Summary: | Procurou-se compreender de que modo o conceito de 'novos públicos' é construído
discursivamente e convocado pelas estratégias de gestão do acesso das Instituições de
Ensino Superior portuguesas (IES). No contexto de diferentes desígnios para alargar
este nível de ensino a um maior número de pessoas, importa abordar o desenvolvimento
do ensino superior em Portugal e a gestão da sua massificação, a partir da teoria do
discurso. Laclau e Mouffe colocam em evidência as lutas pela hegemonia na sociedade
contemporânea: reconhecem-se diferentes esforços para tornar dominante uma dada
visão da realidade, entre outras possíveis, ainda que de modo temporário. O 'problema'
aqui abordado diz respeito ao modo como o conceito de 'novos públicos' é construído e
convocado nas estratégias de gestão do acesso das IES, contribuindo para compreender
como as instituições legitimam e justificam iniciativas e processos. Optou-se por
enveredar pelo embedded multiple case design (Yin, 2003), devido à estrutura do
sistema de ensino superior português. Os contextos de investigação selecionados nesta
pesquisa correspondem, então, a quatro IES portuguesas, selecionadas de acordo com 3
critérios: 1) subsistema de ensino superior (público ou privado) 2) tipo
(universitário ou politécnico) e 3) localização geográfica. Um quarto critério que guiou
a seleção dos contextos de investigação tem que ver com o número de inscritos no 1º
ano e pela primeira vez, no que diz respeito aos estudantes maiores de 23, na medida em
que este critério fornece pistas sobre a relação de cada instituição com um dos grupos de
estudantes considerados como 'novos públicos'. Procurou-se caracterizar de que modo é
fixado o significado do conceito de 'novos públicos', entendido como significante
flutuante. De acordo com a análise levada a cabo na tese, pode concluir-se que as
estratégias das IES estão relacionadas com as suas perspetivas sobre o que é desejável
alcançar no que diz respeito ao acesso Os discursos atuais sobre o acesso nas IES
públicas portuguesas não podem ser devidamente compreendidos sem uma referência ao
que representou o desafio colocado pela crise de 2008 à sociedade portuguesa como um
todo, e que também interpelou a educação. A nível principal, identificam-se estratégias
que se legitimam através do discurso 'manpower' combinado com o discurso da
equidade. Ou seja, mesmo sob a hegemonia das perspetivas inspiradas pela NGP,
observa-se a combinação desses dois discursos centrais. Esta combinação emerge como
determinante do planeamento estratégico das IES dirigido ao acesso.
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