Summary: | Abordar o tema da autonomia e responsabilidade em educação da infância justifica-se porque
ainda há um vasto e promissor campo de estudo nesta área. Observam-se atualmente diversos
documentos orientadores, bem como teorias e estudos científicos que preconizam a
importância da autonomia em contexto escolar, mas pouco se sabe acerca de como esta é
promovida na prática do jardim-de-infância. Encontramos no Movimento da Escola Moderna
(MEM) essa oportunidade. Existe um clima de coparticipação, e de crítica análise, onde
educador e educandos trabalham em conjunto, cada um com seu papel de protagonismo
reconhecido. No MEM a palavra cooperação é familiar a todos. Trata-se de um movimento
que reconhece a importância de apoiar a capacidade da criança de ser autónoma e responsável
no seu próprio processo educativo. Para tanto, o estudo tem como objetivo geral entender
como se estimula e desenvolve a autonomia e a responsabilidade numa sala de jardim-de-
infância (JI) do MEM. Outros objetivos foram observar a rotina da sala e identificar os
principais momentos que promovem autonomia das crianças, e identificar e analisar quais
instrumentos e mecanismos da rotina permitem uma atitude autónoma das crianças. O
presente estudo consiste numa pesquisa de caráter qualitativo, a partir de um estudo de caso
que incluiu observações naturalistas em contexto. A recolha de dados foi realizada ao longo
de quatro meses com um grupo de crianças num JI no grande Porto, tendo a Educadora
responsável uma longa experiência no trabalho com o MEM. Foram também realizadas
entrevistas às crianças e à Educadora responsável pelo grupo. As categorias iniciais
basearam-se na teoria da autodeterminação, sendo criadas categorias novas através de um
processo de análise iterativo das informações colhidas. Foram identificadas as seguintes
categorias: rotina e espaço, (relacionadas com a estrutura da sala) tarefas e pares
(relacionadas com as funções das crianças), confiança, scaffolding e observação atenta
(relacionadas com as atribuições da Educadora). Concluiu-se que no ambiente facilitador
observado, autonomia e responsabilidade foram conceitos amplamente estimulados e
desenvolvidos. O grupo de crianças e a sua Educadora trabalham em conjunto, conscientes
da importância de cada um para o coletivo e atuando com cooperação. Além disso, foi
possível concluir que autonomia e responsabilidade não são sinónimo de liberdade sem
limites ou desorganização. Pelo contrário, foram várias as evidências da estruturação e
autonomia do grupo inclusive em situações de ausência física da Educadora.
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