Summary: | Introdução:
As neuropatias ópticas têm várias etiologias possíveis e, por vezes, o diagnóstico estabelecido ab initio é redefinido após novas investigações e/ou novos eventos neurológicos.
Neste estudo, pretendemos identificar possíveis factores preditivos que possam ditar essa mudança de diagnóstico durante o seguimento.
Métodos:
Analisámos retrospectivamente os registos médicos de 156 doentes internados com neuropatias ópticas no Departamento de Neurologia do Centro Hospitalar Universitário de São João, entre Janeiro de 2004 e Agosto de 2019. Foram analisados dados clínicos, laboratoriais e imagiológicos, protocolos de tratamento e dados relativos à evolução clínica dos doentes durante o tempo de seguimento do estudo.
Resultados:
No momento da alta do internamento, a nossa coorte era composta por 83 doentes com neuropatias ópticas idiopáticas (53,2%), 38 com nevrites ópticas relacionadas com esclerose múltipla (24,4%), 23 com neuropatias ópticas isquémicas (14,7%), 5 com nevrites ópticas relacionadas com doença do espectro da neuromielite óptica (3,2%) e 7 com outros diagnósticos (4,5%). Durante o seguimento, 129 doentes mantiveram o diagnóstico de alta do internamento (82,7%) enquanto que em 27 o diagnóstico foi redefinido durante o tempo de seguimento (17,3%). Nestes últimos, o tempo médio entre a admissão e a mudança no diagnóstico foi de 12,3 (5,4 - 42,9) meses. A análise multivariada (Regressão de Cox) demonstrou que os pacientes com neuropatia óptica atípica (presença de um dos seguintes achados clínicos: envolvimento ocular bilateral, acuidade visual ≤ 0,1 na admissão, agravamento ou recuperação não-substancial da acuidade visual durante o internamento) tinham menor risco de ter o seu diagnóstico inicial alterado durante o seguimento (HR = 0,320, 95% CI = 0,138-0,743, p = 0,008).
Conclusão:
O nosso estudo demonstra que alguns doentes admitidos com neuropatias óticas podem ter o seu diagnóstico redefinido durante o seguimento. Além disso, verifica que os doentes com neuropatias ópticas atípicas têm menor propensão a alterar de diagnóstico durante o seguimento. === Purpose:
Optic neuropathies (ON) have several aetiologies and sometimes the diagnosis established ab initio is redefined after further investigations and/or new neurological events.
We aim to identify possible predictive factors that may dictate that diagnostic change during follow-up.
Methods:
We retrospectively reviewed the medical records of 156 patients with ON admitted to the ward of our Neurology Department, between January 2004 and August 2019. Clinical, laboratory and imaging data, as well as treatment protocols and follow-up were analysed.
Results:
At the time of discharge from the ward, our cohort comprised 83 idiopathic ON (53.2%), 38 multiple sclerosis-related ON (24.4%), 23 ischemic ON (14.7%), 5 neuromyelitis optica spectrum disorder-related ON (3.2%), and 7 with other diagnoses (4.5%). During follow-up, 129 patients retained the ward's discharge diagnosis (82.7%) while in 27 it was redefined (17.3%). The median time between admission and change in diagnosis was 12.3 (5.4 - 42.9) months. Multivariate Cox regression analysis demonstrated that the patients with atypical optic neuropathy (presence of one of these clinical findings: bilateral eye involvement, visual acuity ≤ 0.1 at admission, worsening or non-substantial recovery of visual acuity during hospitalization) had lower risk of having the initial diagnosis changed (HR = 0.320, 95% CI = 0.138-0.743, p = 0.008).
Conclusion:
Our study illustrates that some patients admitted with optic neuropathy may have their diagnosis redefined during follow-up. Furthermore, it demonstrates that patients with atypical ON are those in which the diagnosis is more likely to remain during follow-up.
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