Summary: | Têm-se realizado muitos estudos sobre tomada de decisões, designadamente sobre os
processos de escolhas intertemporais. O que os resultados desses estudos mostram é que
as pessoas em geral evitam o risco quando têm de escolher entre opções associadas com
resultados prováveis vs. resultados certos e o intervalo de tempo entre a escolha e a
concretização do ganho/prejuízo é um fator importante na decisão, preferindo-se receber
ganhos mais cedo e prejuízos mais tarde. Todavia, poucos estudos se debruçaram sobre
as especificidades decisionais de indivíduos com traços acentuados de personalidade
psicopática e apenas um investigou as decisões intertemporais nestes indivíduos. A
literatura evidencia que na psicopatia estão afetados processos fronto-límbicos que podem
estar na base de padrões de desinibição e de impulsividade, afetando a forma como estes
indivíduos tomam decisões e as organizam temporalmente. Neste trabalho pretendia-se
analisar os padrões de escolha intertemporal em pessoas de elevada psicopatia e
relacionando tais padrões com mecanismos de perceção temporal, recorrendo quer a
medidas comportamentais quer a dados neurofisiológicos. Foram realizados sete estudos
empíricos e, no geral, os dados sugerem que quanto maior é a desinibição, maior é a
tendência para subestimar o tempo na condição emocional desagradável na tarefa de
estimativa temporal e que existe subprodução temporal na condição neutra e
sobreprodução temporal nas condições emocionais agradável e desagradável, na tarefa de
produção temporal. O oposto verificou-se na tarefa de reprodução temporal, em que se
verificou uma subreprodução temporal nas condições emocionais agradável e
desagradável e sobrerreprodução temporal na condição neutra e se observou que
indivíduos com traços psicopáticos de desinibição mais vincados são orientados para a
obtenção de ganhos de menor valor imediato, na tarefa de decisões intertemporais.
Compreender a razão de os indivíduos de elevada psicopatia negligenciarem fortemente
as consequências futuras é o passo primordial para o desenvolvimento de intervenções
específicas para alterar este comportamento, que acarreta consequências negativas para o
dia a dia e para as relações interpessoais. Os programas de tratamento poderiam utilizar
estratégias de intervenção que manipulassem o atraso temporal das recompensas ou que
restruturassem cognitivamente a perceção das escolhas intertemporais. A intervenção
poderia, igualmente, ser capaz de alterar diretamente o sistema de temporização que, por
sua vez, iria afetar profundamente a forma como os indivíduos processam recompensas
de atraso e estruturam o comportamento para as ações de promoção de saúde.
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