Summary: | Nesta tese analisam-se as transformações nas práticas docentes de professores que
trabalharam no Programa Autonomia - uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho
(FRM) e a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC), Brasil, que
visava a aceleração de estudos para a conclusão da Educação Básica de alunos em
defasagem idade-série - entre 2009 e 2015, tendo como referência a Metodologia
TelessalaTM. Sem nunca ter sido nossa intenção elegê-la como um "ideal", assumimos
para esta investigação - inserindo-nos dentro do paradigma sócio-crítico -, uma
abordagem qualitativa, com recurso ao estudo de caso, a partir da realização de entrevistas
individuais semiestruturadas, grupos de discussão focalizada e uma breve análise
documental, interpretadas utilizando a técnica de análise de conteúdo.
As afirmações dos dezessete professores e três representantes da Fundação
Roberto Marinho (FRM) indicam que o modelo de educação bancária (Freire, 1987)
trabalhado no ensino regular não os desafiava pedagogicamente, afirmando que as suas
práticas são claramente marcadas pelo antes e depois da vivência do Programa
Autonomia, pois passaram a organizar situações que reconhecem a singularidade do perfil
dos alunos, na luta por uma escola inclusiva e democrática. Neste sentido, destaca-se
como contributos para a transformação da sua prática didática a partir do trabalho com a
Metodologia TelessalaTM a unidocência, não só por possibilitar o trabalho interdisciplinar,
dialógico, visando aprofundar a complementaridade/complexidade dos conteúdos
curriculares, mas por posicionar o professor como problematizador do contexto em que a
comunidade escolar se insere, valorizando os conhecimentos prévios dos estudantes, sem
o qual a produção de significados fica comprometida. Uma vez que os sujeitos relatam
não identificar mudanças significativas na formação inicial de professores, destacam a
formação continuada como um contributo, esta se tornando imprescindível para garantir
a reflexão sobre novos paradigmas pedagógicos, através dos quais essas mudanças se dão.
Há possibilidades de melhoria qualitativa do processo de ensino-aprendizagem
em contextos de elevados índices de reprovação e evasão escolar, a partir do trabalho com
a Metodologia TelessalaTM, já que essa mudança fez com que professores acomodados
resgatassem o sentido do início de carreira, e os que pensavam em se aposentar se
realizassem profissionalmente - alguns tendo assumindo o papel de coordenadores
pedagógicos/ diretores de escola. A resposta ao "fracasso escolar" é uma resposta não só
pedagógica, mas política. Para isso, a escola precisa ter como prioridade o princípio da
educabilidade, de que todos os alunos são capazes de aprender. Esta alteração
paradigmática que implica a transformação das práticas docentes não é exclusiva da
Metodologia TelessalaTM: essa mudança já vem ocorrendo, nos inéditos viáveis (Freire,
P., 1987) de outras experiências bem sucedidas com pedagogias inovadoras em
andamento no Brasil e no mundo.
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