Summary: | Esta Tese de Doutoramento pretende aclarar alguns aspectos da obra do escritor Júlio Dinis bem como introduzir algumas inflexões analíticas que, até ao momento, não se encontram no escopo crítico literário. Faz-se um levantamento de alguns posicionamentos narrativos, criticamente observados no âmbito da literatura portuguesa, e procura-se renovar a imagem das relações literárias estabelecidas com alguns escritores portugueses. No âmbito comparatista, dado que nos romances de Júlio Dinis se estabelece uma inquestionável ligação às literaturas inglesa e irlandesa (de notar que o escritor era filho de mãe inglesa e neto de avós inglês e irlandesa), decorrendo das temáticas comummente trabalhadas são chamados a este os escritores Laurence Sterne, Oliver Goldsmith, Henry Fielding, Jane Austen e Charles Dickens. O inovador tratamento psicológico atribuído por Júlio Dinis ao sujeito e à sociedade na literatura do século XIX português aprofunda claramente as raízes na tradição literária inglesa do século XVIII. Este tratamento esforça-se por aproximar as classes sociais a partir das relações individuais e, lutando pela ordem e justiça que integra um quadro de valores morais, torna-se manifesto o esboço da utopia social. Os recursos da influência literária inglesa no trabalho dinisiano são vários: a pintura é utilizada como processo intersemiótico de incentivo à auto-estima do leitor; a perspectiva judicativa, quer aplicada pelo sujeito, quer pela sociedade, expõe-se como o indesejável constrangimento que só a metamorfose psicológica consegue ultrapassar; a mundivisão do teatro na vida, e da vida no teatro é promotora do permanente esforço de utilização da máscara; invoca-se a androginia que, aplicada às personagens femininas, pretende claramente conferir especiais atributos à mulher; o corpo e a casa apresentam-se como linguagem do pensamento; (...).
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