Summary: | A inexistência de um lastro de conhecimento próprio da nossa cultura que pudesse
interligar o material e a sua aplicação em obra encaminhou o este trabalho para a
recuperação e registo da forma como a madeira foi utilizada nas construções em
Portugal, entre finais de oitocentos e final do século XX, com três objetivos
principais: conhecer a construção em madeira que se fez em Portugal, desmontar
mitos e preconceitos que existem contra um uso mais generalizado da madeira e
contribuir de forma inequívoca para as práticas de projeto contemporâneas.
Em Portugal, enquanto as questões eminentemente técnicas relacionadas com o
estudo da madeira para a construção civil foram e têm sido tratadas particularmente
pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil que, após a sua inauguração,
precisamente em 1947, passou a ter um departamento dedicado à investigação da
madeira, o estudo da arquitetura em madeira, tendo em conta os sistemas
construtivos aliados a questões formais e de linguagem, não foi um tema
amplamente desenvolvido em Portugal.
Se, em finais de oitocentos, o uso da madeira na arquitetura, nomeadamente na
habitação, não se caracterizava pela visibilidade da estrutura em madeira e,
frequentemente, os acabamentos realizados com aquele material eram pintados por
razões ligadas à tradição de uma prática construtiva mas também por razões que se
prendiam com a durabilidade do material, em finais do século XX verifica-se uma
situação contrária, ou seja, as estruturas não são realizadas em madeira mas a
vontade de recuperar o seu uso verifica-se sobretudo ao nível dos revestimentos
exteriores, o que faz aumentar a visibilidade daquele material na obra de arquitetura.
Todavia, mantém-se a desconfiança em relação ao uso da madeira por se utilizar
aquele material de forma errada, levando muitas vezes à utilização de materiais que
imitam a expressão da madeira, o que contribui para que a sua visualidade se mantenha
ainda ténue ou quase inexistente no plano da compreensão coletiva.
Por conseguinte, se inquietava a recuperação do 'gosto' pela madeira e
consequente recuperação da sua utilização na arquitetura contemporânea, também
nos suscitava o interesse pela evolução da construção da arquitetura em madeira
em Portugal, por nos parecer primordial ordenar esta área de conhecimento com
capacidade de comprovar o quão importante tem sido o uso da madeira não só na
Europa mas também em Portugal.
Enquanto as publicações europeias tiveram a virtude de associar os dois mundos,
o eminentemente técnico e, simultaneamente, a aplicação da madeira na obra de
arquitetura, o estudo sobre a arquitetura em madeira realizada em Portugal foi alvo
de investigação apenas na segunda metade do século XX, provenientes da
etnografia e da antropologia, da agronomia e, mais tarde, da arquitetura, sobre um
conjunto de realizações em espaço rural. Porém, a arquitetura de madeira não se
encontra apenas circunscrita às práticas construtivas realizadas em espaço rural.
A partir desse ponto, foi colocada a hipótese que motivou este trabalho: como seria
então a arquitetura em madeira dos novos programas emergentes na cidade, para
além do uso da madeira na construção corrente da habitação urbana, de carácter
mais tradicional? Terão existido também em Portugal construções onde a estrutura
fosse integralmente de madeira maciça, visível tanto no espaço interior como no
exterior em espaço urbano?
Dois caminhos revelar-se-iam apropriados para alcançar os resultados da tese: o
primeiro tentaria inventariar e registar como se caracterizou a arquitetura em
madeira em Portugal a partir do final do século XIX em espaço urbano, algo que
não tinha sido jamais registado; o segundo procuraria saber de que modo a madeira
foi utilizada na arquitetura e na construção de edifícios no sentido de formular um
campo de investigação também em Portugal.
Decorrente deste facto, colocou-se uma interrogação que deu origem ao início
deste trabalho: o que teria acontecido à madeira no momento em que o ferro foi
utilizado numa obra paradigmática na paisagem urbana do Porto como o caso da
Ponte Maria Pia, colocando a visibilidade, pela sua novidade e expressividade, no
uso do ferro? === By noticing the nonexistence of a proper basic knowledge in our culture that would
make the connection between the material and its application in architectural
design and construction, our work was guided to recover and record how wooden
construction evolved in Portugal between the end of the nineteenth century and final
of the twentieth century with three main goals: to know how wooden architecture
has been done in Portugal, dismantle myths and biased ideas which restrict a
widener wooden use and finally, contribute unequivocally to the contemporary
architectural design practice.
While the strictly technical questions related to the wooden knowledge for the civil
engineering were carried out by the national laboratory of civil engineering -
LNEC - that after its inauguration had a specific department to research the wood
as a building material, the issues related to the form and architectural language
connected with the constructive aspects were not widely developed in Portugal.
If in the late nineteenth century the use of wood in architecture, particularly in urban
housing, was characterized by its invisibility, both in structure, by cladding, and in
finishing, by painting, due to the traditional building practices and also to increase
the durability of wood, and, in the late twentieth century, we find an opposite
situation characterized by the desire to recover the use of wood and its visibility
mainly in exterior cladding.
However, suspicion about the use of wood remains particularly by using timber
incorrectly that often propels the use of mimetic materials instead of wood or
engineered wooden products, contributes for the wooden visibility but compromises
which compromises its visuality within the collective apprehension.
Therefore, the concern caused by the increased enjoyment in using timber in the
building construction and subsequent recovery of its indiscriminate use in
contemporary architecture made us think that it would be relevant to study the
evolution of wooden architecture in Portugal because sorting a set of dispersed
knowledge on that subject may prove the importance of the use of wood in European
building as well as in national building.
While European publications had the virtue of linking the two worlds, a
specifically technical approach and, simultaneously, the application of wood in
architectural work, the specific study of wooden architecture held in Portugal had
disciplinary origin in ethnography that investigated the building construction on
the Atlantic coast, especially in the second half of the twentieth century.
The visibility of the wood continued, even if indirectly, on the publication of popular
architecture in Portugal, published by the National Union of architects, but we
suspected that also wooden buildings were constructed in urban areas.
From there we immediately set our hypothesis that motivated our work: how to
characterize the wooden architecture of the new emerging programs in the city, beyond
the current use of wood in construction of urban housing? Also existed in Portugal
constructions where the structure was entirely of solid wood, visible both inside and
outdoors in urban areas?
Two paths would prove to be appropriate to achieve the expected results of the thesis:
the first, to attempt identifying and recording the wooden architecture held in Portugal
in urban areas, from the late nineteenth century, something that had not ever been
recorded; the second, seek to know how wood has been used in architecture and
building construction in order to formulate a field of research also in Portugal.
A general question guided our work: what happened to the use of wood in the city of
Porto, when iron was used in a paradigmatic work of engineering such like Maria Pia
Bridge, by placing social visibility in the use of iron thru its novelty and
expressiveness?
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