Drogas e expectativas sexuais. Impacto das expectativas acerca do efeito do consumo de opiáceos na sexualidade

• Main Author: Sílvia Maria da Rocha Ribeiro
• Other Authors: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
• Format: Others
• Language: Portuguese
• Published: 2020
• Subjects: Psicologia; Psychology; Ciências sociais::Psicologia; Social sciences::Psychology
• Online Access: https://hdl.handle.net/10216/121024

A análise compreensiva dos comportamentos humanos conflui na produção de conhecimentos que agilizam a definição de estratégias de prevenção, tratamento e redução de danos pautadas pela eficiência e eficácia porque alicerçadas cientificamente, sólida e empiricamente validadas. Domínios como a sexualidade e a toxicodependência povoam as discussões de diferentes sociedades e, nas últimas décadas, da comunidade científica. A revisão da literatura efetuada permitiu comprovar a complexidade destes fenómenos bem como a ainda escassa informação acerca da forma como se relacionam as inúmeras variáveis envolvidas. Na impossibilidade de tudo estudar optamos por centrar o nosso trabalho no contributo de alguns fatores cognitivos, nomeadamente nas expectativas quanto aos efeitos do consumo de opiáceos na sexualidade. É objetivo geral desta investigação avaliar junto de uma amostra representativa de heroinómanos portugueses em tratamento com substituição opiácea (N = 488) as expectativas quanto ao impacto do consumo de heroína no funcionamento sexual, bem como obter a caraterização pormenorizada da atividade sexual deste grupo, estabelecendo uma análise comparativa entre os heroinómanos inseridos em programa terapêutico de substituição opiácea com cloridrato de metadona (substância agonista) e aqueles que estão em tratamento com um agonista parcial, a buprenorfina. Os resultados encontrados destacam, com significância estatística, a função determinante das expectativas enquanto mediadoras do impacto do consumo de heroína na vida sexual. Efetivamente para os heroinómanos a sexualidade e o consumo parecem afigurar-se como entidades indissociáveis: os pensamentos e sentimentos sexuais muitas vezes despoletam o craving; a qualidade dos pensamentos sexuais experienciados quando sob influência da heroína constitui-se como preocupação. Da análise dos resultados obtidos, independentemente de expectativas de impacto favorável e até de uma fase inicial de melhorias no desempenho sexual, o consumo de opiáceos associa-se a consequências negativas na maioria das áreas da vivência e experienciação sexual. Estes danos são mais notórios no consumo de heroína, comparativamente menos nefastos no tratamento com substituição com metadona, sendo os sujeitos medicados com buprenorfina os que apresentam menos compromisso na vivência sexual. Contribuindo desde logo com elementos que facilitam a identificação de vulnerabilidades individuais de relevo a considerar para o desenho de intervenções de prevenção para os comportamentos aditivos e de risco sexual, os dados apurados fundamentam a pertinência da avaliação sexológica como prática fundamental para uma consolidada leitura concetual do trajeto de consumo, para a tomada de decisão quanto à integração em diferentes propostas de tratamento, e mesmo para o desenho do acompanhamento clínico na prevenção da recaída.