Summary: | Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior === Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro === Nas últimas décadas, tem sido observado o aumento da oferta de bebidas com elevado conteúdo calórico e com grandes quantidades de açúcar de rápida absorção. Essas bebidas adoçadas, cujo consumo tem aumentado no Brasil assim como em outras partes do mundo, são consideradas fatores de risco para obesidade e diabetes. O consumo de bebidas adoçadas pode levar ao balanço energético positivo e consequentemente ao ganho de peso. Essa associação pode ser explicada pelo mecanismo regulatório de compensação de calorias líquidas. Compensação calórica ocorre quando há redução no consumo de calorias provenientes de alimentos sólidos para compensar as calorias líquidas adicionadas à refeição ou dieta. No entanto, não há consenso em relação a evidências da compensação calórica, dificultando a elaboração de recomendações sobre essas bebidas em saúde pública. Razões para a falta de consenso incluem a diversidade de desenhos de estudos, experimentos realizados em ambientes controlados e não reais em relação ao consumo de alimentos e bebidas, e estudos com amostras pequenas ou de conveniência. Esta dissertação estudou a associação entre bebidas adoçadas e consumo calórico, verificando se calorias de bebidas adoçadas são compensadas em refeições realizadas em um ambiente pragmático. Os dados de consumo calórico de 34.003 indivíduos, com idade igual ou superior a dez anos, foram obtidos pelo Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009, em todo território nacional. Os participantes completaram dois registros alimentares, em dias não consecutivos da mesma semana. Foram selecionadas as refeições dos períodos café da manhã, almoço e jantar de cada indivíduo em cada um dos dias. Para cada refeição, foi calculado o valor calórico de alimentos e de bebidas adoçadas consumidos. Para testar a compensação calórica, um modelo de regressão linear multinível com efeitos mistos foi ajustado para analisar cada período. A variável reposta utilizada foi consumo calórico proveniente de alimentos e a variável explicativa foi consumo calórico de bebida adoçada na refeição. Os efeitos intra-indivíduo da bebida adoçada no consumo calórico foram estimados e interpretados. Esses efeitos são considerados não-enviesados pois são controlados pelas características constantes dos indivíduos, tendo assim o indivíduo atuando como seu próprio controle na análise. Covariadas incluídas no modelo foram variáveis da refeição: local, dia da semana, horário, consumo calórico na refeição anterior e intervalo de tempo desde a última refeição; e do indivíduo: sexo, faixa etária, categoria de Índice de Massa Corpórea e quartos de renda per capita. Efeitos aleatórios dos indivíduos e dos domicílios foram incluídos no modelo para melhor estimar a estrutura de erros de dados correlacionados. A compensação calórica foi de 42% para o café da manhã, não houve compensação no almoço e para o jantar, compensação variou de 0 a 22%, tendo interação com quartos de renda per capita. A conclusão desta dissertação é que as bebidas adoçadas não são completamente compensadas em refeições realizadas em ambiente pragmático. Assim, a redução do consumo de bebidas adoçadas em refeições pode ajudar a diminuir o consumo calórico excessivo e levar a um melhor controle do peso em indivíduos.
=== Over the past decades, an increase has been observed in the availability of beverages that are high in energy and rapidly absorbed sugar. These sugar-sweetened beverages, whose consumption has increased in Brazil as well as in other parts of the world, are considered risk factors for obesity and diabetes. The consumption of sugar-sweetened beverages can lead to positive energy balance and consequently to weight gain. This association can be explained by the compensatory regulation of liquid calories. Caloric compensation occurs when there is a reduction in the caloric consumption derived from solid food to compensate for the liquid calories added to the meal or diet. However, the evidence for a public health policy recommendation remains inconclusive. Among reasons for the lack of consensus are the diversity of study designs, experiments conducted in controlled environments that do not reflect the natural consumption of food and beverages, and the use of small or convenient samples. This dissertation studied the association between sugar-sweetened beverages and energy intake, analyzing if calories of sugar-sweetened beverages are compensated during meals in a pragmatic environment. The dietary data was obtained from the National Dietary Survey 2008-2009, which collected information on food consumption from 34,003 individuals, aged 10 years and older, from within the entire national territory. The participants completed two food records over non-consecutive days of the same week. The meals breakfast, lunch and dinner were identified for each individual on each of the days. For each meal, energy intake from food and sugar-sweetened beverages was measured. To test for caloric compensation, a multi-level mixed-effects linear regression model was adjusted for each meal type. The outcome variable was food energy intake and the explicative variable was energy from sugar-sweetened beverages during the meal. The intra-individual effects of the sugar-sweetened beverages on food energy intake were estimated and interpreted. These effects are considered unbiased because they are controlled by all stable characteristics of the subject, and thus the individual acts as his/her own control in the analysis. Covariates included in the model were the meal variables, such as location, day of the week, time of day, energy intake in the previous meal and time interval since the previous meal. And variables of the subject included sex, age group, BMI category and quartiles of per capita income. Random effects of subjects and of households were included in the model to better estimate the structure of errors within the correlated data. The caloric compensation was 42% for breakfast; there was no compensation for lunch; and for dinner, compensation ranged between 0 and 22%, with significant interaction with quartiles of per capita income. The conclusion of this dissertation is that sugar-sweetened beverages are not completely compensated in meals that take place in a pragmatic environment. Therefore, a reduction in the consumption of sugar-sweetened beverages in meals may help reduce excessive caloric consumption, leading to better weight control.
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