Summary: | A presente tese explora a relação entre o trabalho, a incerteza psicossocial e o coping com
incerteza, e o seu impacto na participação sociopolítica e extremismo através de um design
explicativo sequencial baseado em métodos mistos. É composta por dois estudos quantitativos
e dois estudos qualitativos, sequenciais, para proporcionar uma compreensão aprofundada
destes constructos. Baseado numa amostra comunitária de conveniência (N=704), o primeiro
estudo desenvolve um modelo teórico da relação entre os benefícios manifesto e latentes do
trabalho, a incerteza psicossocial (interação entre a perceção de incerteza no contexto social e
a sua experiência psicológica), e o coping com a incerteza. Resultados de um Modelo de
Equações Estruturais (MEE) demonstram que a experiência do trabalho e a incerteza
psicossocial explicam a adoção de estratégias emocionais de coping em 70%, apoiando uma
conceptualização psicossocial da incerteza que considera circunstâncias socioecónomicas,
culturais e políticas na sua origem. A diferença entre as experiências de trabalhadores
permanentes, precários e desempregados é explorada, demonstrando que o modelo explica
melhor as experiências de participantes desempregados. Este é um estudo longitudinal que
acompanha a crise em Portugal, na sequência da crise financeira global, ao longo de dez anos
(em 2009, 2014, e 2019), demonstrando o impacto deste contexto macrossocial na experiência
da incerteza psicossocial e suas consequências no trabalho, bem como o efeito do desemprego
e precariedade. Com base nestes resultados, o segundo estudo foca-se nas variáveis que mais
contribuíram para o modelo. Usando uma amostra comunitária de conveniência (N=633), este
estudo explora o impacto do acesso financeiro, incerteza psicossocial e coping emocional na
agência pessoal, controlo sociopolítico e orientação para a dominância social. O MEE indica
que a privação financeira e elevados níveis de incerteza psicossocial têm um efeito negativo na
agência (confirmando a tese da restrição da agência), bem como no controlo sociopolítico e nas
crenças de dominância social. Assim, a desigualdade pode ter um impacto na participação
sociopolítica, contribuindo para movimentos de extremismo e populismo. Os estudos
qualitativos baseiam-se em dois grupos de discussão focalizada - GDF (um com representantes
políticos/comunitários e outro com psicólogos) nos quais os resultados quantitativos foram
apresentados e discutidos. Através destes GDF, implicações sociopolíticas são debatidas, bem
como direções para a prática e investigação psicológicas. De um modo geral, a tese contribui
para uma reflexão crítica sobre políticas ao nível do desemprego e precariedade, defendendo
uma reformulação do trabalho no sentido da sua maior segurança. Defende também o
reconhecimento das responsabilidades da psicologia na contribuição para a justiça social,
através de uma perspetiva ecológica e política que possa contribuir para o desenvolvimento
vocacional/profissional e para o empoderamento psicológico através da conscientização.
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