Summary: | A aprendizagem ao longo da vida, enfatizada pelo Processo de Bolonha,
evidencia a importância da autonomia do aprendente para uma aprendizagem efetiva,
e para a formação de profissionais ativos. A implementação deste processo apontou
para um paradigma centrado no estudante, operacionalizado por um sistema de créditos
que contabiliza o tempo total dedicado à aprendizagem. A investigação de que este
trabalho dá conta analisou as relações entre a autonomia na aprendizagem de
estudantes do 1º ciclo de engenharia, a carga de trabalho e o desempenho académico,
e identificou sentidos e finalidades que esses estudantes atribuem à autonomia, e o
contributo das atividades curriculares para o trabalho autónomo. Adotou-se uma
metodologia mista, com um plano explicativo sequencial, recorrendo a questionários e
a entrevistas para a recolha de dados. Concluiu-se que os participantes percecionam
níveis moderados de autonomia na aprendizagem, com predominância do controlo, em
detrimento da iniciativa. A autonomia na aprendizagem afeta positivamente o
desempenho, tendo um efeito preditor na classificação média das unidades curriculares
concluídas com sucesso, e é influenciada pela progressão no plano de estudos do
curso, embora de forma lenta e não linear. A carga de trabalho e suas componentes
presencial e autónoma, na base semestral, são sempre inferiores às previstas,
diminuindo com a progressão dos estudantes no curso. Considerando o tempo médio
para a conclusão do curso, a carga de trabalho total aproxima-se da prevista, com a
componente presencial ligeiramente acima, e a componente autónoma claramente
abaixo, não havendo correlação entre ambas. Não há evidências que aumentar a carga
de trabalho melhore o desempenho académico. Há algumas correlações fracas entre a
carga de trabalho e a autonomia na aprendizagem. Os estudantes reconhecem os
professores, o currículo e a instituição como agentes da promoção da autonomia,
havendo algum alinhamento com o preconizado pelo Processo de Bolonha. Contudo, a
esfera de ação do ensino termina nas horas de contacto, ficando o trabalho autónomo
completamente sob a responsabilidade dos estudantes. Como nem todos os estudantes
têm níveis de autorregulação compatíveis com esta responsabilização, a ausência de
algum acompanhamento tem efeitos negativos na carga de trabalho, na aprendizagem
e no desempenho académico. Estes efeitos evidenciam a implementação ainda por
concluir do Processo de Bolonha e a urgência da concretização da mudança de
paradigma educativo que dá suporte às atividades curriculares e à aprendizagem.
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