aligned with this trend, the expectations of modern societies turn more and more to an instruction committed to preparing functional individuals, so as to enable them to carry out objective and efficient implementation of procedures aimed to materialize products and services which stamp market value. This process marks the symbolic realm with the construction of a particular symbol system that, once it is entrenched, removes all traces of experience from the scene of scientific knowledge. For the purpose of restoring the continuity between science and experience, it must be shed light on the fruitful interactions that the singular meanings established in the course of the scientific practice maintain with the abstract systematic structure that emerges as its completed form. In order to fill that gap, the proposed strategy is to articulate a conception of scientific education open to the aesthetic appreciation of symbolic artifacts of science. The transition from one rendering of physics dominated by its technical consequences to another which also grasps its aesthetic modes of working is guided through the analogy which is shown to exist between two processes, namely, one over which the aesthetic vision of an artifact of physics is being established in educational mediations and the course of the appreciation of performances of a piece of music. By taking the route this analogy suggests, a picture of physics teaching as a performance art springs out.
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