As interações de trabalhadores/as do sexo e forças policiais: confrontando perspetivas

O trabalho sexual constitui um fenómeno complexo e engloba diversos contextos, práticas e atores. O atual modelo legislativo corresponde a um vazio legal, onde se ignora a existência da atividade e se negam direitos e poder reivindicativo aos seus profissionais, excluindo-os da esfera social e priva...

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Bibliographic Details
Main Author: Cátia Isabel Paixão Baptista
Other Authors: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
Format: Others
Language:Portuguese
Published: 2021
Subjects:
Online Access:https://hdl.handle.net/10216/130734
Description
Summary:O trabalho sexual constitui um fenómeno complexo e engloba diversos contextos, práticas e atores. O atual modelo legislativo corresponde a um vazio legal, onde se ignora a existência da atividade e se negam direitos e poder reivindicativo aos seus profissionais, excluindo-os da esfera social e privando-os do exercício da cidadania. O envolvimento no trabalho sexual acarreta violência e estigma para os seus profissionais, assentes em conceções morais da sexualidade, e condiciona o seu acesso a serviços públicos, como o sistema de Justiça. Dada a escassez de investigação sobre esta temática, o presente estudo visou analisar e compreender as interações de profissionais do sexo com os agentes policiais, através das suas próprias perceções sobre temas como a legislação inerente ao trabalho sexual, e a intervenção das forças policiais junto dos/as trabalhadores/as do sexo. Para tal, utilizou-se uma metodologia qualitativa, assente em oito entrevistas semiestruturadas (quatro profissionais do sexo e quatro agentes de autoridade), as quais foram sujeitas a Análise Temática. Os resultados sugerem o reconhecimento da complexidade do trabalho sexual, pela variedade de contextos, atores e motivações associadas. Os agentes de autoridade percecionam-no, quer como um trabalho, quer uma forma de exploração, e desaprovam mais as mulheres do que os homens que o exercem. O trabalho sexual é descrito como altamente estigmatizado, e associado à violência, por parte quer do público, quer das próprias autoridades policiais. Todos os entrevistados vêm o atual enquadramento legal como desadequado e a sua regulamentação desejável por combater a violência e a exploração, e por constituir um direito e um dever dos profissionais que o exercem. Apesar dos agentes das forças policiais entrevistados percecionarem a sua intervenção como adequada e uniforme, vários participantes relatam a existência de atitudes discriminatórias nas interações, corroborando a influência das conceções pessoais nas suas intervenções. Os agentes de autoridade referem ainda a falta de formação específica para a intervenção com profissionais do sexo. Assim, entre as implicações práticas do estudo, salienta-se a necessidade de formação específica das forças policiais para as especificidades dos/as profissionais do sexo, visando a promoção de uma intervenção mais informada e adequada.